Se até 2030 se instalassem mais 60 milhões de bombas de calor na União Europeia, seria possível reduzir, em média, as despesas de aquecimento em 20 %, ajudando no combate à pobreza energética. Este é um dos dados apresentados por um relatório publicado hoje pela Fundação Europeia do Clima (ECF) e pela Associação Europeia de Bombas de Calor (EHPA), com base num estudo da empresa Cambridge Econometrics, que aponta ainda para outros benefícios sociais, económicos e climáticos neste cenário.

“O que é que significa, realmente, [instalar adicionalmente] 60 milhões de bombas de calor?” é a questão de partida que levou a ECF e a EHPA a publicarem, hoje, o relatório Europe’s leap to heat pumps – the socio-economic and climate benefits unlocked by a fast heat pump roll-out. Segundo esta publicação, há vários benefícios que podem advir da aceleração da implementação de bombas de calor, em consonância com aquilo que é também o objectivo europeu traçado no plano RePowerEU para a eliminação de combustíveis fósseis.

Um dos benefícios apontados pelo relatório está relacionado com a redução da factura energética dos agregados familiares. “Mais bombas de calor e renovações energéticas vão proteger consumidores de choques nos preços de energia e ajudar a retirar pessoas de situações de pobreza energética ao reduzir, em média, as despesas com aquecimento em 20 % até 2030”, refere a EHPA, que acrescenta que isto é possível uma vez que “a operação das bombas de calor é, em média, 30 % mais barata do que a de caldeiras a gás, durante toda a vida [dos produtos]”.

Mas há mais. A publicação sugere que, no que diz respeito ao objectivo de eliminar combustíveis fósseis, a instalação de 60 milhões destes equipamentos, adicionalmente, até 2030 permite diminuir a necessidade de gás nos edifícios em 40 %, em comparação com 2022, resultando também numa queda de 46 % de emissões de dióxido de carbono neste sector e numa redução de 40 % de emissões de óxido de azoto.

Neste cenário, seriam ainda poupados, até 2030, cerca de 60 mil milhões de euros em importações de energia, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis, meta que tem vindo a ser advogada pela União Europeia. De acordo com Stijn Van Hummelen, managing director de Cambridge Econometrics, este “benefício” é particularmente acentuado no caso de “os elevados preços dos combustíveis fósseis persistirem nos próximos anos”. O responsável acrescenta ainda, como vantagem adicional, a possibilidade de se criarem três milhões de empregos associados a esta transição.

“A importância de mudar rapidamente para as bombas de calor nunca foi tão clara. Desde os nossos pulmões até às nossas carteiras, desde o clima até à nossa independência energética, acelerar o afastamento de caldeiras e esquentadores a gás vai trazer vários benefícios. Nós apelamos à União Europeia para que termine a era das caldeiras e dos esquentadores a gás”, sublinha Jozefien Vanbecelaere, Head of EU affairs na EHPA.

Cinco maneiras de acelerar o objectivo

No documento publicado hoje, a EHPA e a ECF apresentam cinco maneiras de facilitar e acelerar a implementação de bombas de calor, bem como a taxa de renovações energéticas. Um dos apelos é, precisamente, acabar com a venda de caldeiras e esquentadores que utilizam combustíveis fósseis. Outras medidas passam por estabelecer padrões mínimos de desempenho energético para melhorar os edifícios, por reduzir impostos sobre a electricidade e as bombas de calor, bem como assegurar apoios a agregados familiares mais vulneráveis. Há ainda uma última proposta para se lançar um plano de acção e uma parceria de competências no que diz respeito às bombas de calor.

Recorde-se que o mercado europeu das bombas de calor tem vindo a crescer, tendo atingindo um recorde de vendas em 2022. No entanto, e como referiu Thomas Nowak, secretário-geral da EHPA, em entrevista à Edifícios e Energia, ainda é necessário reduzir o preço das bombas de calor, o que só será conseguido “através da implementação massiva e da concorrência no mercado”.

O relatório utilizou dados modelados pela Cambridge Econometrics, actualizados a partir de uma versão de 2022, que consideram a adição de mais de 60 milhões de bombas de calor (incluindo 30 milhões de hidrónicas) e comparam este cenário com um cenário de business as usual, em que se mantém uma elevada dependência de caldeiras a combustíveis fósseis.

O documento vai ser apresentado oficialmente durante a tarde de hoje, em Bruxelas, num evento que vai reunir, como oradores, Pim Vercoulen, modelador económico sénior do Cambridge Econometrics, Jozefien Vanbecelaere, responsável pelos EU Affairs da EHPA, Rowena Rodrigues, responsável pelo departamento de marketing e comunicação de Glen Dimplex Heating & Ventilation, e Dimitri Vergne, líder da equipa de sustentabilidade da Organização Europeia de Consumidores (BEUC).