Mais de 20 entidades europeias, entre as quais a ZERO, endereçaram uma carta, no dia 27 de Outubro, ao executivo da Comissão Europeia (CE) com um apelo: antecipar a eliminação de caldeiras e esquentadores a gás para 2025, em vez de 2029, proibindo a venda. Segundo os signatários, esta medida pouparia 8 % das importações de gás da União Europeia.

Não é a primeira vez que surge um manifesto do género. No ano passado, várias entidades pediram, também numa carta com destino à CE, o fim da venda de esquentadores e caldeiras a combustíveis fósseis a partir de 2025. Na altura, a exigência apoiava-se nos dados de um relatório da Agência Internacional de Energia, que aconselhava nesse mesmo sentido. Agora, o apelo das mais de 20 entidades europeias, entre as quais ONGs ambientais, fornecedores de energia e fabricantes de tecnologias renováveis, é semelhante e surge reforçado por novos dados de um estudo do Öko-Institut.

De acordo com a investigação, encomendada pelo Gabinete Europeu do Ambiente no âmbito da campanha Coolproducts, a supressão de equipamentos a gás para aquecimento ambiente e de águas sanitárias, até 2025, permitiria reduzir 320 TWh no consumo de gás no sector residencial da União Europeia. O mesmo estudo diz ainda que esse dado se traduziria também na diminuição de cerca de 8 % das importações de gás na União Europeia, na poupança de 75 Mt de CO2eq até 2030 e na prevenção de um aumento a longo prazo da factura energética.

Recorde-se que, no âmbito do plano REPowerEUa CE tinha mencionado o ano de 2029 como “o prazo limite para a colocação no mercado de caldeiras alimentadas a 100 % por combustíveis fósseis”, bem como os anos de 2025 e 2026 como momentos de reformulação das etiquetas energéticas para colocar estes equipamentos nas classe energéticas mais baixas. No entanto, os signatários argumentam que a data fixada pela CE [2029] dificulta o cumprimento da neutralidade carbónica até 2050. A ZERO, em comunicado, diz mesmo que, “se for permitida a instalação de esquentadores/caldeiras a gás após 2025, a Europa dificilmente atingirá a neutralidade climática em 2050”.

Assim, a carta endereçada à presidente da CE, Ursula von der Leyen, e ao vice-presidente, Frans Timmermans, exige a antecipação da eliminação destes equipamentos a gás ou outros combustíveis fósseis. Em paralelo, solicita a “implantação maciça de tecnologias limpas” como substitutas. Essa substituição deverá passar por tecnologias como “bombas de calor [cujas vendas cresceram 34 % na Europa em 2021], equipamentos a energia solar e, nos locais onde existe, aquecimento urbano central com base em renováveis”, acrescenta a ZERO.

A associação ambiental portuguesa acrescenta ainda que Portugal está na mesma situação e que, para alcançar as metas climáticas com que se comprometeu, deverá ter um impulso político para a “retirada progressiva destes equipamentos do mercado ao longo dos próximos três anos” e para a aplicação das soluções de aquecimento renováveis que já existem.