Duplicar a taxa de implantação das bombas de calor para fins de aquecimento nos lares europeus faz parte da estratégia de Bruxelas para alcançar a independência e a segurança energéticas da Europa, o que representou um verdadeiro apelo à mobilização desta indústria. Instalar dez milhões de unidades nos próximos cinco anos exige um esforço extraordinário nas capacidades produtiva e de investigação e desenvolvimento dos fabricantes, que já anunciaram investimentos superiores a quatro mil milhões de euros para os próximos três anos.
A indústria das bombas de calor está num autêntico frenesim e, segundo a Associação Europeia de Bombas de Calor (EHPA, na sigla em inglês), tem motivos para isso. “A indústria está a reagir a um aumento da procura e às metas definidas pelo plano REPowerEU”, justifica Thomas Nowak, secretário-geral da associação europeia.
A estratégia apresentada em Maio pela Comissão Europeia para, até ao final da década, reduzir a dependência do Velho Continente dos combustíveis fósseis oriundos da Rússia avança com uma ambição sem precedentes para esta tecnologia: duplicar a taxa de implantação de bombas de calor individuais, “no intuito de atingir um total acumulado de dez milhões de unidades nos próximos cinco anos”, sendo que este esforço deve ser acompanhado “de um rápido aumento da produção do equipamento necessário, incluindo, onde for necessário, um acesso facilitado ao financiamento”.
A resposta da indústria ao apelo não tardou. Novos produtos, investimentos em novas unidades de produção e em programas de Investigação e Desenvolvimento (I&D), reforço dos centros de formação dominam os comunicados dos fabricantes do sector do aquecimento e arrefecimento emitidos nos últimos meses. Segundo estima a EHPA, o investimento total anunciado pela indústria para os próximos três anos na Europa ultrapassa já os quatro mil milhões de euros e há um reforço da capacidade produtiva em marcha um pouco por toda a Europa, incluindo em Portugal.
Concretizar este objectivo significa instalar, até ao final da década, mais 30 milhões de bombas de calor hidrónicas (ar-água) nos lares europeus, explica a associação. E, se considerarmos também os sistemas ar-ar, estamos a falar de 60 milhões de unidades adicionais para aquecimento e produção de águas quentes sanitárias (AQS) instaladas, sublinha a mesma fonte.
Thomas Nowak admite que a meta é “ambiciosa, mas exequível”, ganhando balanço no “crescimento constante” do mercado na última década. “Só em 2021, 2,18 milhões de unidades foram instaladas na Europa, um crescimento recorde histórico de 34 % face ao ano anterior”, exclama.

A EHPA estima que existam, actualmente, cerca de 16,96 milhões de unidades de bombas de calor instaladas em toda a Europa, das quais 15,33 milhões são para aquecimento ambiente. Considerando um parque edificado de aproximadamente 120 milhões de edifícios residenciais, isto significa que as bombas de calor representam já 14 % do mercado de aquecimento.
Concretizando-se o plano europeu, a tecnologia passará a ter uma posição dominante neste mercado e a EHPA está convicta de que o esforço feito pela indústria tornará a solução num “produto standard”. Mas, apesar do entusiasmo, o caminho até lá não é linear.
Faz sentido apostar nas bombas de calor?
Porquê esta urgência? A resposta está no contexto actual: a crise da energia desencadeada pela guerra na Ucrânia levou a União Europeia (UE) a pensar seriamente sobre a sua dependência energética. A quebra de confiança naquele que era o seu principal fornecedor de combustíveis fósseis, a Federação Russa, rapidamente colocou a segurança de aprovisionamento no topo das prioridades, dominando o debate político comunitário nos últimos meses. E, enquanto tenta encontrar soluções para resolver o abastecimento dos combustíveis fósseis, em particular do gás natural, a UE dá um novo fôlego à sua estratégia com vista à neutralidade climática, reforçando a aposta na eficiência energética e nas energias renováveis nos diversos sectores, incluindo no dos edifícios.
A forma como a Europa pretende sair da aflição actual está explanada no REPowerEU, que, entre a introdução da obrigatoriedade de instalar painéis solares em novos edifícios públicos e comerciais e ainda na nova habitação, e a aposta em medidas de integração de geotermia e solar térmico em redes de aquecimento urbano, identifica a ambição de, nos próximos anos, duplicar a taxa de implantação de bombas de calor individuais.
E porquê as bombas de calor? “Segundo a legislação europeia, são a tecnologia mais eficiente para reduzir o impacto dos edifícios no clima e para ajudar à sua descarbonização”, responde Nowak, explicando que as bombas de calor “usam energia renovável a partir de ar, água e terra ou calor residual e convertem-na da forma mais eficiente em aquecimento ou arrefecimento, o que resulta em poupanças consideráveis para os clientes e num ambiente mais limpo para a sociedade”. Além disso, o responsável assegura que a tecnologia provou já sua eficiência em “todos os climas europeus, incluindo nos Invernos escandinavos severos, onde as temperaturas vão frequentemente abaixo dos dez graus negativos”.
Enquanto porta-voz da EHPA, a resposta de Thomas Nowak dificilmente seria diferente, mas, dentro do sector do AVAC, mais vozes reconhecem os argumentos a favor da solução neste momento particular: “A conjuntura socioeconómica muito difícil [que estamos a viver] está a obrigar a uma transição energética muito rápida e a reduzir a dependência do gás [natural] o mais rapidamente possível. As bombas de calor são, neste momento, a solução mais evidente para se poder fazer essa transição”, aponta, por sua vez, Ricardo Martins, director de vendas da divisão Climate Solutions da Samsung em Portugal.
Uma solução promissora, mas que pode ainda ser melhorada
Em conversa com os especialistas, o potencial das bombas de calor para a descarbonização e a independência energética da Europa é amplamente reconhecido, uma vez que possibilitam o aproveitamento de energia renovável e são soluções de elevada eficiência. Além disso, a possibilidade de responderem a várias necessidades – AQS, aquecimento ambiente e, no caso das unidades reversíveis, também arrefecimento – e uma maior facilidade de instalação comparativamente a outras soluções tornam as bombas de calor particularmente interessantes para abraçar esta transição. E, embora precisem de electricidade para funcionar, se esta for gerada a partir de fontes renováveis, como é a tendência generalizada, “fornecem aquecimento e arrefecimento 100 % renovável à escala”, diz Nowak.
No entanto, há aspectos a melhorar. Do ponto de vista económico, a escolha de uma bomba de calor obriga à reflexão, isto porque, ao momento, não se trata de um produto acessível a todos os bolsos. “O investimento [inicial] é, no mínimo, três a quatro vezes superior ao de, por exemplo, uma caldeira de condensação a gás natural”, destaca Carlos Ribeiro, responsável em Portugal pelo Grupo Vaillant, empresa alemã que se prepara para abrir, a partir do próximo ano, duas novas fábricas de bombas de calor (Reino Unido e Eslováquia), somando às duas que tem já em operação em França e na Alemanha.
“Em termos económicos, haverá aqui um esforço por parte do utilizador e consumidor final para fazer essa transição, que é muito mais amiga do ambiente”, reconhece também Ricardo Martins, acrescentando, no entanto, que é preciso pensar além do curto prazo. “Naturalmente que, a curto prazo, o investimento será muito maior do que numa caldeira ou num termoacumulador eléctrico, mas, a médio/longo prazo, com a eficiência energética que traz, acaba por compensar”, argumenta o responsável da Samsung, que lançou em Outubro uma nova bomba de calor de alta temperatura.
Incentivos à aquisição ajudam a contornar esta dificuldade e, no caso português, foi isso que aconteceu com o programa Edifícios Mais Sustentáveis, que incluiu um apoio de até 2 500 euros às bombas de calor e cujo impacto no mercado foi confirmado pelas empresas. Ainda assim, a existência destes mecanismos pode não ser suficiente para desbloquear a barreira económica, considera Evandro Amorim, responsável pelo negócio de bombas de calor ar/água na Bosch Termotecnologia. “Arrisco-me a dizer que, apesar do incentivo, [é preciso que] o cliente tenha as condições financeiras para a aquisição deste equipamento”, aponta.
Constrangimentos em tempos excepcionais
Tornar a solução mais acessível é um dos principais desafios que, neste momento, se colocam à indústria e cuja resolução será imprescindível para concretizar o potencial das bombas de calor. À medida que o plano europeu se vai desenrolar, e as vendas aumentam, Thomas Nowak antecipa que “as economias de escala deverão levar a uma redução dos custos de produção”. Contudo, as circunstâncias actuais são extraordinárias: “a escassez de semicondutores está a afectar a cadeia de valor, tal como a guerra na Ucrânia e as consequências da pandemia de Covid-19 nas rotas de fornecimento globais. Isto vai afectar a produção, a distribuição e o preço das bombas de calor.”
A pressão sobre a disponibilidade de componentes, em particular de semicondutores, é sentida tanto na fábrica da Bosch Termotecnologia em Aveiro, como nas fábricas do Grupo Vaillant na Europa. E se, a par dos constrangimentos da conjuntura internacional, existe uma tendência generalizada dos fabricantes para as bombas de calor, e estão todos à procura dos mesmos componentes, “muitas vezes, o problema não é a capacidade de produção, mas, sim, a capacidade de ter matéria-prima para produzir os equipamentos e satisfazer a demanda em tempo útil”, constata Carlos Ribeiro.
Diversificar as fontes de produção dos principais componentes, planear para o médio prazo, tendo maior atenção aos sinais do mercado, e ponderar a viabilidade económica da internalização da produção dos componentes são formas possíveis que Evandro Amorim vê para responder a este desafio.
Eficiência e sustentabilidade: objectivos permanentes
A indústria depara-se ainda com outros desafios no futuro imediato que, na verdade, não são recentes. Uma vez que as bombas de calor usam tipicamente hidrofluorocarbonetos (HFC) – que são gases com efeito de estufa com elevado potencial de aquecimento global (GWP, na sigla em inglês) – como fluidos frigorigéneos, a crescente exigência destas regras tem pressionado os fabricantes a encontrarem soluções cada vez mais amigas do ambiente e com menos GWP.
Em 2023, está previsto que a Comissão Europeia adopte uma revisão abrangente do regulamento para os gases fluorados (F-gases), que reforçará a meta europeia definida em 2015 de reduzir o seu uso em dois terços até 2030, comparativamente a níveis de 2014. À semelhança do que aconteceu com outras peças legislativas, a proposta de revisão foi apresentada em Abril passado, alinhando o regulamento com o Pacto Ecológico Europeu e com as novas metas de redução de emissões traçadas para 2030 e a intenção de alcançar a neutralidade climática em 2050.
Entre outras coisas, o texto reforça o sistema de quotas para os HFC, com vista à sua eliminação progressiva, reduzindo em 98 % o potencial impacto climático de novos HFC colocados no mercado da UE entre 2015 e 2050, e introduz restrições para garantir que os gases fluorados só são utilizados em novos equipamentos se não existirem alternativas adequadas.
Além disto, a indústria terá de preparar a conformidade com o novo Regulamento sobre Concepção Ecológica de Produtos Sustentáveis, cuja proposta foi publicada a 30 de Março de 2022 e que deverá entrar em vigor em 2025. Segundo o portal oficial da Comissão Europeia, este “cria o quadro que determina os requisitos de concepção ecológica aplicáveis a grupos específicos de produtos, a fim de melhorar significativamente a sua circularidade, o seu desempenho energético e outros aspectos de sustentabilidade ambiental” e “permitirá estabelecer requisitos de desempenho e de informação para quase todas as categorias de bens físicos colocados no mercado da UE”.
No documento, consta ainda a criação de um “passaporte digital dos produtos” que “fornecerá informações sobre a sustentabilidade ambiental dos produtos” e “deverá assim ajudar os consumidores e as empresas a fazerem escolhas informadas aquando da compra de produtos, facilitar as reparações e a reciclagem e melhorar a transparência sobre os impactos do ciclo de vida dos produtos no ambiente”.
Estas mudanças, explica a EHPA, “exigem que os produtos passem por um redesign significativo”. Os fabricantes, porém, não estão desprevenidos. No caso da Samsung, Ricardo Martins confirma “a preocupação com as metas e directrizes europeias para a redução da implementação de F-gases e do impacto que estes têm no ambiente”.
O Grupo Vaillant lançou, em plena pandemia, o R290, com um GWP de apenas 3, significativamente mais baixo do que o do R410 (GWP=2000) ou do R32 (GWP=675). “Isto permite-nos [também] um avanço tecnológico, porque eleva substancialmente as temperaturas de funcionamento, e torna a solução mais adequada para a substituição [de sistemas de aquecimento antigos, que tradicionalmente usam radiadores]”, esclarece Carlos Ribeiro.
Já a Bosch Termotecnologia, que anunciou, em Maio, um investimento de 12 milhões de euros e a criação de mais 300 postos de trabalho para aumentar a capacidade produtiva de bombas de calor para climatização e AQS na fábrica de Aveiro, vê como uma “responsabilidade, enquanto fabricante com uma grande vertente de I&D, tornar os equipamentos cada vez mais sustentáveis e eficientes”, o que inclui a introdução de gases frigorigéneos mais amigos do ambiente. Evandro Amorim confirma que a marca está a trabalhar para abordar este tema assim como outro igualmente desafiante e que passa por tornar os equipamentos mais compactos, “já que a pressão do preço quadrado é cada vez maior”. O assunto é particularmente relevante para o mercado nacional.
Mão-de-obra qualificada, precisa-se!
Entre as vantagens das bombas de calor, a facilidade de instalação é um dos destaques. O facto de nem todos os equipamentos implicarem o manuseamento de gases fluorados ajuda ao argumento e, mesmo nos casos em que isso acontece, as competências não são, para Anabela Carvalho, docente do Instituto Superior de Engenharia do Instituto Politécnico de Coimbra e que tem, na instalação de bombas de calor, uma parte da matéria que lecciona, um problema: “A diferença entre instalar uma bomba de calor e um ar condicionado não é tão grande quanto isso (…) quem está certificado ou instala um ar condicionado e sistemas centralizados de aquecimento de águas poderá instalar uma bomba de calor.”
Será isso suficiente para levar a cabo esta transição? Para os fabricantes, não. Assistindo à velocidade a que as tecnologias evoluem, a percepção, de modo a antecipar o futuro, é outra. Sem esquecer a necessidade de garantir a segurança e a eficiência da instalação, Carlos Ribeiro dá como exemplo o uso de novos fluidos frigorigéneos – “Cada fabricante vai evoluir para soluções diferentes e seria importante que as entidades [de formação] percebessem que têm de ser mais dinâmicas. Não vai acontecer como no passado, em que todas as marcas usam o mesmo gás por um largo período; hoje, temos um mercado muito mais competitivo.”
O potencial das bombas de calor para a descarbonização e a independência energética da Europa é amplamente reconhecido. No entanto, há aspectos a melhorar. Do ponto de vista económico, a escolha de uma bomba de calor obriga à reflexão, isto porque, ao momento, não se trata de um produto acessível a todos os bolsos.
Evandro Amorim fala de uma “requalificação em termos de competências” da indústria da climatização semelhante à que aconteceu no sector automóvel quando os carros passaram a ser mais electrónicos. Para este especialista, é preciso investir não só nas competências, mas num “crescimento da população útil de instaladores, que, hoje, é manifestamente insuficiente para as necessidades”. Garantir que isto acontece cabe não só ao Governo, ao criar o enquadramento necessário, mas também aos fabricantes, que devem garantir a formação do maior número de profissionais, defende o responsável, dando como exemplo o trabalho feito pelo Instituto de Formação Vulcano.
A falta de mão-de-obra qualificada é um problema transversal à UE, não só no que se refere às bombas de calor, mas a toda a transição energética. “Tanto empresas, como governos devem dar ênfase ao recrutamento e à formação destes profissionais, por exemplo, através de incentivos financeiros e de cursos adequados, o que resultaria na criação de muitos postos de trabalho”, sugere Nowak. O fomento de competências na transição verde faz parte da iniciativa da Comissão Europeia Pact for Skills e é um dos cinco objectivos do Heat Pump Accelerator, acção lançada recentemente pela EHPA com vista a alavancar o sector.
Fazer do aquecimento renovável um “mercado de massas”
“Criar um enquadramento legal e económico que torne as soluções com base em bombas de calor a opção económica mais atractiva” é “o mais importante” para desbloquear o contributo desta tecnologia para uma transição energética justa e acessível a todos, considera Thomas Nowak. Nesse sentido, “governos e administrações locais devem disponibilizar incentivos e educar os seus cidadãos para que exijam edifícios mais amigos do ambiente”, pressionando, assim, o mercado a ser mais competitivo, o que levará consequentemente à redução dos custos de instalação e de operação. Os fabricantes estão sensibilizados para isso e, no caso da Bosch Termotecnologia, reduzir os custos de aquisição das bombas de calor é algo que está alinhado com a máxima da marca “tecnologia para todos”.
Embora reconheça que “só a implementação massiva e um mercado competitivo” podem levar à redução dos preços das bombas de calor, o secretário-geral da EHPA reflecte sobre o que deve ser feito até lá e enquanto os constrangimentos ao mercado persistirem. As sugestões passam por incluir o sector do aquecimento no sistema de comércio de emissões e reequilibrar a tributação sobre a energia; introduzir subsídios, como a taxa de IVA reduzida para a bomba de calor e para a energia que esta usa; ou apoiar a cadeia de fornecimento. Medidas como o apoio a famílias de baixos rendimentos e a liderança pelo exemplo nos edifícios públicos terão, para Nowak, “impacto imediato”.
“Mostrar que é possível vai fazer com que as pessoas perguntem porque ainda não estão a fazê-lo. A descarbonização do aquecimento tem de se tornar um mercado de massas; não se trata de ‘se’ o devemos fazer, mas de ‘quando’. A tecnologia está pronta: vamos disseminá-la hoje.”
De pés assentes na terra
O hype é real e a indústria está a responder de forma massiva ao apelo europeu. Não obstante, os especialistas reforçam que não devemos olhar as bombas de calor como a única solução, ou a solução isolada, para a transição energética e há também que pensar os efeitos que a instalação massiva, mas desordenada destes sistemas, por exemplo, nas cidades, pode vir a ter.
A EHPA sublinha o potencial da tecnologia enquanto parte do sistema energético – “podem oferecer flexibilidade do lado da procura em redes inteligentes; interagir com fotovoltaico, veículos eléctricos e energia eólica para maximizar a quota de renováveis e minimizar as emissões de CO2; podem suprir as necessidades de aquecimento e arrefecimento no local e além dele; podem usar calor residual em processos industriais e fornecer calor mais eficiente para fins que não de aquecimento ambiente, como secagem, limpeza, processamento de alimentos, etc.”
Seguindo a abordagem multi-tecnologia da Bosch Termotecnologia, Evandro Amorim lembra porque há uma diversidade cada vez maior de soluções no mercado: “porque as necessidades dos clientes são, também elas, muito diversas.” Para este especialista, as bombas de calor fazem, certamente, parte das soluções preferenciais para Portugal, tal como o ar condicionado, combinado com uma solução para AQS, e, caso se confirmem as expectativas para os gases renováveis, outros equipamentos a combustão que permitam o seu uso. Esta última tendência é também apontada por Carlos Ribeiro, frisando que existem já equipamentos que permitem determinadas quotas de hidrogénio e mercados, como o de Inglaterra, onde a legislação aponta para que esta seja 100 % em breve.
Como está o mercado nacional?
A EHPA estima que haja pouco menos de 250 mil unidades de bombas de calor em operação em Portugal, num total acumulado desde 2012. As estatísticas mostram que foram vendidas, em 2021, cerca de 33 mil unidades de bombas de calor em Portugal – mais 5 991 do que em 2020. No mercado nacional, os sistemas para aquecimento ambiente foram, de longe, os preferidos, com as vendas a ultrapassarem ligeiramente a fasquia das 25 mil unidades, predominantemente ar-ar. Por sua vez, as AQS representaram 21 % das vendas em 2021, o equivalente a 7 005 unidades vendidas.
Em termos de quotas de mercado, o retrato nacional feito pela EHPA dá conta da discrepância entre os dois usos, com as bombas de calor a deterem 47,8 % no aquecimento ambiente, enquanto o uso deste equipamentos para AQS representa apenas 2,5 % desse mercado. No entanto, estes foram aqueles cujas vendas mais cresceram em termos relativos no ano passado, 33,8 % face a 2020. A percepção é confirmada por Carlos Ribeiro, que dá conta de uma maior procura por solução de AQS – “Existe uma transferência muito grande nos sistemas de produção de AQS para bombas de calor.” Uma legislação que permite a instalação da bomba de calor na nova construção, em alternativa ao solar térmico, e os apoios disponíveis para o mercado da substituição alavancam essa tendência num cenário de aumentos sucessivos da factura energética.
No panorama nacional, a falta de espaço das habitações para acomodar estes sistemas é apontada pelos especialistas como uma dificuldade, em particular quando se trata de edifícios existentes. Aqui, acresce o facto de, para fins de aquecimento, os emissores usados serem, habitualmente, radiadores, mais adequados para temperaturas mais elevadas do que as bombas de calor convencionais alcançam. Embora ainda sem grande expressão, a procura de bombas de calor para comércio e serviços, em particular para pequenos hotéis e residenciais, começa a ser uma realidade no mercado nacional.
Artigo publicado originalmente na edição de Novembro/Dezembro de 2022 da Edifícios e Energia