“A utilização de ar condicionado é segura” e não representa um “risco acrescido de transmissão do vírus SARS-CoV-2“, que provoca a doença covid-19, reafirmou, ontem, a AIPOR – Associação dos Instaladores de Portugal. Num comunicado enviado às redacções, a associação profissional admitiu ainda que, “em conjunto com as indicações da Direcção-Geral de Saúde (DGS)”, estes equipamentos podem mesmo “ajudar a mitigar” a propagação da doença. Enquanto isso, um grupo de trabalho dentro da EFRIARC – Associação Portuguesa dos Engenheiros de Frio Industrial e Ar Condicionado prepara documentação técnica sobre o tema.
“A ideia de que o ar condicionado propaga o vírus responsável pela covid-19 ou qualquer outro vírus é completamente errada, pois o mesmo não só não aumenta a carga viral, como a diminui pelo seu efeito de difusão e diluição no ar”, afirmou Celeste Campinho, presidente da AIPOR. “Qualquer partícula presente no ar, se submetida a um fluxo de ar, irá projectar-se a uma determinada distância, pelo que, se estivermos presentes num espaço interior com um indivíduo contaminado, sem protecção, e o mesmo espirrar, tossir ou mesmo ao falar, as gotículas poderão ser projectadas a maiores ou menores distâncias no caso de existir ventilação ou não”, explicou a responsável, acrescentando que “o mesmo acontece em qualquer espaço exterior onde exista algum vento, condição muito característica em Portugal”.
Para desfazer as dúvidas que têm surgido sobre o papel dos equipamentos de ar condicionado na propagação do novo coronavírus em espaços fechados, a AIPOR acrescentou ainda, na sua mensagem, que os “equipamentos de ventilação e ar condicionado não só não contribuem para a propagação, como deverão manter-se a funcionar, pois ajudam, em conjunto com as indicações da DGS, a mitigar a propagação da doença covid-19”.
Numa mensagem semelhante, a ASHRAE tinha já defendido que a continuidade de operação de sistemas de ar condicionado, aquecimento e ventilação pode “ajudar a controlar” a disseminação do vírus. Num conjunto de recomendações, a sociedade internacional de AVAC-R chamou a atenção para a transmissão por via aérea do vírus, sublinhando o contributo dos sistemas de ventilação e filtragem do ar para a redução da concentração aérea do novo coronavírus.
Especialistas preparam documentação técnica
A par da associação dos instaladores, também a EFRIARC – Associação Portuguesa dos Engenheiros de Frio Industrial e Ar Condicionado tem estado a reunir esforços para esclarecer as dúvidas existentes. Para isso, existe já um grupo de trabalho, constituído por profissionais pertencentes a instituições académicas, gabinetes de projecto, empresas instaladoras, fiscalização e manutenção, representantes e fabricantes de equipamentos, que está, actualmente, a produzir documentação técnica relativa aos sistemas de climatização e à covid-19.
Segundo contou à Edifícios e Energia, Odete Almeida, presidente da EFRIARC, os objectivos deste grupo de trabalho, criado pela Comissão Técnica (CT) da associação, visam “produzir a revisão técnica do parecer da CT” relativo ao tema da pandemia. A associação estima que estes documentos deverão estar prontos “brevemente”, sendo, de seguida, distribuídos aos profissionais do sector, entidades de saúde públicas e organizações não governamentais, de forma a contribuir para a literacia em geral sobre a relação entre o funcionamento dos equipamentos de AVAC e a propagação do vírus.
Do lado da academia, uma das vozes científicas que mais se tem ouvido sobre o papel da transmissão pelo modo de partículas em suspensão e da qualidade do ar interior na propagação da doença é a de Manuel Gameiro da Silva. Num estudo publicado em início de Abril, o professor catedrático da Universidade de Coimbra alertou para o facto de este modo de transmissão não estar a ser suficientemente tido em conta, levando ao desaconselhamento de determinadas medidas de protecção.
Recorde-se que, em Maio, a DGS publicou recomendações para o uso de sistemas de ventilação e ar condicionado. Entre as indicações divulgadas nas redes sociais, a entidade nacional recomendava a abertura de portas ou janelas para manter o ambiente limpo, seco e bem ventilado e, caso não seja possível, a necessidade de “assegurar o funcionamento eficaz do sistema de ventilação, assim como a sua limpeza e manutenção”. Em situações em que é necessário usar o sistema de ventilação de ar forçado, a DGS aconselha a que este ar seja retirado directamente do exterior. Por fim, a limpeza e a desinfecção periódicas dos equipamentos de ar condicionado e ventilação fazem também parte das referências da DGS.