Coincidindo com o lançamento do relatório de mercado global da Agência Internacional de Energia Solar Heating and Cooling (IEA SHC), com dados referentes a 2023 e 2024, associações industriais de várias partes do mundo uniram-se para apelar a um apoio político mais forte e à promoção activa das tecnologias solares térmicas.
O relatório da IEA SHC, que analisa dados de mercado de 73 países, revela que, apesar de a capacidade operacional total da energia solar térmica ter alcançado os 544 GWth (gigawatt térmico) em 2024 — com 17,8 GWth recém-instalados neste ano —, o mercado global registou um declínio de 14%, o que “afecta principalmente os edifícios, com projectos crescentes em aplicações industriais e aquecimento urbano”.
Na Europa, a Solar Heat Europe lamenta a perda de dinamismo observado após o ímpeto de 2022, impulsionado pela crise energética decorrente da guerra na Ucrânia, que levou a um crescimento de 12% no mercado europeu. Valérie Séjourné, directora-geral da associação, sublinha “as inconsistências políticas observadas até agora em vários países para abraçar a transição energética, a falta de apoio político claro por parte de alguns Estados-Membros para tecnologias como o solar térmico, juntamente com um infeliz efeito de ‘paragem e arranque’ de alguns esquemas de subvenções nacionais e uma taxa de renovação de edifícios demasiado baixa”.
Insta os 27 Estados-Membros da União Europeia a implementar eficientemente as legislações do pacote ‘Fit for 55’ e a “oferecer ao solar térmico o papel que pode desempenhar para alcançar os objectivos de redução de 55% das emissões de GEE até 2030.”
No Brasil, o sector apresentou crescimento contínuo. Mauro Issac Aisemberg, presidente da ABRASOL, uma associação sem fins lucrativos que representa as empresas do sector da energia solar térmica, afirma que, “em 2024, o mercado solar térmico cresceu 11%, alcançando o segundo lugar no ranking de novos colectores instalados entre os países analisados”. O responsável destaca como factores-chave o sector da construção e o investimento das empresas de solar térmico em eficiência.
No entanto, alerta que “a aceleração de iniciativas políticas e a inclusão do aquecimento solar em programas de eficiência energética, investigação, desenvolvimento e inovação tecnológica são necessárias para permitir que o país cumpra o seu enorme potencial solar térmico, colhendo todos os benefícios desta tecnologia sustentável, fiável, rentável e fabricada localmente”.
No México, apesar do crescimento constante, o mercado enfrenta obstáculos significativos. Daniel García Valladares, presidente da FAMERAC, a associação que reúne os principais fabricantes de colectores solares térmicos no México, e Margarita Castillo, presidente da ANES, organização dedicada ao desenvolvimento, promoção e adopção do solar térmico no México, criticam a falta de políticas públicas que estabeleçam metas específicas para a descarbonização dos sectores térmicos.
“No México, foram estabelecidas metas claras para descarbonizar a produção de electricidade, mas não existem metas para reduzir a intensidade do uso de gás para os requisitos térmicos na indústria, habitação e sectores comerciais”, afirmam. Ambos defendem que “é urgente promover tecnologias renováveis que nos tornem menos dependentes dos combustíveis fósseis”.
Na Índia, a situação é igualmente desafiadora. Jaideep Malaviya, secretário-geral da Federação Solar Térmica da Índia (STFI), destaca que “o mercado solar térmico é desafiado pela queda dos custos da energia solar fotovoltaica e a maior parte do investimento está a ser desviado devido ao atractivo retorno do investimento”. Defende a criação de incentivos semelhantes aos existentes para o sector fotovoltaico residencial, de modo que ambas as tecnologias “naveguem no mesmo barco”.
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