Quando se pretende construir algo de novo deve procurar-se uma base sólida onde a obra construída tenha baixa prioridade de colapsar.

Se a ‘situação’ neste início de Milénio requer que procuremos garantir que as condições ambientais sejam favoráveis à vida, impor-se-á que se se proceda ao escrutínio de onde devemos partir e de como promover o ambiente do futuro. É aqui que estamos no que respeita à energia. Esta, devendo ser vista na sua multiplicidade de formas, que não apenas da electricidade.

Numa formulação muito simples: há que dispor da energia necessária para a vida que nos foi dado viver, a qual importa gerir sem danos irreversíveis.

Chegados aqui, vale recordar que, quando eu era criança, o pão na minha aldeia era de milho, isto é, era designado por broa. E, ao sabado, quando se ía à feira semanal, no adro da igreja, as nossas mães, avós ou madrinhas comprovam-nos ‘trigos’ ou ‘moletes’, isto é, miniaturas de pão de trigo mais ou menos peneirado.

Ninguém no Minho identificava o minúsculo ‘molete’ ou ‘trigo’ ou, na Estremadura, o ‘papo seco’ com o ‘pão’. Sabia-se que era pão (de trigo) mas, não era o pão.

Em Portugal, e não só, os engenheiros, naturalmente maravilhados, e atrás deles o povo, haverão de vir a chamar ‘a energia’ à electricidade com a perversão da precedência do artigo definido ‘a’, próprio de quem, pela primeria vez, viu um ‘arranha céus’ de 4 andares. Eu fui dos previlegiados com a electricidade nos anos 40, uma energia de sonho a que se chamava familiarmente ‘a luz’, que nos iluminava a sala com lampadas de míseros ‘watts’ de potência e cujos custos se pagavam a uma ‘empresa industrial textil’ que ainda não trabalhava por turnos. Isto, em Portugal, com a emergência da indústria textil do Vale do rio Ave, que incluía, nomeadamente, também o rio Vizela.

E foi assim que, do mesmo modo que pão de milho é ‘broa’ e pão de trigo é ‘molete’ no Minho e este é ‘papo seco’ na Estremadura, ‘a electricidade’ com o artigo definido tornou-se ‘a energia’ para os meus concidadãos do Vale do Ave e, claro, naturalmente, ‘ad aeternum’ para os ‘engenheiros electrotécnicos’.

Só que o Mundo, entretanto, foi ficando cada vez mais complexo e, na mesma medida, chamar hoje ‘energia’, ‘tout court’, à electricidade é nada mais do que um ‘tick’ de desajustamento cultural e de falso orgulho electrotécnico que prejudica indubitavelmente a cultura energética do cidadão utilizador da energia ‘subdue’ à electricidade.

Chegados aqui, a problemática da ‘energia’, mais do que na sua economia, situa-se no seu impacto negativo sobre o ambiente, sobretudo, no ambiente global.  E esse impacto vem associado a um parametro que é muito usado e não tanto assim compreendido: o ‘rendimento’ ou ‘eficiência’ quando a conversão da energia primária na energia útil comporta perdas em gases nocivos e em calor, aqueles e estes poluidores, para não falar do mundo da radioatividade no caso das centrais nucleares que nós afastámos de Portugal.

Quando se vê um diagrama como o da figura abaixo construído para retratar os fluxos da energia na Área Metropolitana do Porto indo buscar a energia ao ponto onde está disponível na Natureza e se têm em conta as suas conversões sucessivas antes da sua transformação em electricdade e desta em luz, força motriz (mobilidade e produção industrial) e calor, etc., apreende-se claramente a relevância da fonte de energia no ambiente sempre que solicitada a servir a Vida.

Agora o bilhete de identidade da electricidade comporta responsabilidades sociais e políticas já que a relação energia-ambiente é critica para a vida, desde logo, dos cidadãos.

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