O solar térmico tem vindo a crescer nos últimos anos. Em 2022, na Europa, cresceu 12 % em relação ao ano anterior, revela o relatório Market Outlook 2022, divulgado neste mês pela Solar Heat Europe, associação dedicada à energia solar térmica. E com a maior parte das necessidades de energia nos edifícios a ser atribuída ao aquecimento ambiente ou ao de águas sanitárias, Pedro Dias, Policy Director da associação, diz que ainda há muito potencial a explorar quanto a esta tecnologia made in Europe, que, na mesma área, “produz três vezes mais energia do que o fotovoltaico”, por exemplo.

De acordo com o relatório Market Outlook 2022, o mercado europeu da energia solar térmica registou um crescimento de 12 % em 2022 em comparação com 2021, alcançando, assim, uma capacidade acumulada de 40,5 GWth em operação na Europa, distribuída por mais de dez milhões de instalações em edifícios.

Os resultados são positivos, mas ainda há muito potencial por explorar, diz Pedro Dias, Policy Director da Solar Heat Europe, à Edifícios e Energia. “Em termos geográficos, [há] países que estão claramente a demorar mais tempo nesta transição, e Portugal é um deles”, refere. 

No que diz respeito ao solar térmico para aplicações industriais, por exemplo, o responsável aponta para um caminho ainda pouco percorrido em Portugal, que é “um dos países com melhores condições para isso”. Um dos desafios da aplicação do solar térmico na indústria, não só em Portugal, tem que ver com o facto de cada vertente industrial ter necessidades específicas. “A demonstração [de exemplos de aplicação] é feita quase sector a sector. Não é só uma questão do solar térmico; é uma questão mais geral, mas afecta uma introdução mais rápida da tecnologia e também o haver uma maior consciencialização sobre o potencial da tecnologia. 

Mas há outros desafios que têm condicionado a disseminação do solar térmico. Segundo o Market Outlook 2022, “a maior parte das medidas políticas implementadas até à data na Europa têm incidido sobretudo sobre a agenda da electricidade”, contrastando com o facto de a maior fatia do consumo de energia nos edifícios estar relacionada com o aquecimento, ambiente ou de águas quentes.

No sector residencial, “80 % do consumo de energia nos edifícios na Europa é para aquecimento, ou para o aquecimento ambiente ou para águas quentes sanitárias (AQS). [A parcela para] AQS, por si só, representa 14,5 % do consumo dos edifícios e é mais do que o consumo de electricidade para electrodomésticos [e iluminação, 13,6 %], por exemplo”, destaca Pedro Dias.

A par de conseguir dar resposta a uma parte considerável das necessidades de energia nos edifícios, o solar térmico apresenta outros benefícios, diz o Policy Director. “Em edifícios, o solar térmico, na mesma área, produz três vezes mais energia do que o fotovoltaico”, e “todos os sistemas solares térmicos têm armazenamento”, sublinha, apontando também para o facto de ser uma solução made in Europe. “Mais de 90 % do que é vendido na Europa é produzido na Europa (…). Temos fabricantes em Portugal, como temos fabricantes na Finlândia, Chipre, Suécia.”

Perspectivando o futuro, a Solar Heat Europe assume como objectivo chegar a 2030 com 21 milhões de sistemas de solar térmico instalados em edifícios, com 140 GWth de capacidade operacional e com 750 GWh de capacidade de armazenamento, contribuindo ainda para a criação de 250 mil empregos e para a descarbonização, evitando 33,3 megatoneladas de dióxido de carbono por ano.

“Para conseguirmos descarbonizar os edifícios, precisamos de diferentes opções [tecnológicas], precisamos de ter mais produção nos próprios edifícios e o solar térmico tem provas dadas e tem novas soluções. Continua a apresentar novas soluções também no mercado, para o fazer de uma forma fiável e competitiva em termos de custos”, conclui Pedro Dias.

Recorde-se que em Junho deste ano foi também lançado o Solar Heat Worldwide 2023, um documento do Programa de Colaboração em Tecnologia de Aquecimento e Arrefecimento Solar da Agência Internacional de Energia (IEA SHC). Disponível para consulta gratuita no website do IEA SHC, o relatório aponta para um mercado solar térmico que tem já uma capacidade de 540 GWth a nível, fornecendo aquecimento a 115 milhões de clientes em todo o mundo.

Recorde-se também que, em Julho deste ano, o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) publicou o relatório Estimativa de potenciais técnicos de energia renovável em Portugal – eólico, solar fotovoltaico, solar concentrado, biomassa e oceanos, no qual aponta para um potencial técnico do solar térmico por explorar. De acordo com as contas do LNEG, é possível alcançar uma capacidade de 9,3 GWt para produzir, anualmente, 7,9 TWh com base nesta tecnologia.

Nova Directiva das Energias Renováveis: um impulso para o solar térmico

Na segunda-feira, o Conselho da União Europeia adoptou a revisão da Directiva das Energias Renováveis, que vai, assim, ser formalmente adoptada com metas mais ambiciosas quanto à adopção de energias renováveis. Para a Solar Heat Europe, que, em comunicado, congratula a decisão, esta poderá ser uma oportunidade para dar um impulso ao solar térmico.

“A Solar Heat Europe acolhe com aprazer este regulamento-chave para a transição energética da Europa, apelando à promoção e implementação activas do aquecimento e do arrefecimento com base no solar térmico, como uma tecnologia pronta a utilizar para facilitar a descarbonização de  um vasto número de edifícios, de sistemas urbanos de aquecimento e de indústrias”, refere a entidade, num comunicado.

Desde a meta global de atingir, em 2030, uma parcela de renováveis de 42,5 % no consumo de energia na Europa, até à meta obrigatória para o sector de aquecimento e arrefecimento e às metas indicativas para as renováveis e para o calor residual no aquecimento urbano e para as renováveis nos edifícios e na indústria, a nova directiva introduz novos alvos para os quais o aquecimento solar e aquecimento renovável “são de directa relevância”, comenta a Solar Heat Europe. 

A associação aponta ainda para a simplificação de processos de licenciamento, que leva, por exemplo, a que “o processo de aprovação de licença para a instalação de equipamento de energia solar com uma capacidade de 100 kW ou menos não deva exceder um mês, e [a que] a ausência de resposta pelas autoridades resulte na licença a ser considerada atribuída”.

Relevando a importância da nova directiva para a descarbonização da Europa, Guglielmo Cioni, presidente da Solar Heat Europe, sublinha, no entanto, “a importância de introduzir mais alvos vinculativos em futura legislação, especialmente na indústria e no aquecimento urbano”. Isto porque, explica o responsável em comunicado, a indústria do solar térmico, com fábricas por toda a Europa, está pronta “para acelerar a produção e instalação”.