Apostar na difusão de soluções de aquecimento com base directa em fontes de energia renovável fabricadas na Europa, como o solar térmico, é o apelo deixado, na passada sexta-feira, pela Solar Heat Europe aos decisores políticos europeus. Numa manifestação de apoio à intenção da União Europeia (UE) de diminuir a sua dependência energética, a associação internacional do sector do aquecimento renovável está convicta de que só através destas tecnologias o objectivo será cumprido.
Segundo a Solar Heat Europe, a intenção manifestada pela Comissão Europeia de reduzir a sua dependência da importação de combustíveis fósseis, em particular da Rússia, “só será possível alcançar virando as atenções para soluções de aquecimento com base directa em fontes de energia renovável fabricadas na Europa que possam trazer resultados imediatos”. A prioridade, alerta a associação, deve estar em soluções já “disponíveis” e não tanto em opções cujo potencial está ainda por comprovar, como é o caso do hidrogénio.
Entre as tecnologias disponíveis e com provas dadas, está o solar térmico, defende a associação. O sector afirma ser capaz de gerar 25 TWh de calor directo nos próximos dois anos, desde que sejam implementadas “medidas fortes” nesse sentido. O resultado seria equivalente a uma poupança de três mil milhões de m³ de gás por ano, estima a mesma fonte, mas pode ainda ir mais longe. Em dez anos, o contributo desta tecnologia pode chegar aos 500 TWh, garantiu Costas Travasaros, presidente da Solar Heat Europe.
Lembrando que metade do consumo de energia na Europa se refere ao sector do aquecimento, a associação, que representa a indústria de solar térmico europeia, defende que, ao optar por estas soluções, será possível descarbonizar o fornecimento de calor com tecnologias que criam postos de trabalho nas áreas de produção, instalação e manutenção dentro das fronteiras europeias.
Além disso, “o solar térmico tem capacidade de produção disponível na Europa, podendo, com o apoio adequado, acelerar a produção da tecnologia sem exigir materiais que causariam estrangulamentos na manufactura”. Segundo o comunicado, a disponibilidade de materiais e de componentes e a capacidade de produção são, também, “essenciais” para “evitar substituir a dependência das importações energéticas da Rússia por uma dependência acumulada da China pelo fornecimento de minerais raros e outros metais ou equipamentos críticos”.
Passos concretos
Juntamente com a mensagem de apoio à decisão de reduzir a dependência energética tomada na semana passada pela Comissão Europeia, a Solar Heat Europe enviou uma carta a Bruxelas com um conjunto de acções concretas para o efeito, apelando à sua integração nas medidas de emergência agora tomadas na sequência da crise energética provocada pela invasão russa da Ucrânia.

Nesse sentido, a associação pede a “mobilização imediata” de 2 000 cidades e de 40 mil indústrias na substituição de gás e petróleo por soluções de aquecimento com base directa em renováveis, incluindo, o solar térmico, e uma alavancagem dos programas de apoio existentes, através de um aumento dos orçamentos e das subvenções disponíveis para a instalação destes equipamentos.
Outra recomendação passa pela realocação de fundos do Mecanismo de Recuperação e Resiliência e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional para investimentos em calor renovável, assim como a mobilização de fundos do Banco Europeu de Investimento e de outros agentes do sistema bancário para o mesmo propósito.
Por fim, a criação de uma task force com a indústria seria, para a Solar Heat Europe, determinante, tendo como propósito a implementação “rápida” destas medidas e de outras possíveis que possam contribuir para aumentar a capacidade de produção de calor de origem renovável e de outras tecnologias de fontes de energia renováveis em território europeu.
De acordo com a associação europeia, a energia solar térmica é já responsável pelo fornecimento de calor a mais de dez milhões de lares, centenas de indústrias e de redes de aquecimento urbano na Europa, sendo que mais de 90 % dos sistemas são produzidos na Europa e não exigem a aquisição de matérias-primas críticas. Em Portugal, este é um mercado que tem crescido ligeiramente nos últimos anos, depois de um longo período de contracção que se seguiu ao “boom” criado pelos incentivos do Governo nos anos 2009-2011, nomeadamente a Medida Solar Térmico.