A Tektónica, uma das mais importantes feiras do sector da construção que está a decorrer até dia 7 de Maio na FIL, acolheu, ontem, o 2.º Meeting das Women in BIM Portugal, onde mulheres do sector da construção, e não só, partilharam as suas experiências, os seus projectos e as su as visões naquilo que diz respeito à implementação da metodologia BIM em Portugal. À margem do momento também de convívio e networking, Cláudia Antunes, Women in BIM Regional Lead, explicou como surgiu a iniciativa e as vantagens do BIM, sublinhando que “todos têm que se alinhar segundo esta tendência”.
Em Portugal, o uso da metodologia BIM ainda não é generalizado e vimos, neste seminário, um grupo com forte presença feminina motivado para impulsionar esta disseminação. Como surgiu esta iniciativa Women in BIM Portugal?
A iniciativa Women in BIM começou internacionalmente, em 2012, com a nossa fundadora, a australiana Rebecca De Cicco, que estava em Londres [na altura]. Ela sentia muito a dificuldade de, sendo mulher e sendo alguém que estava a trabalhar no sector da construção, ainda mais particularmente na questão da digitalização, não se sentir representada, de sentir que estava num mundo masculinizado e que não tinha voz nem outras mulheres com quem partilhar a sua experiência, também para perceber se elas sentiam as mesmas dificuldades que ela. Assim, nasceu este grupo Women in BIM, que hoje está em mais de 40 países, sendo que somos 67 Regional Leads pelo mundo todo. [No meu caso,] Quando fui a um encontro em Londres, em 2018, fiquei completamente contagiada por esta dinâmica do grupo e pelo propósito do grupo. Foi quase um pedido de trazer para Portugal algo que não tínhamos e foi assim que nasceu o grupo Women in BIM em Portugal. Desde 2019 que tenho esta função [de coordenadora], mas quem faz o grupo são todas as participantes que aqui estão, que representam empresas, entidades públicas e privadas, arquitectas, líderes neste sector e que partilham as mesmas dificuldades, mas também a mesma motivação por um sector mais digital e mais eficiente.
Qual é a mais valia do BIM para a abordagem aos edifícios?
Total, desde a fase do projecto, e passando pela construção, mas [o BIM apresenta-se] principalmente com grandes vantagens para a manutenção e para a parte activa do edifício. Isto porque nós conseguimos, através do digital, não só simular toda a construção digitalmente, mas também incluir informação que nos permite simular energeticamente, por exemplo, quanto é que o edifício vai consumir ou quanto é que podemos poupar em termos de energia ao longo dos anos. E, claro, [isto] tem um impacto e um custo muito diferentes no digital em comparação com o construído. É essa a grande vantagem: conseguimos simular e introduzir informação nos nossos modelos numa fase muito inicial e, depois, ao longo do ciclo de vida ter estas poupanças.
Optimizar ao máximo a estrutura que concebem, já com uma perspectiva de longo prazo?
Completamente, sim, e minimizar o erro ao máximo. Por isso é que, principalmente, construtoras têm apostado muito, mesmo internamente, no desenvolvimento da metodologia BIM. Porque, assim, conseguem, realmente, através de extracção de quantidades dos modelos ou do planeamento da obra, através de faseamento virtual da obra, fazer essa previsão e, com isso, poupar bastante depois em obra.
O BIM também pode ter impacto a nível da sustentabilidade dos edifícios.
Sim, sim. Aliás, em termos de estratégia, principalmente europeia, e em particular no Reino Unido, o BIM entrava em 2011 precisamente com esta bandeira de apoiar a descarbonização, ou seja, de criar uma metodologia de trabalho, sobretudo associada a edifícios públicos, que conseguisse reduzir tudo o que são emissões de carbono e criar edifícios mais produtivos e mais eficientes. Era mesmo essa a bandeira do BIM – para a descarbonização – e a interligação do digital continua a estar na ordem do dia e na agenda política de muitos países, chamando-lhe BIM ou não. Na verdade, o BIM é uma metodologia integrada numa série de outras não só ferramentas mas também de outros processos – tudo que agora se alinha, trazendo aqui um nome a toda esta transformação digital.
Que desafios ainda é preciso ultrapassar para conseguir disseminar o BIM em Portugal?
O grande desafio que tínhamos, mas que agora está a mudar, era o de não termos, em Portugal, não só obrigatoriedade, mas um plano de implementação nacional. Hoje, temos metas, já decretadas pelo Governo, de implementação e obrigatoriedade do BIM em 2025, o que muda totalmente o nosso panorama nacional porque, a partir daqui, todos têm que se alinhar segundo esta tendência. Já não é só algo que grandes empresas fazem para se manterem competitivas, para estarem à frente em relação à sua concorrência, ou para inovarem, ou para [alavancar] outras questões de marketing ou de futurologia, vamos brincar assim. Não, é uma questão de já de estarmos alinhados e de ser obrigatório no nosso país. É um momento histórico, diria.