Terminou ontem a 25.ª edição da TEKTÓNICA – Feira Internacional da Construção, que esteve a decorrer desde quinta-feira na FIL, no Parque das Nações, uma edição que praticamente duplicou a área ocupada em relação ao ano anterior e esgotou o espaço de exposição. Neste certame estiveram presentes, entre os vários stakeholders ligados à construção, associações do sector, a quem a Edifícios e Energia colocou a questão “qual é o principal desafio a que é necessário dar resposta, no contexto dos edifícios e da actuação da associação?”, procurando perceber também por onde poderá ou deverá passar a solução.
Associação dos Instaladores de Portugal
“Nós estamos a passar por um período de grandes mudanças em termos legislativos. Estão-se a introduzir regulamentos com uma preocupação extrema na eficiência energética dos edifícios, quer através da utilização de equipamentos mais eficientes, com menor consumo energético, quer também na garantia de que as instalações dos edifícios tenham uma manutenção regular e de que esses equipamentos tenham um desempenho e uma performance para os quais foram projectados e dimensionados. Portanto, nós temos um grande desafio no contributo para a revisão dessa legislação, quer ao nível nacional, quer ao nível internacional, que irá permitir não só garantir termos edifícios mais eficientes e melhor mantidos, como haver uma consciência mais ambiental e a consciência de que temos de conservar a energia da melhor maneira possível. Portanto, o nosso objectivo, ao participarmos nas revisões legislativas, e também de regulamentos, é podermos contribuir de uma forma positiva [no processo] e, em nome dos instaladores, podermos operacionalizar essa legislação. Não basta só definirmos que queremos edifícios mais inteligentes e melhor mantidos para garantir que os equipamentos e que o sistema funcionam correctamente. Temos também que ter gente que consiga fazê-lo. E, por isso, a AIPOR tem um papel essencial. O instalador tem um papel essencial. É preciso haver capacidade de resposta. Isto vai provocar um boom muito grande ao nível da necessidade de técnicos nestas áreas e de empresas que possam manter os edifícios. Vai haver técnicos que serão responsáveis por esses sistemas dentro dos edifícios, juntamente com as autoridades locais que terão a responsabilidade de emitir a legislação e assegurar a fiscalização. É preciso garantir que todos os stakeholders envolvidos na parte do edifício, quer o proprietário, quer os projectistas, quer o instalador, quer a empresa de manutenção que mantém os edifícios, quer os técnicos que ficam responsáveis por esses edifícios, estejam alinhados no mesmo objectivo.”
– Tiago Maul, director executivo da AIPOR – Associação dos Instaladores de Portugal
Associação Nacional de Coberturas Verdes
“O nosso maior desafio tem a ver um bocadinho com o estigma que há em relação às coberturas verdes, mas também com o facto de haver ainda muito poucos incentivos e poucas leis que obriguem às coberturas verdes no nosso país. Acho que estamos pouco avançados… A Alemanha já está muito à nossa frente. Esse é o nosso maior desafio: conseguir que os municípios criem mais incentivos, conseguir que as pessoas aceitem mais as coberturas verdes, que vejam as suas vantagens e os seus serviços e que não se foquem tanto no seu custo, porque, de facto, as vantagens vão cumprir [a compensação de] todo esse custo inicial.”
– Lara Dias, coordenadora executiva da Associação Nacional de Coberturas Verdes
Associação Passivhaus Portugal
“Bom, há muitos desafios. A nossa estratégia passou por criar uma rede Passivhaus, que já existe – o facto de estarmos aqui [na Tektónica] em consórcio é prova disso –, para garantir que há capacidade instalada. Portanto, não é preciso estar a inventar nada. Temos as soluções em Portugal; os fabricantes têm as soluções; há capacidade instalada para implementar. Fizemos também um trabalho de formação dos técnicos. Temos também já projectistas formados para fazer esse trabalho – é claro que é preciso muito mais. E procurámos também fazer, desde o início, a consciencialização do público geral. Sabemos que aí ainda [se] está um bocadinho aquém, e esse é que é o motor de toda a transformação: o cliente final, se pede uma Passivhaus, vai originar esse processo em toda a cadeia do valor de o projectista ter de conseguir fornecer esse produto e de o construtor ter de saber construir Passivhaus. Esse trabalho foi iniciado e verifica-se já uma grande procura, mas é preciso chegar ainda mais longe. Esse é um desafio que está sempre presente, o de chegar ao público final, ao cliente final. Outro desafio está relacionado com o enquadramento legislativo e regulamentar do parque edificado em Portugal. Transmitimos junto da administração central, junto dos governos, e eles têm conhecimento disso, a nossa atividade e o nosso plano [enquanto associação] e procuramos também fazer uma ligação aos municípios. Sempre que há uma consulta pública, como foi o caso da ELPRE, ou do PRR, nós procuramos apresentar a Passivhaus como solução, mas ainda há muito trabalho a fazer ao nível regulamentar de elevar os mínimos regulamentares [de desempenho para os edifícios]. Temos um exemplo crasso dessa falta de exigência, que é aquilo que é o NZEB em Portugal. Desde o início da actividade de associação, desde 2014, que apresentámos a Passivhaus como solução para o NZEB, ainda antes de haver a legislação em Portugal que definia o NZEB. O que é certo é que, hoje em dia, todos os edifícios são NZEB em Portugal por decreto. E nada mudou na lei. Continuamos a ter edifícios, com certificação a mais, que são NZEB, mas que não garantem conforto térmico, que não são eficientes energeticamente, porque se continua a permitir que haja edifícios sem controlo das ventilações e das renovações de ar, com pontes térmicas. A estanquidade ao ar não é avaliada nos nossos edifícios. Em Espanha, por exemplo, já é obrigatório fazer o ensaio de estanquidade do ar em cada edifício para se obter a certificação. É algo que ainda falta acontecer em Portugal.”
– João Gavião, membro fundador da Associação Passivhaus Portugal
Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes
“O maior desafio que se coloca em 2023 no setor das janelas e fachadas é continuar a apostar, no reforço da capacidade das empresas em várias áreas: aumento das qualificações e formação; aposta na inovação dos produtos e serviços e reforço da capacidade de investimento na digitalização, robotização e automação dos processos. Tudo isto para dar resposta aos desafios relativos ao aumento do conforto térmico e acústico, bem como na melhoria da eficiência energética do parque edificado português.”
– João Ferreira Gomes, presidente da ANFAJE – Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes
Além da Associação dos Instaladores de Portugal, da Associação Nacional de Coberturas Verdes e da Associação Passivhaus Portugal, estiveram também presentes na 25.ª edição da Tektónica a AICCOPN – Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas e a CMM – Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista.
Nota: Notícia actualizada às 11h40, com a resposta de João Ferreira Gomes, presidente da ANFAJE.