O relatório Eficiência Energética 2025 da Agência Internacional de Energia revela progressos modestos, mas insuficientes, para alcançar o compromisso da COP28. O sector dos edifícios é apontado como decisivo para recuperar o atraso.
A Agência Internacional de Energia (AIE) publicou o relatório Eficiência Energética 2025, uma avaliação abrangente sobre o estado global da eficiência energética. As conclusões são claras: apesar de haver melhorias no progresso mundial da eficiência energética em 2025, o mundo continua aquém do objectivo assumido por quase 200 países aquando da COP28 — duplicar a taxa média anual global de melhorias na eficiência energética até 2030.
Segundo a AIE, a intensidade energética global está a caminho de melhorar 1,8% este ano, acima do modesto 1% de 2024. A China e a Índia surgem como destaques positivos, com melhorias estimadas acima de 3% e 4%, respectivamente, ao conseguirem alcançar ritmos significativamente superiores às médias desde 2019. Mas nos Estados Unidos e na União Europeia, o impulso dos anos recentes esmorece, e o progresso deverá ficar abaixo de 1%.
Globalmente, desde 2019 a taxa média de melhoria da intensidade energética situa-se em apenas 1,3% ao ano, pouco mais de metade da média observada entre 2010 e 2019. Muito abaixo, portanto, dos 4% anuais necessários para cumprir a meta da COP28.
O desafio estrutural dos edifícios
No relatório, o sector dos edifícios voltou a destacar-se pela sua relevância e complexidade. Em 2024, o consumo final total ultrapassou 450 exajoules (EJ) e cresceu cerca de 25 EJ desde 2019. Os edifícios representam cerca de 30% da procura global de energia e, desde 2019, contribuíram com aproximadamente 20% do crescimento da procura mundial de energia. O sector residencial domina este consumo, representando 70% da energia utilizada em edifícios, enquanto os edifícios comerciais e públicos absorvem os restantes 30%.
Nas denominadas “economias avançadas”, o retrato é bem conhecido: o aquecimento de ambientes e de água representa cerca de 70% da energia usada nas habitações. A combinação de edifícios antigos e mal isolados com tecnologias de aquecimento baseadas em combustíveis fósseis mantém a procura num patamar elevado. “Abordar as tecnologias de aquecimento ineficientes e os edifícios com isolamento deficiente é fundamental na maioria das economias avançadas para acelerar o progresso em termos de eficiência energética”, salienta o documento. O arrefecimento de ambientes representa ainda uma pequena parte da procura total, mas prevê-se que cresça nos próximos anos.
A AIE identifica um conjunto de prioridades destinadas a travar o elevado consumo energético dos edifícios e a acelerar a transição para tecnologias mais limpas nas economias desenvolvidas. Destaca-se a necessidade de acelerar a renovação energética de edifícios envelhecidos, substituindo sistemas antigos e reforçando o isolamento. A electrificação do aquecimento, sobretudo através da instalação de bombas de calor, complementada pelo reforço de instrumentos regulatórios, como certificados de desempenho energético. A AIE defende ainda a necessidade de corrigir desequilíbrios nos preços da energia, nomeadamente reduzindo a diferença entre gás e electricidade, e de regular a instalação de novas tecnologias de aquecimento baseadas em combustíveis fósseis.
Nas “economias emergentes e em desenvolvimento”, o consumo per capita de energia para aquecimento de ambiente e águas é inferior a um quarto do das economias avançadas. Este dado reflecte climas mais quentes e acesso limitado a serviços energéticos acessíveis. Ainda assim, o cenário está a mudar rapidamente: o crescimento populacional, o aumento de rendimentos, a urbanização e a intensificação das temperaturas estão a alimentar um aumento acelerado da procura de energia, sobretudo para refrigeração. O relatório indica que “abordar tecnologias de refrigeração ineficientes, garantir que os novos edifícios são concebidos e construídos de forma eficiente e promover a utilização de fogões livres de combustíveis fósseis podem ajudar as economias emergentes e em desenvolvimento a acelerar o progresso em termos de eficiência energética”.

Nestas economias emergentes e em desenvolvimento, onde o parque edificado cresce a um ritmo muito mais rápido, as prioridades são orientadas para garantir eficiência desde a raiz. A AIE sublinha a importância de integrar códigos energéticos na construção para assegurar que os novos edifícios são concebidos de forma eficiente. Destaca ainda a necessidade de melhorar significativamente a eficiência dos aparelhos de ar condicionado, cuja procura aumenta ano após ano. Por fim, a substituição da biomassa tradicional por soluções de cocção limpa é considerada crítica, tanto para reduzir emissões como para evitar milhões de mortes prematuras associadas à poluição doméstica.
Combater a inércia dos governos
O relatório apresenta um quadro inequívoco: sem intervenções políticas mais robustas e coordenadas, o mundo ficará longe das metas estabelecidas para 2030. Os edifícios surgem como um sector paradoxal – simultaneamente um dos mais difíceis de transformar e um dos que oferece maiores oportunidades de impacto.
A renovação de edifícios existentes, o reforço de normas, a electrificação do aquecimento e o avanço de tecnologias de refrigeração eficientes são entendidas como peças essenciais de uma estratégia global que ainda avança a um ritmo mais lento do que o desejável.
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