Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 161 da Edifícios e Energia (Setembro/Outubro 2025).

Será este um tema esquecido – um parente pobre ou um parente rico – em Portugal? A geotermia é uma fonte de energia renovável e inesgotável que utiliza o calor natural da Terra, disponível 24 horas por dia, independentemente das condições meteorológicas. Pode comparar-se a um tesouro bem escondido no interior de um cofre enterrado.

A geotermia destaca-se como uma solução sustentável e eficiente, mas a viabilidade depende de fatores técnicos, económicos e geográficos específicos de cada local. É muito importante revisitar alguns estudos, publicações e concretizações sobre esta temática e que, na nossa opinião, merecem toda a atenção e reflexão, nomeadamente uma das publicações da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), que empresta título e corpo ao presente artigo.

A DGEG, nas suas publicações, releva e enaltece as diversas aplicações e a respetiva localização, incluindo a sua distribuição ao longo do território de Portugal Continental e Açores.

A DIREÇÃO-GERAL DE ENERGIA(2): O ponto da situação do aproveitamento geotérmico

A Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), no âmbito das suas competências, exerce as suas funções de autoridade nacional nos domínios da energia e dos recursos geológicos, contribuindo para a definição, implementação e avaliação das políticas para estes setores, visando a sua valorização, utilização apropriada, maximizando o valor acrescentado para Portugal, e acompanhando o funcionamento dos respetivos mercados e empresas.

A geotermia faz a ligação entre as duas grandes áreas da DGEG, ao nível dos recursos geotérmicos (que são recursos endógenos) e do seu aproveitamento energético, como energia renovável, sendo importante a sua valorização e aproveitamento.

A DGEG, como autoridade nacional e como organismo detentor da informação e cadastro dos recursos geotérmicos de Portugal Continental, através de estudos e correspondentes publicações pretende fazer o ponto de situação do aproveitamento geotérmico, numa perspetiva de sensibilização, valorização e criação de condições tendentes ao desenvolvimento sustentável desta forma de energia renovável que tem tido, a nível europeu, um crescimento considerável nos últimos anos.

APRESENTAÇÃO(3): A situação da geotermia de baixa entalpia em Portugal

Perspetivas de evolução e principais problemas

O Decreto-Lei nº 130/2014, de 29 de agosto, com as reformulações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 33/2016, de 28 de junho, estabelece que é competência da DGEG promover a utilização de fontes de energia renováveis, através da implementação de programas a tal dirigidos e da promoção de iniciativas e ações específicas junto dos agentes económicos e consumidores. O diploma legal relativo ao regime jurídico da revelação e aproveitamento dos recursos geológicos (Lei nº 54/2015, de 22 de junho), nomeadamente a alínea o) do Art.º 2º, estabelece que os recursos geotérmicos são os fluidos e as formações geológicas do subsolo, cuja temperatura é suscetível de aproveitamento económico.

Uma geologia de carácter complexo e diversificado dotou o País de um apreciável potencial geotérmico, evidenciado pelo elevado número de ocorrências de águas com temperaturas superiores a 20ºC.

A partir dos dados técnicos dispersos pelos processos das concessões e dos relatórios arquivados na DGEG, relatórios estes sujeitos a confidencialidade nos contratos de outorga de direitos, foi feito um levantamento exaustivo das ocorrências com temperatura superior a 20ºC.

Dos levantamentos efetuados, é possível observar que a grande maioria das ocorrências termais têm temperaturas relativamente baixas, mas suscetíveis de poderem ser elevadas, quando sujeitas a trabalhos de prospeção e pesquisa em profundidade, como se tem vindo a verificar nos últimos anos, em que os concessionários estão a realizar captações cada vez mais profundas, acompanhadas de aumento de temperatura.

É obrigação dos concessionários fazer o melhor aproveitamento dos recursos, segundo normas técnicas adequadas e em harmonia com o interesse público do melhor aproveitamento desses bens. Desta forma, a DGEG, através dos mecanismos legais de gestão dos recursos, nomeadamente do enquadramento legal das concessões e da aprovação dos planos de exploração, tem vindo a sensibilizar os concessionários para perspetivarem o aproveitamento do calor das ocorrências cuja temperatura é superior a 20 ºC. Nestes casos, constitui obrigação contratual a elaboração de estudos de viabilidade de aproveitamento do calor das ocorrências. Realça-se que esta perspetiva tem merecido acolhimento por parte da maioria dos concessionários.

Assim, o calor de algumas das águas minerais atualmente qualificadas deve ser utilizado para outros fins, que não só a balneoterapia, constituindo o uso em cascata destes recursos uma forma racional do seu aproveitamento.

Portugal, tal como a União Europeia, aposta no recurso à energia de origem renovável em substituição e com vista à redução da dependência de origem fóssil.

Foi com esta perspetiva que a União Europeia aposta também na valorização dos recursos endógenos, ou seja, nas fontes de energia renovável. Mas, para além deste fator, há ainda a considerar um efeito nulo, ou muito reduzido no ambiente, nomeadamente no que respeita à emissão do dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa.

No âmbito do Portugal 2020 e de outros instrumentos financeiros que conduzam, nomeadamente no Fundo de Apoio à Inovação, poderão ser desenvolvidas ações que levem ao aumento da utilização de energia geotérmica, podendo também contribuir para o desenvolvimento das regiões onde ocorrem estes recursos.

Nesta publicação faz-se uma abordagem predominantemente técnica do aproveitamento da energia geotérmica. Há ainda a abordagem do ponto de vista económico, estabelecendo um valor comparativo entre o recurso geotérmico (a determinada temperatura) e outras formas de energia de origem renovável e não, nomeadamente de origem fóssil.

Nesta perspetiva, a DGEG continuará com os trabalhos desencadeados nos últimos anos, ou seja, a execução de ações que conduzam ao aumento do aproveitamento da energia geotérmica em Portugal Continental.

PREÂMBULO (4): Porquê desenvolver a utilização dos recursos geotérmicos

No limiar do século XXI, o imperativo do desenvolvimento sustentável obriga a que a Sociedade se encaminhe para modelos de desenvolvimento condicionados por três problemas fundamentais:

a) A escassez da energia, conduzindo à necessidade de estabelecer medidas de eficiência energética e de aproveitamento de recursos endógenos renováveis;

b) A mudança climática, hoje realidade incontornável, que conduz à necessidade de reduzir a emissão para a atmosfera de dióxido de carbono e de outros gases com efeito de estufa;

c) O crescimento demográfico mundial, cada vez mais concentrado nas grandes metrópoles, com padrões de consumo crescentes, reforçando a procura de alimentos, água e energia.

Os cenários do crescimento económico mundial nos próximos anos, centrados maioritariamente nas economias emergentes, mostram que as energias convencionais não serão capazes de suportar a procura em condições de sustentabilidade adequadas.

Será por isso inevitável o recurso crescente às energias de origem renovável. É neste contexto que interessa perspetivar o papel que os recursos geotérmicos podem desempenhar no futuro, muito particularmente em Portugal, tendo em conta a sua distribuição, as suas especificidades de desenvolvimento e de exploração e a procura.

A GEOTERMIA COMO INDÚSTRIA EM PORTUGAL

A geotermia como indústria, alicerçada no conhecimento geológico, hidrogeológico e geotérmico de um território, pode ser encarada nas seguintes vertentes:

a) A geotermia clássica, ou tradicional, compreendendo a produção de eletricidade e o aquecimento urbano;

b) A geotermia nova, ou geotermia superficial, que aproveita o potencial térmico do solo e do subsolo a pequenas profundidades ou da água dos aquíferos superficiais, incluindo o armazenamento de calor e frio nos aquíferos;

c) A geotermia do futuro com sistemas geotérmicos estimulados em meios de elevada temperatura, mas de pequena permeabilidade, nos quais se incrementa a conectividade natural das formações com fracturação hidráulica ou outra.

A partir do primeiro choque petrolífero de 1973, verificou-se um grande desenvolvimento da geotermia à escala mundial e à conceptualização de novos modelos de exploração do recurso.

Foi depois dessa década que nasceu o Projeto Geotérmico dos Açores, hoje realização emblemática da geotermia europeia para a produção de eletricidade (27,8 MW de capacidade total instalada, energia anual produzida de 171,6 GWh, ano de 2016), projeto que coloca Portugal no mapa dos aproveitamentos geotérmicos mundiais (Carvalho et al. 2015).

A energia geotérmica satisfaz atualmente cerca de 0,4% das necessidades de energia elétrica do mundo. Em Portugal, esse valor, estatisticamente, é também de 0,4%, mas como é sabido está, por força do contexto geológico, concentrado na Ilha de S. Miguel nos Açores, onde a produção alcança 42% das necessidades elétricas da Ilha, cerca de 22% das do arquipélago. No que respeita aos usos diretos, para além das aplicações balneoterápicas e balneológicas, lúdicas, recreativas, funcionais e até gastronómicas em curso em Portugal Continental e nos Açores desde tempos imemoriais, o interesse das nascentes termais para outras aplicações geotérmicas vem também da década de 70 do século passado.

A primeira realização geotérmica em Portugal para usos diretos foi realizada nas Caldas de Chaves para climatização da piscina municipal, estando hoje o projeto alargado a dois hotéis da cidade com uma potência instalada de cerca de 0,8 MWt (Carvalho et al., 2015).

Desde essa data, outros projetos têm sido equacionados e alguns concretizados noutros polos termais portugueses (S. Pedro do Sul, Monção, Longroiva, Alcafache, Aregos, Caldas da Rainha, etc.), mas o crescimento tem sido tímido e titubeante. Será, contudo, nos polos termais que serão de esperar a curto prazo novos desenvolvimentos particularmente naqueles em que já existe procura. Embora em 2010 tenha sido realizada, em Portugal, uma tentativa de lançamento de projetos do tipo Sistema Geotérmico Estimulado (EGS), estima-se que o investimento neste tipo de projetos seja avultado, sendo também grande o desconhecimento em relação aos reservatórios, o que dificulta o aparecimento de iniciativas do setor privado.

DIFICULDADES DE INTRODUÇÃO DA GEOTERMIA

A geotermia como indústria tem dificuldades específicas de cada um dos tipos atrás considerados, em relação à penetração no mercado, mas uma característica comum: os custos de investimento são mais elevados do que os das fontes produtivas concorrentes e existe ainda o risco geológico associado à revelação do recurso. Esta última circunstância não se coloca no caso da geotermia superficial, o que constitui uma mais-valia significativa em relação às opções clássicas.

Do ponto de vista do risco geológico, e no caso particular de Portugal, há que melhorar as metodologias de prospeção e de captação de recursos geotérmicos, de molde a diminuir os custos de investimento e melhorar a taxa de sucesso. Trata-se quase de fazer a quadratura do círculo, mas há que reconhecer que estamos presos a metodologias rotineiras que devem ser atualizadas.

Uma característica relevante das operações geotérmicas portuguesas do Continente, e de alguns espaços termais dos Açores (e.g. Ferraria, Banhos da Coroa, Caldeira Velha, Carapacho), é a da coexistência da exploração geotérmica com os usos balneoterápicos.

Nos anos 90 do século passado funcionou no Hospital da Força Aérea em Lisboa, atual Hospital das Forças Armadas, o Projeto Geotérmico do Lumiar que, com sucesso, produziu água quente sanitária, o aquecimento de parte do Hospital e ainda água potável (Carvalho et al. 1990). Ao fim de quase uma década de operação, o projeto abortou por se ter verificado o colapso da coluna de revestimento do furo, mas pode ainda hoje ser apresentado como paradigmático para a região de Lisboa e eventualmente para outros polos localizados nas orlas sedimentares portuguesas onde exista procura adequada.

Assiste-se, com atraso de vários anos, ao início da disseminação industrial das operações de geotermia superficial em Portugal. Estas operações estão a nascer, sem enquadramento institucional, e geralmente ao mais baixo nível técnico no que se refere à captação do calor ou da água. É urgente aprontar regulamentação para esta atividade e fazê-la cumprir no terreno, domínio em que, como é sabido, os portugueses não são muito dotados (vide o desnorte da gestão do solo e do subsolo no território nacional apesar da legislação existente).

Além de numerosas outras barreiras no domínio da aceitação técnica e social da geotermia, assinale-se a generalizada falta de conhecimento e de confiança das entidades decisoras, dos gestores do território e da Sociedade, em relação a estas tecnologias. Mas não pode ser esquecido, por exemplo, que todos os projetos que levaram à instalação de estufas geotérmicas e de piscicultura em polos termais portugueses na década de 90 do século passado foram abandonados, sobretudo, por ter sido esquecida a componente do mercado e por inadequada seleção dos recetores do financiamento comunitário.

Excetua-se a aplicação geotérmica no Polo do Vau, da concessão de S. Pedro do Sul, onde foi feito, durante mais de trinta anos, o aquecimento de estufas de frutos tropicais com recurso à energia geotérmica.

ALGUMAS RECOMENDAÇÕES FINAIS

Nesta publicação está equacionado o estado da arte dos aproveitamentos geotérmicos em Portugal e são esboçados caminhos para a disseminação industrial das várias tecnologias envolvidas.

De uma forma geral é de prever, num horizonte de vinte anos, que:

a) A produção de energia elétrica se mantenha maioritariamente confinada ao arquipélago dos Açores e que, aliás, a respetiva penetração no mercado aumente. É de prever, e é desejável, que surjam aproveitamentos em cascata térmica, particularmente na Ilha de S. Miguel;

b) Haja um incremento considerável no aproveitamento geotérmico nos polos termais, mediante a sensibilização dos atores envolvidos, e das pressões ambientais e políticas, mas há que lançar programas de investigação aplicada para salvaguardar a sustentabilidade dos recursos hidrominerais envolvidos;

c) Aumente exponencialmente a realização de projetos de geotermia superficial de pequena dimensão, atividade que é urgente integrar na regulamentação dos recursos geológicos;

d) A procura pela realização de projetos do tipo sistemas geotérmicos estimulados flutuará em função dos custos, da disponibilidade dos combustíveis fósseis e da aceitação social e do mercado; o Estado, proativamente, deve estimular a investigação conjunta no domínio da gestão do solo e subsolo (águas minerais naturais, aquíferos estratégicos profundos, petróleo, gás, sequestração de CO2, etc.).

A complexidade da geotermia como indústria leva a que se apele para que a busca de soluções para o desenvolvimento de novos projetos geotérmicos, centrada naturalmente nas Ciências da Terra, tenha forte componente multidisciplinar ligada às instalações de superfície, à economia, à sociologia e outras áreas técnico/científicas necessárias à superação de barreiras à penetração da tecnologia. De salientar aqui a necessidade de serem congregados esforços entre o Estado, a indústria e a Universidade.

UM CASO DE ESTUDO (5): Implementação de uma solução de geotermia num estabelecimento de ensino secundário no sul de Portugal

Complementarmente, e por termos integrado, já há alguns anos, uma equipa interdisciplinar contratada para a realização, durante o ano de 2009, de um projeto de reabilitação e requalificação de um estabelecimento de ensino secundário existente, permitimo-nos divulgar esse caso de estudo, a nosso ver, deveras interessante para ilustrar o tema em apreço, mas apesar do interesse técnico e económico, também contribuiria para o desenvolvimento formativo e pedagógico, dado tratar-se de um estabelecimento escolar.

Incompreensivelmente, não mereceu o devido acolhimento por parte de um dono de obra institucional, que não se mostrou sensível às vantagens que poderia trazer a sua implementação. Ao que nos foi transmitido, terá havido razões económicas e também receio de que a aplicação e a utilização pudessem não ser bem-sucedidas. As novas energias obrigam a que todas as instituições, profissionais e utilizadores envolvidos sejam cautelosos, mas nunca prescindam de ser ousados.

O estabelecimento iria dispor já de duas linhas de renováveis: solar térmico para a produção de água quente sanitária e fotovoltaico para ligação direta à rede. Também foi ponderada a eventual aplicação de geotermia de baixa temperatura para a produção de calor/frio para o edifício.

A equipa projetista analisou as possibilidades de implementação da solução de geotermia e verificou-se a viabilidade técnica da sua implementação dada a existência de um espaço exterior generoso onde se poderia instalar a fonte de calor formada por um campus de furos verticais onde circularia um fluido de transferência, em geral água e aditivo anticongelante (glicol) para captação de energia geotérmica, fonte primária inesgotável. Na estação fria, essa energia é libertada para o espaço a aquecer. Na estação quente, dá-se o processo inverso, sendo o excesso de calor do espaço a arrefecer transferido para o solo.

Assim, estávamos na presença de duas soluções possíveis:

BOMBAS DE CALOR CONVENCIONAIS

A central disporia de duas bombas de calor, ditas convencionais, para a produção de água arrefecida ou água aquecida com arrefecimento a ar. As bombas de calor poderão ser unidades com grupos compressores do tipo scroll ou do tipo screw (parafuso).

BOMBAS DE CALOR GEOTÉRMICAS

A central disporia de duas bombas de calor geotérmicas para a produção de água arrefecida ou água aquecida associada a fonte de calor geotérmica de captação vertical em solo, constituída por um número estimado de 118 furos de 100 metros de profundidade, protegidos através de manga exterior, com um valor máximo de 10 metros por furo. As bombas de calor geotérmicas seriam unidades com grupos compressores do tipo screw (parafuso).

VANTAGENS DAS BOMBAS DE CALOR GEOTÉRMICAS

Eficiência energética – quanto maior for a diferença de temperatura entre o meio a aquecer e o meio exterior, maior será a eficiência do sistema. Esta eficiência é medida pelo coeficiente de desempenho, designado por COP, que expressa a quantidade de energia que é cedida ao consumo por cada unidade de energia elétrica consumida por uma bomba de calor. O COP médio das bombas geotérmicas situa-se entre 3,5 e 5. Em contrapartida, as bombas de calor convencionais mais eficientes possuem um COP médio que se situa entre 2 e 3,5, ou seja, uma bomba de calor geotérmica permite uma redução média situada entre 25% a 60% do consumo de energia elétrica, para a mesma quantidade de calor fornecida.

Versatilidade – oferece diversas soluções técnicas que satisfazem as necessidades de calor/frio de espaços ou de água quente sanitária. A produção de frio e de calor é centralizada, com total integração das unidades exteriores convencionais num espaço reduzido, e sem limite de potência (sistema modular).

Reduzida poluição sonora – elimina por completo os ruídos desagradáveis acusados pelos ventiladores exteriores das unidades convencionais de condensação.

Eliminação da poluição visual – as baterias de condensadores colocadas nas fachadas, terraços e telhados dos edifícios são substituídas por um sistema de captação totalmente enterrado, ou seja, invisível, sendo a bomba de calor acondicionada num reduzido espaço, em zona técnica, fora do campo de visão dos utilizadores.

Maior longevidade ou durabilidade – O tempo de vida útil das bombas de calor geotérmicas é superior a 15 anos, e o das captações subterrâneas oscila entre os 40 a 50 anos.

Requer menores trabalhos de manutenção – possui menos partes mecânicas, e reduz a acumulação de sujidade nos elementos filtrantes, serpentinas, e ventiladores do sistema.

Redução da poluição ambiental – permite mitigar as emissões de CO2 para a atmosfera dada a sua maior eficiência, gera menor quantidade de resíduos industriais após abate, e reduz o risco de poluição dos solos por derrame de substâncias químicas não biodegradáveis.

Redução da potência instalada – a sua instalação constitui uma eficaz medida de gestão de compra de energia elétrica, ao permitir reduzir a potência solicitada à rede, sobretudo nas horas de ponta, onde se verificam os períodos de maior consumo em climatização. O encargo com a fatura elétrica é assim reduzido, quer ao nível da parcela de consumo correspondente às horas de ponta, quer ao nível da potência contratada.

DISPONIBILIDADE NO MERCADO

O mercado nacional e europeu oferece, hoje, soluções fiáveis para implementação do sistema em toda a sua extensão incluindo a garantia de assistência técnica.

ANÁLISE ECONÓMICA: Custos de operação

Efetuámos uma análise económica preliminar, comparando um sistema de bombas de calor geotérmicas com bombas de calor convencionais para as potências previstas instalar.

Bombas de calor geotérmicas

Modo de aquecimento (COP 4,8)
Horas de funcionamento estimadas 1400 h /ano
Potência de aquecimento 760 kW
Modo de arrefecimento (EER 4,4)
Horas de funcionamento estimadas 600 h /ano
Potência de arrefecimento 716 kW
Produção de AQS (*)
Consumo diário de água quente a 45 ºC 6800 l/dia

(*) A solução dispensaria a aplicação do solar térmico

Total de custos estimados de operação anual (incluindo IVA 5%) 40.700 €

Bombas de calor convencionais e campo de coletores solares térmicos c/ caldeira de apoio

Modo de aquecimento (COP 2,6)
Horas de funcionamento estimadas 1400 h /ano
Potência de aquecimento 840 kW
Modo de Arrefecimento (EER 2,4)
Horas de funcionamento estimadas 600 h /ano
Potência de arrefecimento 780 kW
Produção de AQS
Consumo diário de água quente a 45 ºC 6800 l/dia
Total de custos estimados de operação anual (incl. IVA 5%) 76.400 €
Poupança anual resultante da aplicação da alternativa mais eficiente 5.700 €

Faz-se notar ainda que os custos de manutenção das bombas de calor geotérmicas são inferiores aos custos de manutenção das bombas de calor convencionais. Para efeitos de cálculo de retorno simples do investimento estes não serão considerados.

CUSTOS DE INVESTIMENTO

Bombas de calor geotérmicas

Central com duas bombas de calor geotérmicas 235.000 €
Fonte de calor (sondas verticais 118 un. x 100 m prof.) 287.000 €
Total 1 522.000 €

Bombas de calor convencionais e campo de coletores solares térmicos c/ caldeira de apoio

Central com duas bombas de calor convencionais 170.000 €
Solar Térmico 102.000 €
Total 2 209.000 €
Custo adicional do investimento 313.300 €

PERÍODO DE RETORNO SIMPLES

Tomando como referência o método de cálculo do período de retorno para medidas de eficiência energética, teremos como período de retorno simples:

PRS = Ca / Pt = 313.000 ¤ / 35.700 ¤ = 8,7 anos => ~ 9 anos

O cálculo não entra em linha de conta com taxa de inflação anual nem taxa de juro, nem custos de manutenção.

UM DEBATE CADA VEZ MAIS OPORTUNO (6)

Atualmente, assistimos ao debate cada vez mais oportuno e intenso sobre a transição energética. Neste debate, constatamos que a geotermia continua a ser um recurso muitas vezes ignorado face à visibilidade mediática das energias solar e eólica. Contudo, a energia proveniente do calor do interior da Terra apresenta características únicas que a tornam particularmente relevante para um sistema energético descarbonizado, resiliente e tecnologicamente diversificado.

A geotermia não substituirá as restantes fontes renováveis. Mas num sistema que precisa de diversificação tecnológica, de segurança de abastecimento e de estabilidade de preços, há um espaço que pode ser ocupado pela energia geotérmica. A energia, podemos afirmar, está aos nossos pés. Não podemos desperdiçar esta dádiva da natureza! A principal vantagem da geotermia reside na sua natureza contínua e previsível: fornece calor e eletricidade de forma estável, 24 horas por dia, durante todo o ano, com uma pegada ambiental extremamente reduzida. Esta fiabilidade é especialmente importante num sistema energético onde a intermitência das fontes renováveis variáveis exige maior capacidade de base.

Referências
(1) GEOTERMIA – Energia Renovável em Portugal, edição da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), outubro 2017.
(2) Nota Introdutória da autoria de Mário Guedes – Diretor-Geral de Energia e Geologia, é parte integrante da brochura GEOTERMIA – Energia Renovável em Portugal, editada pela DGEG em outubro de 2017).
(3) Apresentação da autoria de Jorge Seguro Sanches – Secretário de Estado da Energia, é parte integrante da brochura GEOTERMIA – Energia Renovável em Portugal, editada pela DGEG em outubro de 2017).
(4) Preâmbulo da autoria de José Martins Carvalho – EurGeo, Prof. Emérito Politécnico do Porto, é parte integrante da brochura GEOTERMIA – Energia Renovável em Portugal, editada pela DGEG em outubro de 2017).
A publicação encontra-se disponível para descarregamento em: https://www.dgeg.gov.pt/media/d3jkqmis/i015526. pdf#Publica%C3%A7%C3%A3o_I015526_Geotermia_EnergiaRenov%C3%A1velEmPortugal_DGEG_2017
https://www.dgeg.gov.pt/media/d3jkqmis/i015526.pdf#Publica%C3%A7%C3%A3o_I015526_Geotermia_EnergiaRenov%C3%A1velEmPortugal_DGEG_2017
(5) UM CASO DE ESTUDO – Implementação de uma solução de geotermia num estabelecimento de ensino secundário situado no sul de Portugal, Estudo da autoria de Serafin Rodriguez Graña – Engenheiro Consultor e Diretor de Projeto associado ao gabinete, Termifrio – Projetos e Planeamento Industrial, Lda (2009).
(6) UM DEBATE CADA VEZ MAIS OPORTUNO – Excerto adaptado de artigo de opinião publicado na imprensa especializada (Revista Renováveis Magazine e também na imprensa generalista semanário SOL), da autoria da Professora Doutora Maria João Pereira (IST) e do Investigador Doutor José Manuel Marques, Professor associado com agregação (IST).

As conclusões expressas são da responsabilidade dos autores.

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