Um projecto da NOVA IMS, integrado na iniciativa europeia COMMUNITAS, quer contribuir para a transformação de bairros em comunidades energéticas autónomas, onde a energia é gerida e transaccionada directamente entre cidadãos através de tecnologia blockchain.
Imagine um bairro onde quem tem painéis solares fotovoltaicos pode vender o excedente de energia directamente ao vizinho do lado, em vez de depender de um comercializador de electricidade. Esta possibilidade está a ser desenvolvida em Portugal pela equipa de investigação do NOVA Blockchain Lab, da NOVA Information Management School (NOVA IMS), no âmbito do projecto europeu COMMUNITAS.
A iniciativa, liderada pela EDP R&D Center e que reúne 18 parceiros de oito países, dispõe de um financiamento europeu de sete milhões de euros. Os primeiros testes-piloto arrancam este ano em vários países, incluindo Portugal, e vão avaliar o impacto da plataforma na autonomia energética local e na participação cidadã.
Em comunicado, os responsáveis pelo projecto contam que, actualmente, mesmo que a electricidade gerada por um pequeno produtor seja consumida por vizinhos próximos, o processo financeiro continua a ser controlado de forma centralizada: o excedente é vendido a um comercializador, que define preços e gere pagamentos. “O resultado é que os cidadãos permanecem como actores passivos no sistema energético, sem autonomia para decidir a quem vendem ou como partilham a energia que produzem”, acrescentam.
As Comunidades de Energia surgem para inverter esta lógica. Ao organizarem-se localmente – juntando cidadãos, empresas e entidades municipais – podem produzir, consumir e gerir electricidade de forma colaborativa, reduzindo custos, aumentando a autonomia energética e acelerando a adopção de fontes renováveis. O COMMUNITAS dá o próximo passo: criar uma “plataforma digital aberta e transparente” que permita às comunidades gerir directamente a sua energia e transaccioná-la em tempo real.
A contribuição da NOVA IMS para este projecto é a solução Wattswap, que recorre a tecnologia blockchain (que funciona como um banco de dados distribuído, que regista transacções de forma detalhada) para registar cada transacção de energia e aplicar automaticamente as regras do mercado através de contratos inteligentes. Com este sistema, “os pagamentos são feitos de forma justa e segura, sem burocracia nem intermediários. Para os cidadãos, significa poder comprar e vender electricidade entre si, transformar excedentes em receita e ter maior controlo sobre os recursos da comunidade”, lê-se no comunicado.
“O COMMUNITAS é sobre devolver às pessoas o poder de decidir o que fazer com a energia que produzem. O Wattswap mostra como bairros inteiros podem tornar-se comunidades energéticas activas, capazes de gerir os seus próprios recursos de forma transparente e colaborativa”, sublinhou Ian Scott, professor auxiliar da NOVA IMS.
Com conclusão prevista para 2026, o COMMUNITAS promete abrir caminho para um novo modelo energético: mais limpo, mais justo e verdadeiramente participativo, onde os cidadãos deixam de ser apenas consumidores para se tornarem protagonistas da transição energética.
Fotografia de destaque: © NOVA IMS









