O projecto europeu PLENTY LIFE propõe uma abordagem holística e integrada no que diz respeito ao planeamento urbano e energético. Entre as sete cidades europeias onde a abordagem está a ser testada encontra-se o Fundão, que aposta numa transformação sustentável e integrada.
Nas pequenas e médias cidades europeias está em curso uma transformação que promete mudar a forma como os espaços urbanos são planeados e como a energia é consumida. Pelo menos é esta a ambição do projecto PLENTY LIFE, um projecto financiado pela União Europeia que se concentra na ideia de Planeamento Espacial e Energético Integrado e Holístico, também conhecido como HISEP (holistic integrated spatial and energy planning).
Sete cidades foram escolhidas para implementar projectos-piloto focados nesta abordagem: Horn e Eggenburg, na Áustria; Sânnicolau Mare e Lugoj, na Roménia; Dolo e Castelfranco Veneto, em Itália; e, em Portugal, no Fundão. Com o apoio desta iniciativa, que tem a duração prevista de três anos, as cidades irão partilhar um orçamento de 1,8 milhões de euros.
Ao contrário do planeamento tradicional, que faz uma separação entre o uso do solo e a gestão energética, o HISEP propõe uma integração total. Citado num comunicado, Georg Neugebauer, coordenador do projecto na Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida de Viena, explica que “parece complicado, mas o HISEP trata, na verdade, de considerar o uso do solo urbano e o uso da energia urbana em conjunto, em vez de separadamente. A parte do planeamento espacial lida com casas, fábricas, lojas, transportes e espaços verdes, enquanto o planeamento energético se concentra na forma como a energia é produzida, distribuída e utilizada”.
Esta abordagem visa criar cidades mais eficientes, resilientes e habitáveis, onde o design urbano, a eficiência energética e o bem-estar das comunidades caminham lado a lado.
O caso do Fundão
Olhando para o Fundão, uma das cidades contempladas no projecto, o município propõe-se a implementar acções alinhadas com o seu Plano de Acção para a Energia Sustentável e o Clima (SECAP), focando-se em seis eixos prioritários:
- Edifícios Sustentáveis, através da melhoria do conforto térmico e da eficiência energética em edifícios públicos e privados, apostando em tecnologia e soluções passivas;
- Mobilidade Sustentável, com a promoção da transição energética no transporte, com ênfase em acessibilidade universal e transporte colectivo eficiente;
- Produção de Energia Renovável, impulsionando a autossuficiência energética e envolvendo a comunidade neste processo;
- Redes Sustentáveis, através da modernização das infraestruturas públicas para aumentar a resiliência energética;
- Valorização do Capital Natural, promovendo uma economia rural equilibrada e a sustentabilidade ambiental;
- Transição Justa e Participativa, com o envolvimento da população na transição ecológica, promovendo educação ambiental e participação cívica.
Apesar da ambição, o caminho do Fundão não é isento de obstáculos. O município enfrenta dificuldades na adaptação de edifícios antigos às novas exigências energéticas, principalmente devido aos altos custos, desafios na modernização dos transportes públicos e na mobilização da comunidade para um envolvimento mais activo em iniciativas de energia renovável.
A gestão de recursos naturais, a revitalização rural e a promoção de um desenvolvimento mais equitativo também são prioridades que exigem acção coordenada entre autarquias, universidades, empresas e cidadãos.
Para além dos projectos locais, o PLENTY LIFE desenvolve programas de formação e orientações para decisores políticos, funcionários públicos e planeadores espaciais, criou um banco de dados com estudos de caso e desenvolveu Indicadores-Chave de Transição para a Energia Limpa (KICET), uma métrica para monitorizar o progresso das cidades na descarbonização.
Este projecto integra o programa europeu LIFE CET (Clean Energy Transition) e alinha-se directamente com a Directiva da Eficiência Energética e a Directiva das Energias Renováveis.
Fotografia de destaque: © CM Fundão