Sublinhando que o aquecimento global e as mudanças climáticas são “o assunto mais importante que a humanidade tem para resolver”, o arquitecto Alberto Reaes Pinto, dirigente do CITAD – Centro de Investigação em Território, Arquitectura e Design, aponta para o peso que os edifícios têm nas respostas a esta questão. Em entrevista à Edifícios e Energia, o responsável diz que o alinhamento da construção sustentável e circular com a descarbonização das cidades são essenciais.
Entre a produção de emissões de gases com efeito de estufa, o consumo de materiais e de energia e a produção de resíduos, o sector dos edifícios é “responsável por grandes impactes negativos ambientais”, alerta Alberto Reaes Pinto, também professor decano da Universidade Lusíada de Lisboa. Por isso, na perspectiva do responsável, “é urgente a necessidade de reduzir os impactos negativos que a indústria de construção e a exploração dos edifícios produzem”. E como fazê-lo? Integrando os princípios da construção sustentável e da economia circular, responde.
“Há que encontrar outros modelos de concepção e de construção, com tecnologias mais produtivas, com mais utilização de menor volume de matérias-primas e de materiais mais renováveis, recicláveis e reutilizáveis”, declara. E parte dessa equação passará pela “substituição do processo de construção linear, que esgota os materiais e os produtos, que no fim do ciclo de vida dos edifícios nos quais estão incorporados são levados a vazadouro, ocupando espaço e contaminando o nível freático e as espécies vegetais e animais do local, pelo processo da construção circular, inserido na economia circular, que através da reciclagem produz novos materiais não extractivos”.
Como implicação, os próprios projectos terão de ter em conta conceitos como carbono incorporado e toxicidade dos materiais, por exemplo, e será “fundamental” ter um Projecto de Desconstrução e de Desmantelamento Selectivo paralelo ao Projecto de Arquitetura convencional, para facilitar uma nova vida aos recursos.
A equação passará também por uma visão mais holística dos edifícios e dos locais onde estão enquadrados. No que diz respeito, em particular, às cidades, que acolhem grande parte da população e consomem a maior parte dos recursos, será necessário “encontrar soluções (…) para a obtenção de economias sistémicas”. A ligação à mobilidade, promovendo a mobilidade suave e eléctrica, às energias renováveis, à melhor gestão da água e dos resíduos, e aos espaços verdes (para absorção de dióxido de carbono e para tornar as cidades menos impermeáveis e mais resilientes aos efeitos das alterações climáticas) são algumas das questões que aqui se levantam, segundo Alberto Reaes Pinto.
Para o pioneiro da construção sustentável em Portugal, esta mudança é cada vez mais imperativa, não só para ajudar a resolver alguns dos problemas associados ao sector, melhorando a eficiência de recursos, mas também porque a população mundial está a aumentar. “As necessidades de energia, de habitação, de carros, de alimentação estão a aumentar. Há um aumento total de edifícios para cobrir as necessidades. (…) [Mas] O crescimento que temos tido, depois da Revolução Industrial, é o crescimento à base de carbono. Isto é um problema dramático.”