A eficiência energética constitui um dos grandes pilares da transição energética. É uma das principais dimensões a ter em conta no desenho de uma estratégia de descarbonização, embora represente, ao mesmo tempo, um dos maiores desafios.

Não é por acaso que este tema está há décadas em cima da mesa, como sublinhou o professor António Costa Silva, num dos últimos “Debates Renováveis” organizados pela APREN. Isto acontece porque não está estabelecido um modelo de negócio que estimule uma verdadeira aposta na eficiência energética.

Vivemos numa “civilização bulímica em termos de recursos”, que gasta muito acima daquilo que é necessário, descreveu António Costa Silva. Precisamos de consumir menos energia. Tal como uma empresa que gere um sistema de abastecimento de água pode promover a eficiência hídrica, sem canibalizar o seu modelo de negócio, também as empresas de energia devem promover o uso da energia com racionalidade.

Todos os recursos têm de ser utilizados com parcimónia numa ótica de sustentabilidade, não só financeira, mas ambiental. A dimensão ESG (acrónimo em inglês para Environmental, Social and Governance) – que corresponde a fatores de natureza ambiental, social e de governo das sociedades – é cada vez mais valorizada pelas empresas, à semelhança do que acontece com a pegada carbónica.

Na interação com o consumidor, a eficiência energética também pode ser potenciada com as redes elétricas inteligentes. A digitalização possibilita uma gestão muito mais eficaz do consumo e produção da eletricidade, tornando palpáveis os ganhos associados e associando a todo o processo fontes de energia renovável.

Os MW de eletricidade evitados deverão criar um modelo financeiro, de modo a poderem ser monetizados e, dessa forma, criar as necessárias condições económicas, financeiras e contratuais que permitam desenvolver um modelo de negócio para a eficiência energética (passiva e ativa) que atraia as empresas e as pessoas, bem como o sistema financeiro e investidores, ou seja, que leve o setor privado a investir massivamente em eficiência energética.

Já este ano, em fevereiro, o Conselho de Ministros aprovou a Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios (ELPRE), que prevê a reabilitação do edificado nacional ao abrigo dos objetivos, nacionais e da União Europeia, de neutralidade carbónica e da promoção da eficiência energética em edifícios, públicos e privados. O investimento total estimado ascende a 143 492 milhões de euros até 2050, cerca de 4 783 milhões de euros por ano.

Do lado da indústria, existem, igualmente, múltiplas oportunidades para evoluir no sentido de uma maior eficiência na gestão dos consumos de energia e da utilização dos recursos naturais de forma a descarbonizar os processos industriais e a adotar modelos de economia circular, estabelecendo simbioses industriais que permitam tornar a indústria nacional mais competitiva e integralmente sustentável.

A criação de incentivos ao aumento da eficiência energética, à eletrificação, à incorporação de hidrogénio renovável e à incorporação de modelos de economia circular podem fazer a diferença nas indústrias mais poluentes.

Com a recente aprovação da Lei Europeia do Clima, no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, a meta de redução de emissões de gases com efeito de estufa, até 2030, aumentou de 40 para pelo menos 55 %, em relação a 1990. Esta ambição deverá agora ser traduzida em vários instrumentos europeus, incluindo o Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE).

Maior eficiência energética é sinónimo de menor volume de emissões de CO2 e GEE (Gases com Efeito de Estufa) e este desempenho tem de ser valorizado e reconhecido no mercado através de um mecanismo a desenhar e um modelo de negócio a desenvolver.

Os MW de eletricidade evitados deverão criar um modelo financeiro, de modo a poderem ser monetizados e, dessa forma, criar as necessárias condições económicas, financeiras e contratuais que permitam desenvolver um modelo de negócio para a eficiência energética (passiva e ativa) que atraia as empresas e as pessoas, bem como o sistema financeiro e investidores, ou seja, que leve o setor privado a investir massivamente em eficiência energética.

A fileira da eficiência energética pode atrair muitos investidores que têm aqui uma oportunidade de futuro alinhada com os objetivos da descarbonização. A eficiência energética tem, mais do que nunca, um papel fulcral a desempenhar. Portugal assumiu o compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050 estabelecendo uma trajetória de redução de emissões entre 45 e 55 % até 2030, entre 65 e 75 % até 2040 e entre 85 e 90 % até 2050, face aos valores registados em 2005. Apostar na eficiência energética também é descarbonizar.

As conclusões expressas são da responsabilidade dos autores.