Os impactos económicos provocados pela pandemia de Covid-19 vão abrandar os progressos feitos em matéria de eficiência energética a nível global, prevê a Agência Internacional de Energia (AIE). No relatório Energy Efficiency 2020, publicado ontem, a entidade alerta que esta situação vai “aumentar o desafio de alcançar as metas internacionais para a energia e clima” e exigir ainda mais uma “acção governativa forte”.
Em 2020, a intensidade de energia primária global, que mede a eficiência no uso de energia da actividade económica global, deverá melhorar em menos de 1 %. Este é o valor mais baixo desde 2010, sendo também um “nível de progresso muito abaixo do necessário para alcançar os objectivos comuns mundiais” em matéria de alterações climáticas, redução da poluição do ar e aumento do acesso à energia.
Por detrás deste abrandamento da eficiência energética global está a pandemia do novo coronavírus. A crise económica resultante da crise sanitária provocou uma queda nos investimentos em edifícios eficientes, assim como na aquisição de equipamentos e veículos com melhor desempenho energético. No conjunto, a queda do investimento em eficiência energética a nível global foi de 9 %, estima a análise.
“A compra de novos carros, que são mais eficientes do que os modelos antigos, abrandou, enquanto a nova construção de edifícios eficientes também deverá desacelerar”, constata a AIE. “Nos edifícios industriais e comerciais, os preços de energia baixos prolongaram os períodos de retorno ao investimento das medidas de eficiência energética em até 40 %, reduzindo a sua atractividade face a outros investimentos”.
Eficiência energética nos pacotes de estímulo à recuperação
Para atenuar esta situação, a AIE recomenda que os governos apostem mais na eficiência energética nos pacotes de estímulo à recuperação económica que estão a ser implementados nos vários países. O relatório mostra que, até aqui, mais de 60 % dos fundos disponíveis para a eficiência energética nestes pacotes se destinam ao sector dos edifícios ou à transição para a mobilidade eléctrica, incluindo a instalação de infra-estruturas de carregamento.
No que se refere à criação de emprego, é esperado que este investimento gere cerca de dois milhões de postos de trabalho em todo o mundo, entre 2021 e 2023, a maior parte no sector dos edifícios europeu. Porém, este número poderia duplicar, defende a AIE, se os esforços financeiros para a recuperação canalizados para a eficiência energética fossem maiores. “Muitas oportunidades continuam por desbloquear”, avalia a agência, dando conta de “desequilíbrios nos gastos entre os vários sectores”.
“Saudamos os planos governamentais com vista ao aumento da despesa em eficiência energética como resposta à crise económica, mas o que vimos até agora é desigual e está longe de ser suficiente”, afirmou o director-executivo da AIE, Fatih Birol. “A eficiência energética deve estar no topo da lista de tarefas para que os governos alcancem uma recuperação sustentável – é uma máquina de criar emprego, põe a actividade económica a mexer, ajuda os consumidores a poupar dinheiro, moderniza a infra-estrutura vital e reduz emissões. Não há desculpas para não lhe alocar muitos mais recursos”, disse.
