A cimeira COP26, a decorrer em Glasgow, promovida pelas Nações Unidas, para debater as alterações climáticas, tem espoletado a publicação de várias notícias relativas aos impactos ambientais de vários setores e os objetivos que, mundialmente, se pretendem atingir com alguma urgência. Vale a pena, por isso, pensar sobre os caminhos mais “verdes” por onde a Construção, indústria tradicionalmente consumidora de uma elevada quantidade de recursos naturais, pode (e já está a) caminhar, bem como os desafios que o setor enfrenta.

A Construção Civil tem vindo a posicionar-se num novo paradigma, através da adoção de métodos mais sustentáveis e materiais mais ecológicos, sendo, por isso, um alicerce importante no trajeto rumo à neutralização carbónica. Apesar de os players deste setor serem tradicionalmente resistentes à mudança, as soluções que já existem sugerem um futuro promissor – e não demasiado longínquo, espera-se.

As possibilidades são várias: materiais naturais com exploração sustentável ou mesmo argamassas “verdes” com utilização de materiais sobrantes permitem uma construção de qualidade, ambientalmente mais responsável. Em termos energéticos, a luz solar, um recurso renovável, pode ser utilizada, através da instalação de painéis solares para alimentação de sistemas de aquecimento de água.

Há, no entanto, algumas questões que atrasam o processo de transição “verde” do setor. Os principais emissores de CO2 e consumidores de água e energia são as indústrias, especialmente quando considerados grandes projetos, que implicam uma mobilização de recursos maior. Assim, o caminho para a consciencialização e ação global deve focar-se predominantemente nestes players. Ao nível das indústrias, a sustentabilidade é possível quando se tem a reciclagem enquanto uma das prioridades, assim como a gestão das águas, dos locais explorados e mesmo o controlo de todo o ciclo de vida de uma empreitada. Não considero que a fonte do problema sejam as pequenas obras ou remodelações que se fazem em casas, a pedido das famílias. Acredito que as novas gerações estão mais sensíveis às consequências da crise climática que atravessamos e, portanto, as soluções avançarão se as empresas forem pressionadas a isso.

As diretrizes devem vir de cima e o que espero desta cimeira mundial é isso mesmo: orientações concretas sobre a melhor forma de lidarmos, enquanto sociedade global, com esta realidade em desenvolvimento rápido. Especialmente numa altura em que, apesar de, sim, existirem soluções mais “verdes” para a Construção, elas ainda constituírem um nicho. Os custos de produção elevados não permitem, muitas vezes, que se apliquem mais. Os investidores em imobiliário sabem que optar por soluções sustentáveis, em vez de se seguir o rumo tradicional, lhes traz benefícios a longo-prazo. Já para a fileira, sinto que faltam incentivos. As ajudas dos fundos europeus e da própria proposta de Orçamento de Estado serão um ponto de partida, mas apenas isso mesmo. O setor da Construção aguarda, assim, por novidades da COP26, ciente de que o desafio é enorme, mas irreversível.

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