Num mundo cada vez mais digital, os sistemas de automação e controlo de edifícios (SACE) são já encarados como parte imprescindível de um parque edificado mais inteligente e sustentável. Enquanto director-geral da Geoterme e responsável pela comissão técnica de SACE da APIRAC – Associação Portuguesa da Indústria da Refrigeração e Ar Condicionado, António Vieira fala sobre as exigências colocadas ao sector e analisa como as circunstâncias actuais podem interferir na concretização dos objectivos.
A terceira edição do Guia Técnico de SACE, promovido pela comissão desta área na APIRAC, acaba de ser publicada. Porque faz sentido uma actualização?
Um dos grandes objectivos da comissão de SACE da APIRAC, vertidos nas diferentes edições do Guia Técnico, tem sido a transferência de conhecimento e a normalização e o esclarecimento da aplicação da legislação, entretanto, produzida, no âmbito das directivas europeias para a eficiência energética dos edifícios. A presente edição segue este desígnio, [já que] no campo da legislação foram actualizados os conteúdos para incorporar as recentes alterações introduzidas pelo DL n.º 101D/2020 e respectivos despachos e portarias, que se seguiram em Julho de 2021. Mas esta revisão não se limitou a essa componente de actualização legislativa: foi também dado um especial enfoque à revisão dos capítulos relativos à instalação dos sistemas, bem como à sua condução, manutenção e inspecção, o que faz deste um [verdadeiro] guia técnico – desde a concepção até à exploração dos edifícios. Esta terceira edição saiu para o mercado num contexto de especial exigência.
Portugal, através do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) e do Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050), assumiu como prioridade a redução de 55 % das emissões de gases com efeito de estufa até 2030, em relação a 2005, tendo igualmente aprovado uma Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios (ELPRE), que consideram os SACE como um dos pilares para atingir os objectivos de eficiência energética.
Enquanto responsável por esta comissão, como avalia a preparação das empresas portuguesas do sector para fazer face às mais recentes novidades na regulamentação?
Fruto do trabalho desenvolvido nesta comissão, as empresas de SACE estão bem preparadas e com um conhecimento profundo no que diz respeito às novidades da regulamentação. As restantes empresas portuguesas da área da engenharia dos edifícios não estarão tão conhecedoras das novas imposições regulamentares, sendo o Guia Técnico e todas as demais iniciativas da comissão, como foi o caso do V Encontro Nacional, ocorrido em 19 de Maio, exemplos do contributo para um maior esclarecimento, que é necessário promover neste sector.

Qual é o maior desafio que se apresenta?
Os SACE estão no centro da renovação tecnológica e ambiental actualmente em curso, funcionando como o encontro entre a descarbonização a digitalização no sector dos edifícios. É esse o maior desafio que actualmente se coloca.
“Os SACE estão no centro da renovação tecnológica e ambiental actualmente em curso, funcionando como o encontro entre a descarbonização a digitalização no sector dos edifícios. É esse o maior desafio que actualmente se coloca.”
Face à actual conjuntura internacional, com a crise energética desencadeada pelo conflito na Ucrânia, os SACE ganham mais ou menos relevância?
O Parlamento Europeu e, consequentemente, os legisladores nacionais têm vindo a demostrar uma preocupação cada vez maior com a descarbonização a digitalização no sector dos edifícios. Para se atingir essa meta, têm sido criadas directivas e legislação a nível nacional orientadas para esse efeito, nas quais os SACE ganham cada vez mais destaque pela importância que têm para se atingir esses objectivos. No actual contexto do conflito na Ucrânia, os SACE ganham ainda mais relevância, uma vez que estes sistemas têm um papel fundamental na transição energética em curso na Europa.
A par da subida dos preços, o mercado tem sido também perturbado por problemas nas cadeias de fornecimento. Esse tem sido um problema para as empresas de SACE, uma vez que dependem bastante de componentes electrónicos?
Os problemas com as cadeias de fornecimento têm estado presentes em todas as áreas, nomeadamente na dos edifícios, e os SACE não escapam a essa realidade, ainda mais porque incorporam componentes electrónicos, uma das fileiras mais afectadas pela actual crise de fornecimentos.
Como têm sido ultrapassados?
A resposta que cada fabricante tem conseguido dar para ultrapassar este problema tem sido um factor de diferenciação no nosso mercado, mostrando quais são os mais bem preparados para responder a este problema e manter um elevado nível de confiança num tempo tão conturbado como o que vivemos.
Essas dificuldades podem comprometer as exigências previstas nos regulamentos?
É preciso reconhecer que as dificuldades com os fornecimentos de componentes podem comprometer a ambição dos desafios colocados pela actual legislação, que refere a obrigatoriedade de, até final de 2025, instalar sistemas SACE em todos os edifícios de comércio e serviços, existentes, com potência nominal global igual ou superior a 290kW. No entanto, para já, a principal razão para comprometer esse objectivo é o facto de ainda não se conhecerem os critérios de aplicabilidade dessa obrigatoriedade – espera-se por uma definição em breve.
A nível europeu, antevêem-se novidades para breve – uma nova directiva para o desempenho energético dos edifícios (EPBD) e a introdução do Smart Readiness Indicator (SRI). Existe colaboração com a associação europeia eu.bac para preparar a chegada destes dois elementos?
A colaboração com a eu.bac tem sido permanente, com a presença assídua dos mais altos signatários desta organização nos eventos promovidos pela comissão de SACE da APIRAC, como foi o caso recente do V Encontro. Através desta colaboração, tem sido possível acompanhar e intervir de perto em todas as novidades que se preparam na união Europeia, entre elas o SRI e a nova EPBD.
Olhando para a actividade da Geoterme, como avalia o último ano e quais são as perspectivas de futuro da empresa?
Apesar do difícil contexto que vivemos, a Geoterme tem mantido um sinal de grande afirmação e forte crescimento nos últimos anos, quer no mercado nacional quer nos mercados internacionais onde actuamos. A excelente capacidade, criatividade e motivação de toda a equipa da Geoterme, aliadas à parceria com fabricantes de excelência, têm permitido ultrapassar as dificuldades a que o mercado está a assistir, como a escassez de matérias-primas ou o aumento geral dos preços.
Acreditamos que temos algo de diferente e inovador a acrescentar ao nosso mercado na criação de soluções que promovem uma utilização dos edifícios mais segura, económica e confortável, em que gestores e utilizadores, onde quer que estejam, possam, através das novas tecnologias, melhorar o seu desempenho e conforto. Queremos contribuir de uma forma activa para a descarbonização no sector dos edifícios.