Na nossa cultura ocidental, existe uma percepção do erro que ainda nos transporta para lugares escuros e arcaicos. Lugares que todos conhecemos e onde a criatividade ou o conhecimento são atropelados pelo estigma e discriminação. A culpa judaico-cristã continua enraizada na forma de nos relacionarmos e de trabalhar e algumas organizações continuam a usá-la, como há 50 anos, convencidas de que o caminho é por aí. Um tiro ao lado quando paramos para entender que os erros e as pequenas falhas fazem parte da engrenagem e são degraus indispensáveis para continuarmos no bom caminho. Existem muitos estudos sobre este fenómeno e a necessidade de o transformar.
Esta aprendizagem exige um olhar construtivo e pedagógico. Exige uma reflexão e uma sabedoria que acomodam, com muita facilidade, a competência e a vontade de fazer bem feito. É nesta dimensão positiva e construtiva que a motivação e a inspiração surgem e se desenvolvem. Acolher o erro é um acto de inteligência. Estigmatizar o erro é não querer andar para a frente.
Os erros não são todos iguais, já sabemos, e incluí-los todos no mesmo saco é provavelmente uma forma pouco séria de lidar com os processos e com as pessoas. Existem erros simples que podiam ser evitados, outros mais complexos que exigem maior atenção e, inclusivamente, outros que, pela sua complexidade, podem ser motores de desenvolvimento, se olharmos bem para eles.
Ora, fazer este caminho dá trabalho e exige muito das organizações e das pessoas. Exige, sobretudo, responsabilidade e ética. Fará sentido perseguir o erro apenas com o intuito de o descobrir e denunciar? Será que é por aqui que queremos fazer o nosso caminho seja em que área de trabalho for? O que ganhamos com isso? E, depois, o que se segue?
“Os procedimentos não foram seguidos” ou “os requisitos não foram cumpridos” são dois statements que, tipicamente, ouvimos a todo o momento. Segue-se normalmente um castigo. Faz parte do processo de estigmatização. É que, na maioria das organizações, o erro e a culpa estão quase que em osmose. O que os distingue é o espectro das consequências. Sucede que o castigo pode não vir sozinho. A humilhação é a confirmação de que as intenções não são boas e, chegados aqui, vale a pena pôr tudo em causa.
Nota de abertura originalmente publicada na edição nº137 da Edifícios e Energia (Setembro/Outubro 2021). Assine já!
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