Colocar Lisboa no pelotão da frente em termos de aproveitamento da energia solar, ao mesmo tempo que reforça a cultura e cidadania solares dos cidadãos, é a missão da SOLIS. A plataforma foi apresentada em Maio e quer desbloquear o potencial solar da capital portuguesa.

 

A elevada quantidade de horas de luz solar é uma das principais bênçãos deste “cantinho à beira-mar plantado”. De facto, ao longo de um ano, Portugal dispõe de cerca de 2500 a 3200 horas de sol, um potencial enorme e valiosíssimo que não poderá ser, de todo, desaproveitado. Assim, com toda a potencialidade que o nosso país dispõe através deste recurso, é natural que, cada vez mais, este seja aproveitado.

Como se sabe, o sol é uma das principais formas de obtenção de energia renovável, quer seja para fins de aquecimento, quer seja para electricidade. No entanto, nem sempre é fácil percorrer o caminho que leva ao aproveitamento máximo do potencial climático do nosso país.

“Qual é o custo de um sistema fotovoltaico? Qual é o tempo de recuperação do investimento? Será que o telhado do meu imóvel tem potencial solar suficiente?”. Estas são algumas questões que, muitas vezes, passam pela mente de um qualquer cidadão, não só preocupado com o ambiente, mas também preocupado com a sua carteira, sempre à procura de formas de poupar o ambiente e alguns euros. Nem sempre é fácil ter respostas concretas e assertivas para estas perguntas. Tudo depende de diversos factores e, por vezes, a informação não chega ao cidadão da forma mais clara e certeira.

SOLIS: a informação à disposição do cidadão

Lisboa é conhecida pela sua “luz” especial, beneficiando da boa exposição solar. De facto, se toda a energia solar que a capital portuguesa recebe fosse aproveitada e transformada em electricidade, a cidade era, em termos energéticos, autossuficiente. Foi com este propósito que a Lisboa E-Nova, a Agência de Energia e Ambiente de Lisboa, lançou o projecto SOLIS – a Plataforma Solar de Lisboa.

Esta nova iniciativa desenvolvida pela câmara municipal de Lisboa (CML), surgiu no seguimento da Carta do Potencial Solar de Lisboa, de 2012, promovida no âmbito do projecto europeu POLIS (Identification and Mobilization of Solar Potentials Via Local Strategies), cujo objectivo passava por promover o estudo do potencial de integração/adopção de tecnologias solares na Europa, com vista ao planeamento urbano solar, de forma a maximizar o aproveitamento da energia solar. Esse estudo, que avaliou várias cidades parceiras na iniciativa (para além de Lisboa, faziam parte Paris, Lyon, Munique, Malmo e Victoria), identificou e compilou os dados das várias metrópoles, que foram publicados no Manual de Planeamento Urbano e Solar. Em Lisboa, este Manual levou ao surgimento do Plano de Acção Solar, que a CML acabou por aprovar em 2010. Este documento dotou-se de crucial importância para a capital portuguesa, já que serve de orientação para várias políticas públicas, a nível de regulamentação de planeamento urbano e de mecanismos financeiros e legais para apoiar a adopção de tecnologias solares em meio urbano. Assim, e na sequência do Plano de Acção Solar, acabou por surgir o projecto SOLIS, que vem, de certa forma, actualizar a iniciativa anterior.

Em 2018, a Lisboa E-Nova juntou-se à empresa Municípia, que fornece, entre outras, várias soluções de sistema de informação geográfica (SIG), e desenvolveu o projecto SOLIS – a Plataforma Solar de Lisboa, após a aprovação pela CML da Lisboa Cidade Solar®, uma “estratégia de Lisboa para a energia solar fotovoltaica que integra o Plano de Acção para a Energia Sustentável e Clima (SECAP)”.

Desde logo, foi claro o objectivo e o âmbito desta plataforma: esclarecer os interessados acerca do potencial solar da capital portuguesa, e de que forma esse mesmo potencial pode ser utilizado. “(Esta) é, sobretudo, uma plataforma de informação à cidade, para as pessoas perceberem que têm este potencial e que podem aproveitá-lo”, afirmou José Sá Fernandes, vereador da Estrutura Verde da CML, durante a apresentação da iniciativa, no passado mês de Maio, no Dia Internacional do Sol – data criada na esfera do Programa para o Ambiente das Nações Unidas e que tem como pano de fundo a importância do sol como fonte de vida.

A plataforma SOLIS quer ser o eixo fulcral da promoção da tecnologia solar na sociedade lisboeta, contribuindo de forma decisiva para que a sua utilização seja, cada vez mais, uma prioridade, “no sentido da emergência e consolidação de uma cultura e espírito de cidadania solar”.

A iniciativa é uma das mais inovadoras a nível internacional, colocando ao dispor dos cidadãos da capital várias informações essenciais. Desde logo, a disponibilidade de três mapas informativos, com dados relativos à exposição solar, electricidade solar e evolução do número de instalações solares fotovoltaicas na cidade, mapas esses que poderão ser visualizados em três layers diferentes: cidade, freguesia e edifício. De acordo com Filipa Cabral Sacadura, secretária-geral da Lisboa E-Nova, para além destes mapas, a SOLIS “oferece ainda meios para a comunidade lisboeta participar e informar sobre a dinâmica solar da cidade, informação sobre as regras de mercado e sua dinâmica, conteúdos e produtos educacionais”, entre eles a curta-metragem de animação GIRA-SOLIS, o jogo SOLIS.app. Todos estes dados vão permitir que os cidadãos possam comparar o seu perfil actual de consumo com o potencial solar fotovoltaico que existe na sua zona de residência.

A SOLIS surge, assim, como uma reacção ao aumento de soluções com base em energia desta fonte renovável que se tem vindo a verificar na capital portuguesa. De facto, nos dias de hoje, existem mais de 300 painéis fotovoltaicos nos telhados lisboetas, levando a capacidade de produção de energia eléctrica para os 4 megawatts (MW). Entre 2008 e 2018, Lisboa passou dos 94 kW para os 4063 kW, o que representa um aumento muito significativo. Mas a cidade anseia mais e o objectivo passa por, daqui a dois anos, ter 12 MW de capacidade de energia solar fotovoltaica, elevando para 103 em 2030. Uma meta ousada e audaz, mas que a edilidade lisboeta acredita ser possível de atingir. Para isso, os edifícios municipais e das juntas de freguesia vão passar a ter estes painéis e está prevista a construção de uma central fotovoltaica em Carnide. Este equipamento irá alimentar a frota de autocarros eléctricos da Carris e os veículos eléctricos utilizados para a gestão de resíduos no município, conforme avançou José Sá Fernandes no passado mês de Setembro, aquando da passagem por Lisboa da exposição itinerante “Eficiência Energética”. Na altura, o vereador sublinhou a importância da central, garantindo que “era uma novidade”, sendo “a primeira central deste género”. Recorde-se que quase 40 % dos veículos do município lisboeta são eléctricos.

Lisboa segue, desta forma, a jornada rumo a 2020, ano em que será a “Capital Verde Europeia”. A capital portuguesa irá, no próximo ano, ser o centro das atenções europeu em termos de ambiente e sustentabilidade e a aposta nas energias verdes e na diminuição das emissões de gases com efeitos de estufa é um azimute fulcral na promoção da iniciativa. Segundo a CML, “pretende-se (…) o aumento da centralização de serviços nos edifícios para melhoria da performance, a aposta no solar térmico e fotovoltaico”.

Passo a passo

A SOLIS foi disponibilizada há poucos meses. Está, por isso, numa fase bastante prematura e embrionária. Mas, segundo Filipa Cabral Sacadura, “a sua promoção junto dos cidadãos será intensificada a partir de Setembro de 2019, não havendo ainda um balanço sobre a sua aceitação pelos cidadãos”. Mas a intenção é que a SOLIS não tenha prazo. “Pretende ser uma plataforma evolutiva ao longo do tempo, reforçando o seu papel de promoção da cidadania solar em Lisboa”, refere a responsável. Mas os dados estão lançados e a finalidade é clara: colocar a Plataforma Solar de Lisboa como o pilar referencial, a nível nacional, no contexto da energia solar, tornando Lisboa um exemplo a nível de eficiência energética e de diminuição das emissões de gases com efeito de estufa.

Esta é mais uma iniciativa que se posicionará ao lado das ambições do Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), que coloca o contributo das energias renováveis no consumo final bruto de energia em Portugal, em 2030, nos 47 %, sendo que o documento prevê que a energia solar represente um quarto da energia renovável, contribuindo de forma decisiva para que o nosso país diminua a dependência energética do exterior.