Depois das lições impostas pela pandemia para o sector do AVAC, é preciso mudar o paradigma da qualidade do ar interior (QAI) e melhorar os sistemas de ventilação de forma a assegurar a saúde das pessoas no interior dos edifícios, defende um grupo de 40 especialistas internacionais. O apelo, que recebeu já o apoio da REHVA, surge na forma de um artigo científico publicado em Maio na revista Science, no qual se sublinha a necessidade de uma revisão “fundamental” aos regulamentos para a ventilação de edifícios de forma a dar prioridade à saúde dos ocupantes.

O trabalho tem como base o facto de a via aérea ser o modo de transmissão potencialmente dominante de várias infecções respiratórias e não apenas da Covid-19, embora tenha sido a actual pandemia a levantar a discussão entre os especialistas sobre como tornar os ambientes interiores mais seguros para as pessoas. O grupo de autores foi liderado por Lidia Morawska da Universidade Técnica de Queensland. No total, os 40 autores, entre cientistas e engenheiros, são oriundos de 14 países, incluindo sete membros activos da Task Force criada pela REHVA para a Covid-19, que desenvolveu um conjunto de recomendações para ajudar o sector a mitigar os efeitos da pandemia.

Tendo como subtítulo “Os sistemas de ventilação de edifícios têm de melhorar”, o artigo foca-se na necessidade de que os regulamentos e as orientações para os edifícios passem a priorizar a saúde dos ocupantes e não o seu conforto. Para os autores, os sistemas de ventilação do futuro devem ser controlados com base na procura, flexíveis e dependentes do propósito ou actividade em causa, mas, acima de tudo, devem fornecer ar limpo na zona de respiração e remover imediatamente o ar contaminado antes que este se misture completamente no espaço interior. A transformação vai também implicar mudanças na operação dos edifícios, referem.

Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) disponibilize recomendações para os níveis permitidos de alguns químicos no ar e tenha, recentemente, lançado um roadmap para o tema da ventilação face à crise da Covid-19, um comunicado da FINVAC, associação finlandesa das sociedades de AVAC, sobre o estudo sublinha o facto de não existirem actualmente orientações específicas para a ventilação com vista ao controlo dos poluentes no ambiente interior ou recomendações internacionais para mitigar a presença de vírus ou bactérias provenientes das actividades respiratórias humanas. Para além disso, à excepção dos hospitais e de outras unidades de saúde, os restantes edifícios não têm qualquer controlo para a transmissão de doenças por via aérea, alertam os especialistas. Neste caso, o desafio, reforça a mesma fonte, passa por taxas de renovação baseadas no risco e não em termos absolutos, o que exige que seja feita uma avaliação do risco de infecção.

Num apelo aos decisores políticos, os cientistas defendem que, nos regulamentos, os agentes patogénicos presentes no ar devem receber uma atenção semelhante àquela que é dada, por exemplo, à segurança alimentar ou à água potável. A mudança necessária, defendem, deve ser similar à que aconteceu nas cidades britânicas no século XIX, aquando da implementação de sistemas de saneamento e de abastecimento de água. “No século XXI, temos de estabelecer as bases para garantir que o ar interior dos nossos edifícios é limpo e não contém agentes patogénicos, contribuindo para a saúde dos ocupantes tal como esperamos que a água que sai das nossas torneiras esteja limpa e livre de contaminação”, refere a FINVAC.

Segundo o artigo, levar a cabo esta mudança não só irá reduzir o risco de doenças respiratórias nos ocupantes no interior dos edifícios, como se poderá tirar partido de outros benefícios já comprovados de uma boa QAI, tais como o bem-estar, a melhoria da produtividade e uma maior capacidade de aprendizagem.

O artigo pode ser consultado aqui.