No segundo e último dia da 12ª edição da Conferência Passivhaus Portugal, João Gavião, arquitecto e membro fundador da Associação Passivhaus Portugal faz-nos um balanço deste evento que, este ano, bateu todos os recordes de participação.

 

Há workshops e exposições de várias empresas nesta conferência. Que tipo de empresas são estas? 

Todas as empresas que estão aqui presentes são parceiras da rede Passivhaus Portugal e temos a exposição organizada em diferentes sectores. Empresas de envolvente opaca, portanto tudo o que sejam empresas com materiais de construção para isolamentos, fachadas, coberturas; temos também o sector da estanquidade ao ar, tudo o que sejam empresas e marcas com soluções para resolver a estanquidade ao ar dos edifícios; temos o sector das janelas, com os fabricantes de caixilharias, empresas que fabricam janelas; temos depois a parte de sistemas e equipamentos, com a presença de marcas e empresas com soluções tanto para ventilação, climatização, águas quentes sanitárias, geração de energia; e depois há aqui uma outra parte que tem a ver com construtores, que pretendemos que também estejam cada vez mais presentes, tanto na conferência, como também na rede Passivhaus. 

Nesta edição foi atingido um recorde de expositores, são mais de 50. A cada edição têm notado um maior envolvimento de empresas com o conceito Passive House? 

Sim, temos. Desde o início, com a criação da Associação Passivhaus Portugal, e desde a primeira conferência, que foi em 2013, temos verificado que há um interesse cada vez maior por parte das empresas. Muitas delas são multinacionais, portanto já vêm com estas noções e esta orientação das suas sedes, mas depois também fabricantes 100% nacionais, sendo que alguns desde sempre estiveram presentes, mas vemos que há cada vez mais um interesse em pertencer a esta rede. No fundo isto é uma rede de parceiros e empresas que têm, de facto, soluções que estão disponíveis no mercado. Muitas vezes há até casos em que as empresas não identificam o verdadeiro potencial das suas funções de forma isolada, mas, integrada numa rede em que com um determinado produto combinado com outros produtos de outros fabricantes, nesta lógica de conjunto, verificam que há muito mais a ganhar. E é com esse espírito de criação de uma rede de parcerias que pensamos que está aqui a fórmula de sucesso porque só assim é que se consegue, de facto, mudar o paradigma do sector da construção em Portugal. 

Notam também uma maior aceitação e interesse do público em geral relativamente à Passive House? 

Verificamos um interesse crescente também por parte do público e isso vê-se no número de projectos, que é cada vez maior. Anualmente, há cada vez mais projectos a ser desenvolvidos e construídos para atingir o desempenho Passive House e isso é resultado da comunicação que tem sido feita pela Passivhaus Portugal, mas também por cada um dos parceiros. É essa a mais-valia desta rede. Obviamente dentro de cada especialidade e de cada sector, todos procuramos afirmar uma coisa em comum, que é o elevado desempenho e a excelência em determinado sector. Quer seja na parte do projecto, quer seja na parte da construção, quer seja na parte das marcas e fabricantes, cada um de nós tem um potencial tremendo de difundir as boas práticas. Verificamos também que há sempre o “boca a boca”. Tivemos aqui exemplos de clientes e donos de obra de Passive Houses que chegaram até à Passive House porque foi o arquitecto que lhes sugeriu ou porque foi um amigo que falou e eles próprios também vão ser agentes da mudança. No fundo, fazem parte da rede como moradores e donos de obra de uma Passive House e fazem parte desta rede. Temos tentado focar-nos no aumento da consciencialização de todos os agentes do sector, e isto engloba obviamente os donos de obra, que são o consumidor final e que têm um papel fundamental. A partir do momento em que identificam a Passive House como o objectivo a atingir, ele vai movimentar toda a engrenagem. Vai exigir um projecto que seja Passive House, vai exigir soluções construtivas que sejam Passive House, vai exigir uma qualidade por parte dos construtores e dos instaladores. Portanto, é um ponto fundamental para que se consiga fazer a transição que pretendemos. 

Há uma necessidade de sintonia entre empresas e profissionais no momento de projectar e construir uma Passive House, para evitar comprometer os princípios deste conceito. Que oportunidades traz esta conferência para as empresas? 

O objectivo fundamental da conferência é juntarmo-nos todos. É sempre o ponto de encontro de toda a rede. Isto é feito anualmente com toda a rede junta. Procuramos também replicar este modelo nas grandes feiras nacionais, tanto na Concreta, como na Tektónica. Não com esta escala, mas procuramos ter lá os nossos workshops e um consórcio de parceiros. É importante as pessoas reunirem-se e estarem lado a lado. Em relação à questão do projecto, nós costumamos dizer que a ferramenta fundamental é a qualidade do projecto. Antes de se pensar sequer em que materiais ou soluções técnicas vamos usar, é mesmo a inteligência que tem de ser colocada no projecto. E isto está patente logo nas primeiras decisões de projecto. Como orientar bem a casa, como ter uma forma da casa optimizada, como fazer o dimensionamento da área de janelas e isso são decisões que se tomam ainda sem ter marcas e soluções associadas. É nos primeiros desenhos e primeiros estudos em cada projecto e é fundamental que as equipas de projecto tenham esta capacidade e competência de priorizar aquilo que é fundamental que é o bom desempenho. E como foi aqui realçado, já é mais do que eficiência energética. Aquilo que os moradores de uma Passive House valorizam não é tanto a eficiência energética, que está no berço do conceito, mas é mais o conforto e o bem-estar na utilização dos edifícios. E isto é desempenho: conforto acústico, conforto térmico, qualidade do ar interior. É fundamental que as equipas de projecto consigam entregar isto aos clientes e diria que esse é o passo fundamental a dar para conseguirmos optimizar o desempenho do edifício e, com isso, ter construções sem acréscimo de custo de construção. Portanto, construir ao mesmo preço de uma construção convencional. 

Que balanço faz desta edição? 

O balanço é claramente positivo, pelo feedback que já temos tido por parte dos participantes, das empresas na exposição e também pelo número de inscritos. Tivemos um número recorde de inscritos e, por isso, o balanço é claramente positivo e estamos amplamente satisfeitos. 

A próxima edição já tem data marcada?  

Sim, continuará a ser aqui no Centro de Congressos de Aveiro e já está reservada.