Na procura de soluções para a actual crise energética, Portugal, Espanha e França chegaram ontem a um acordo para a criação do Corredor de Energia Verde. A infra-estrutura vai ligar a Península Ibérica ao resto da Europa e tem como missão derradeira o transporte de hidrogénio verde e de outros gases renováveis; porém, numa fase transitória, poderá ser usado para “o transporte de gás natural até uma certa proporção”, admitiu o primeiro-ministro português, António Costa.

O acordo alcançado ontem entre Portugal, Espanha e França para a criação do Corredor de Energia Verde põe um ponto final num dos bloqueios mais antigos no tema das interconexões entre a Península Ibérica ao resto da Europa, que envolvia o projecto MidCat com passagem pelos Pirinéus. A nova proposta irá “complementar as interconexões entre Portugal e Espanha, entre Celorico da Beira e Zamora, e também fazer uma ligação entre Espanha e o resto da Europa, ligando Barcelona e Marselha, por via marítima”, disse o governante português.

“Em vez de insistir com as dificuldades ambientais dos Pirenéus, encontrou[-se] uma alternativa por via marítima e, das duas possíveis, foi encontrada a melhor porque é aquela que permite ligar àquilo que é a coluna vertebral da rede de hidrogénio verde europeia”, destacou António Costa, frisando a “alteração da conjuntura energética na Europa e a compreensão de que temos de diversificar as fontes e as rotas de fornecimento de energia à Europa; e, também, as oportunidades que existiam relativamente ao gás natural”, uma vez que existe “hoje a tecnologia que nos permite apostar no hidrogénio verde e noutros gases renováveis”, contribuindo assim “para o esforço conjunto que todos temos de fazer para acelerar a transição energética”.

Na possibilidade de a infra-estrutura ser também usada para o transporte de gás natural, o primeiro-ministro alertou que este deve ser proporcional para assegurar a segurança energética europeia, mas “sem perder o foco” do projecto, que é “acelerarmos a transição energética para as energias verdes”.

A par do Corredor de Energia Verde, Portugal e Espanha estão também a desenvolver um projecto de armazenamento do conjunto de energia, revelou o responsável. Para o Executivo nacional, a iniciativa ajudará, por sua vez, a valorizar os seus recursos de lítio na Península Ibérica, para a construção de “baterias que possam ajudar a armazenar em grande escala de energia para responder a situações de crise” como a actual, em que, apesar da seca, há que manter a capacidade de produção eléctrica hídrica.

Chegado ao acordo entre partes, António Costa avançou que falta agora “acertar os pormenores, do ponto de vista técnico, em termos de financiamento europeu, nomeadamente através do que a Comissão Europeia pode destinar às interconexões europeias e também para acertarmos com a Comissão o financiamento desta nova ligação através da facilidade de interconexões europeias”. Os três países têm nova reunião marcada para 9 de Dezembro, em Alicante, Espanha, na qual se espera que sejam discutidos mais pormenores sobre o novo projecto.