A implementação da Directiva sobre o Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD) nos Estados-Membros foi o tema central da reunião do Conselho de Embaixadores do BUILD UP, que se realizou recentemente em Bruxelas. Relativamente ao objectivo de descarbonização total até 2050, os especialistas admitem que é possível alcançar a meta. 

O Conselho de Embaixadores do Build UP é composto por uma selecção de especialistas em energias renováveis e eficiência energética em edifícios. Nos dias 16 e 17 de Janeiro, os embaixadores debateram as tendências actuais e os últimos desenvolvimentos nestas matérias e houve um tema presente em todas as discussões e actividades: a implementação da reformulação da EPBD ao nível dos Estados-Membros. 

García Audi, responsável político na Direcção-Geral da Energia da Comissão Europeia, apresentou uma actualização da EPBD revista, abordando vários tópicos, desde a pobreza energética aos futuros documentos de orientação da Comissão Europeia. Sublinhou o apelo da directiva à criação de novas profissões no sector da construção, destacando a necessidade de gestores de projectos com competências para coordenar os diversos aspectos dos processos de renovação e construção sustentáveis. 

O responsável mostrou-se optimista quanto à Vaga de Renovação e aos objectivos de descarbonização para 2050: “Nós podemos fazê-lo. Vai ser difícil, mas há muitos benefícios. O desafio é muito claro: se falharmos, teremos um problema muito maior”. 

Relativamente aos desafios, Garcia Audi destacou a questão dos dados: “Não dispomos de muita informação sobre os edifícios. Após 20 anos de EPBD, ainda não temos a certeza sobre o número de edifícios. Os Estados-Membros precisam de apoio para alimentar o novo Observatório do Parque Edificado”. 

A EPBD e a indústria 

A visão da indústria sobre a EPBD foi também motivo para discussão, com a participação de Hélène Sibileau (BPIE – Buildings Performance Institute Europe), Céline Carré (Saint-Gobain) e Jozefien Vanbecelaere (Associação Europeia de Bombas de Calor – EHPA). 

Sibileau falou sobre a “mentalidade” necessária para abordar a aplicação da directiva: “Não se trata tanto de discutir materiais ou tecnologias”, disse, “mas de fazer as perguntas certas”. Abordando especificamente a questão “Porquê?”, para além do facto de a aplicação da EPBD ser um requisito legal, explicou que é essencial para atingir os objectivos de descarbonização. “Estamos actualmente fora dos eixos”, observou, referindo-se a dados de um relatório do BPIE. 

Carré delineou o papel da Saint-Gobain no apoio à EPBD, abordando tópicos-chave como os Planos Nacionais de Renovação de Edifícios, o conceito de Eficiência Energética em Primeiro Lugar (em inglês, Energy Efficiency First), Balcões Únicos/ One Stop Shops e avaliação de carbono durante todo o ciclo de vida. 

Por fim, Vanbecelaere, da EHPA, discutiu a forma como as bombas de calor são enquadradas na directiva, os próximos passos legislativos relativos ao aquecimento e o conceito de bombas de calor como um serviço, que poderá levar a custos de instalação iniciais mais baixos. 

Casos práticos de foco na renovação e descarbonização 

Na sessão foram ainda destacados alguns estudos de caso. A directora-geral adjunta da REGEA, Slavica Robić, partilhou os resultados alcançados pela Croácia na renovação sustentável, apresentando números concretos sobre a poupança de energia. Um foco central da apresentação foi o projecto CROSS (Croatian One-Stop-Shops), que visa estabelecer balcões únicos regionais para acelerar a vaga de renovação, fornecendo aconselhamento técnico, financeiro e jurídico. 

Brian Taammoli, director executivo da Neuroject, apresentou o caso dinamarquês, destacando o modelo nacional de aquecimento urbano. Referiu que, durante a fase de construção de um edifício, o consumo anual de energia é cinco vezes superior ao do simples aquecimento doméstico. Taammoli apresentou depois um estudo de caso sobre a optimização do consumo de energia durante a construção de um hospital universitário. As poupanças foram conseguidas com recurso a tecnologias avançadas, como sensores IoT e gémeos digitais. 

Ana Tisov, gestora de projectos no Instituto de Inovação e Desenvolvimento da Universidade de Liubliana, salientou que a Eslovénia constitui um exemplo particularmente virtuoso. No entanto, Tisov identificou desafios na aplicação da EPBD, como o seu alinhamento com as estratégias nacionais existentes e a resolução das dificuldades operacionais de aplicação de artigos específicos, especialmente devido à falta de definições ou exemplos claros – por exemplo, no caso dos edifícios com emissões zero. Tisov também apresentou projectos relacionados com a implementação de balcões únicos para promover a renovação de edifícios. 

Fotografia de destaque: © Shutterstock