O acesso aos equipamentos e formas de arrefecimento está a tornar-se uma questão cada vez mais importante, num mundo cada vez mais quente, e especialmente em países em desenvolvimento, onde ter acesso a um equipamento de ar condicionado é ainda pouco comum.

As temperaturas altas são uma realidade cada vez mais frequente e a onda de calor que assolou a Europa durante a semana passada é um bom exemplo. O alerta vermelho devido ao calor que se viveu em alguns países europeus, conhecidos pelas suas temperaturas mais moderadas, como França, Alemanha, Holanda ou Bélgica, serviram de mote para voltar a falar-se de sistemas de arrefecimento e da sua crescente necessidade.

Num artigo publicado pela Agência Internacional de Energia (AIE), é feita uma análise ao estado dos sistemas de arrefecimento no mundo e à grande desigualdade na distribuição. Se há países em que o ar condicionado é algo comum, fazendo parte das casas de mais de 90 % da população, como o Japão ou os Estados Unidos da América, o cenário é totalmente diferente em países de climas mais quentes, onde a temperatura média diária é superior a 25 °C. Aí, dos cerca de 2,8 mil milhões de habitantes, menos de 10 % da população tem acesso a aparelhos de ar condicionado nas suas casas.

Segundo as estimativas publicadas pela AIE, está previsto que, até 2050, cerca de 2,5 mil milhões de pessoas de países quentes tenham um ar condicionado. No entanto, 1,9 mil milhões ainda poderão continuar sem acesso a esses aparelhos.

Ainda assim, por todo o mundo, a procura de energia por arrefecimento está a ter o crescimento mais rápido a nível das concepções finais em edifícios. As vendas de unidades estão a aumentar três vezes mais rápido do que as melhorias de eficiência implementadas e as estimativas referem que, nos próximos 30 anos, serão vendidos, por segundo, dez equipamentos de ar condicionado.

Para colocar o arrefecimento no caminho que permita atingir a meta do Cenário de Desenvolvimento Sustentável, definida pela AIE, os padrões de desempenho dos mínimos de energia têm de pressionar os mercados para que melhorem as performances dos equipamentos de ar condicionado em mais de 50 % até 2030. Esta mudança poderia reduzir para metade as emissões de CO2 de arrefecimento dos locais, ao mesmo tempo que reduzia também poluição do ar local.

Como refere Fatih Birol, director executivo da AIE, “estabelecer padrões mais eficientes para o arrefecimento é um dos passos mais fáceis que os governos podem levar a cabo de modo a reduzir a necessidade de novas centrais eléctricas, ao mesmo tempo que se reduzem as emissões e os custos”.

Uma análise recente da AIE avalia a quantidade de energia que seria necessária para fornecer acesso a soluções de arrefecimento acessíveis e sustentáveis ​​para todos. Através do cenário “Arrefecimento para Todos”, a entidade internacional traça os desafios e as implicações, até 2100, do acesso a equipamentos de ar condicionado para as mais de 90 % de pessoas que vivem em climas quentes nos países em desenvolvimento. É que o contexto e o desafio são bem maiores, porque passam por fornecer, em primeiro lugar, acesso confiável à electricidade.