Em 2020, 23 % da energia usada na União Europeia (UE) para fins de aquecimento e arrefecimento teve origem em fontes de energia renovável. Os dados, divulgados pelo Eurostat em meados de Fevereiro, mostram um crescimento “estável” da quota de renováveis nos últimos anos, mas que, face à incerteza causada pelo recente conflito entre Rússia e Ucrânia, apontam para uma realidade preocupante: 77 % do aquecimento e arrefecimento na UE é feito ainda com origem em combustíveis fósseis, nomeadamente gás natural.

No que se refere às renováveis, entre os países da União, Portugal encontra-se na sétima posição, com uma quota de 41,5 % destas fontes energéticas usadas para aquecimento e arrefecimento. Na liderança desta lista está a Suécia, onde 66,4 % da energia usada para este fim é já de origem renovável (em particular, devido ao uso de biomassa e de bombas de calor). Bélgica, Países Baixos (8 %) e Irlanda (6 %) são aqueles que estão mais atrasados neste tema.

Esta tendência de crescimento “estável” do contributo de fontes de energia renovável para fins de aquecimento e arrefecimento acompanha aquela que tem sido também a evolução positiva das renováveis na generalidade do mix energético, que atingiu os 22,09 % em 2020 (Portugal com 34 %).

Cerca de metade do consumo energético europeu é para fins de aquecimento e arrefecimento, o que fez a Comissão Europeia identificar o sector como “crucial” para o cumprimento das suas ambições em matéria de ambiente e clima. Só nos edifícios europeus, estima-se que 79 % do total de energia final consumida seja para aquecimento e águas quentes sanitárias.

A par disso e do impulso que tem sido dado pela agenda europeia dos últimos anos com vista a alcançar a neutralidade climática em 2050, desenvolvimentos nos sectores industrial, de serviços e residencial – o que inclui uma tendência para a electrificação dos consumos e a disseminação das tecnologias de bombas de calor – têm acelerado este aumento progressivo das renováveis nesta matéria.

Dependência exterior coloca aquecimento e arrefecimento em risco?

Todavia, perante a situação actual, este crescimento não é suficiente para assegurar a independência energética dos europeus relativamente ao gás russo. Dados do Eurostat mostram que o gás natural, usado para electricidade e aquecimento, representou 23,7 % da factura energética total da UE em 2020 e que, entre as importações energéticas, este tem a segunda maior taxa de dependência exterior – 83,6 %. No que se refere às relações comerciais com Moscovo, só no ano que passou, 62 % das importações feitas pela UE à Rússia referiram-se a produtos energéticos, o equivalente a 99 mil milhões de euros, refere a mesma fonte,

Tudo isto, sem esquecer de que o actual conflito entre a Rússia e a Ucrânia tende a agravar a tendência da subido nos preços da energia na UE, cuja inflação em Janeiro já se situava nos 27 %, sendo o gás o subcomponente energético com valores mais elevados (41 %, representando uma subida de 13,5 % face ao mês anterior).

A situação de dependência fez soar os alarmes em Bruxelas, que se prepara para apresentar um pacote de medidas para reduzir a sua dependência energética do gás russo. Um estudo recente do think tank belga Bruegel apurou que é possível para a UE sobreviver ao próximo Inverno sem as importações de gás russo, mas que esta “deve unir-se na tomada de decisões difíceis e aceitando, em muitos casos, que não terá tempo suficiente para soluções perfeitas”, lê-se no sítio on-line do Bruegel.

Embora não se saiba ainda qual o plano europeu para esta situação – as medidas devem ser anunciadas esta semana* –, não é expectável que a política de descarbonização e de melhoria de eficiência energética dos edifícios seja posta de lado. Nesse sentido, numa reunião recente com a Agência Internacional de Energia, a comissária europeia para a Energia, Kadri Simson, fez saber que, “para lá do curto prazo”, a “melhor e única solução duradoura” para a segurança energética europeia é o Pacto Ecológico Europeu: “alavancar as energias renováveis e a eficiência energética o mais rápido quanto for tecnicamente possível”.

Recorde-se que a descarbonização progressiva do sector do aquecimento e arrefecimento nos edifícios é uma das medidas presentes na proposta de revisão da Directiva Energética para os Edifícios (EPBD), que deverá ser adoptada pela Comissão este ano.

 

* Notícia rectificada às 13h55, 08 de Março 2022, corrigindo a indicação de que as medidas europeias seriam apresentadas “na próxima semana”.