O Auditório da Sede Nacional da Ordem dos Engenheiros (OE) foi novamente o palco das Jornadas de Climatização, desta vez para a sua 25ª edição, no dia 25 de Setembro. As estratégias para edifícios sem emissões e a boa qualidade do ambiente interior foram os temas centrais do encontro.
O evento, organizado pela Comissão de Especialização em Climatização e Refrigeração da Ordem dos Engenheiros, em colaboração com a secção portuguesa da REHVA e o capítulo português da ASHRAE, foi realizado em conjunto com a Conferência Regional da Região XIV da ASHRAE (CRC). Por este motivo, todas as sessões foram conduzidas em inglês.
As 25.ªs Jornadas de Climatização reuniram oradores nacionais e internacionais, incluindo palestrantes da ASHRAE, os presidentes cessantes da REHVA e da ASHRAE, professores e diversos convidados de empresas que partilharam casos práticos e perspectivas do sector.
Descarbonizar o ambiente construído
A sessão da manhã arrancou com a apresentação de Thomas Lawrence, professor na Universidade da Geórgia e palestrante (distinguished lecturer) da ASHRAE, que se centrou no conceito de descarbonização do ambiente construído. O especialista destacou a importância dos padrões de desempenho dos edifícios, que obrigam os proprietários a melhorar continuamente o desempenho energético dos seus edifícios. Os padrões podem incluir consumos máximos de energia ou limites de emissões, visando a mitigação dos impactes ambientais e climáticos.
Com muitos países a estabelecerem objectivos de neutralidade carbónica para 2030 e 2050, a necessidade de agir é cada vez mais urgente. Thomas Lawrence fez referência à norma ASHRAE 240P, que define uma metodologia padronizada para quantificar as emissões de gases com efeito de estufa incorporadas e operacionais ao longo de todo o ciclo de vida dos edifícios, com requisitos mínimos para a documentação dessas emissões.
Lawrence sublinhou ainda que aumentar a eficiência energética continua a ser uma das formas mais eficazes de alcançar os objectivos climáticos. O papel da inteligência artificial na operação de edifícios também foi abordado como uma tendência transformadora.
Certificação energética inteligente
Seguiu-se Catalin Lungu, presidente cessante da REHVA, que apresentou as linhas gerais do projecto SmartLivingEPC, financiado pela Comissão Europeia e concluído em Junho deste ano. A iniciativa tem como objectivo desenvolver uma nova geração de certificados de desempenho energético inteligentes, capazes de integrar dados em tempo real, fontes renováveis e tecnologias digitais.
Através de casos-piloto em países como Grécia, Chipre, Estónia e Espanha, o projecto demonstrou como é possível combinar eficiência energética com soluções tecnológicas para criar edifícios mais sustentáveis, acessíveis e confortáveis. A plataforma web do SmartLivingEPC foi apresentada como uma ferramenta estratégica que permite recolher dados e usá-los para desenvolver políticas públicas mais eficazes. “Com base na leitura de dados, podemos oferecer ambientes mais saudáveis, eficientes e confortáveis para viver”, concluiu Lungu.
A procura por edifícios saudáveis
Ainda durante a manhã, Dennis Knight, presidente cessante da ASHRAE, abordou a saúde e o bem-estar no ambiente construído. Knight discutiu as crescentes exigências dos consumidores por espaços que promovam o conforto, a qualidade do ar, a iluminação adequada e o controlo da humidade.

Foi dado destaque à qualidade do ambiente interior, incluindo questões como a presença de poluentes nos materiais de construção – muitos dos quais ainda carecem de dados sobre os seus efeitos na saúde humana.
Além disso, temas como ventilação, qualidade do ar, iluminação circadiana (que respeita os ritmos biológicos humanos) e conforto térmico foram discutidos como factores que influenciam directamente a produtividade e o bem-estar.
Após uma breve pausa nas sessões, foram aprofundadas as soluções tecnológicas e as estratégias para a descarbonização dos edifícios, com enfoque em refrigeração, climatização, eficiência energética e planeamento urbano sustentável.
William Doll, da Carrier, apresentou o roteiro da empresa para a descarbonização, destacando o papel das bombas de calor como fonte renovável em Portugal e o uso crescente de fluidos refrigerantes naturais na Europa.
Já Stefano Salvagnin, da Vertiv, abordou a transição da refrigeração de data centers por ar para soluções líquidas híbridas, com o intuito de alcançar uma maior eficiência térmica em ambientes de alta computação.
Nas sessões da tarde, Paolo Falcioni, director geral da APPLIA – Home Apppliance Europe, alertou para o crescimento global da procura por sistemas de climatização, estimando que dois terços das habitações mundiais terão ar condicionado até 2050, o que implicará grandes desafios em termos de demanda energética.
António Grangeia, engenheiro e consultor externo do Grupo Centauro, reforçou que novas tecnologias de refrigeração estão a ser desenvolvidas para dar resposta às exigências ambientais e Ljubomir Jankovic, professor na Universidade de Salford, apresentou metodologias para conceber edifícios verdadeiramente zero carbono, considerando tanto as emissões incorporadas como as operacionais.
Kelly Jenkins, directora de desenvolvimento de negócios na Delta Controls/Geoterme, falou sobre soluções tecnológicas para melhorar a qualidade do ar em espaços comerciais, promovendo ambientes mais saudáveis e eficientes.
Antes do encerramento das 25.ªs Jornadas de Climatização, Daniel Malveiro, da BAXI, destacou as soluções da empresa para edifícios de energia quase nula (ZEB) com baixo impacto carbónico e Paulo Ferrão, do Instituto Superior Técnico e presidente do Conselho da Missão da UE para Cidades Climaticamente Neutras e Inteligentes, encerrou as intervenções técnicas com uma análise ao papel dos edifícios na transição para cidades climaticamente neutras, no âmbito da Missão da UE, destacando desafios como financiamento, governação multinível e barreiras culturais.
A sessão de encerramento contou com intervenções da coordenadora da Comissão de Especialização em Climatização e Refrigeração, Odete Almeida, e do bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santos, reforçando o compromisso com a sustentabilidade e inovação no sector da climatização e refrigeração.