“A acção nesta década é crítica para tirar proveito do potencial dos edifícios na mitigação” das alterações climáticas, sublinha o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (na sigla inglesa, IPCC). Esta é uma das conclusões de um relatório do terceiro grupo de trabalho do painel, publicado na segunda-feira e no qual se reforça a urgência de reduzir para metade as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2030.

Se o objectivo é limitar o aumento da temperatura atmosférica global em 1,5 °C, é necessário concretizar “reduções imediatas e profundas de emissões [de GEE] em todos os sectores”. Segundo a análise do IPCC, já existem opções para reduzir as emissões de GEE para metade em todos os sectores, desde o da energia e o dos edifícios, até ao das cidades, ao dos transportes e ao da agricultura, floresta e uso do solo.

No caso dos edifícios, o co-chair do terceiro grupo de trabalho do órgão das Nações Unidas Jim Skea salienta, em comunicado, que há um potencial por explorar. Apontando para a existência de exemplos de edifícios energia zero ou neutros em carbono, Skea é categórico quando diz que “a acção nesta década é crítica para tirar proveito do potencial dos edifícios na mitigação”.

Também ao nível da produção de materiais básicos, incluindo de construção, de aço e de químicos, é possível alcançar melhores resultados. Para ilustrar, o IPCC refere a existência de projectos-piloto “perto da fase comercial” para processos produtivos baixos ou neutros em emissão de GEE.

Perante o “desafiante” objectivo da neutralidade climática neste sector, o IPCC afirma que o caminho requer os seguintes passos: uso mais eficiente dos materiais, minimização do desperdício, reutilização e reciclagem de produtos, novos processos de produção, electricidade baixa ou neutra em carbono, hidrogénio e, “onde for necessário, captura e armazenamento de carbono”.

“Temos as ferramentas e o know-how para limitar o aquecimento global” 

Quanto mais tarde se agir para reduzir as emissões, mais acentuadas terão de ser. Com base nesta premissa, que já tinha sido avançada em relatórios do IPCC anteriores, o painel apela à acção imediata para que o pico das emissões seja alcançado antes de 2025 e haja uma redução de 43 % até 2030, para limitar o aquecimento global em 1,5 °C.

Segundo Hoesung Lee, chair do IPCC, “temos as ferramentas e o know-how necessários para limitar o aquecimento”, sendo disso evidências os menores custos de soluções energéticas renováveis, a crescente aposta na eficiência energética e no combate à desflorestação.

Para o responsável, também as lacunas no investimento podem ser colmatadas, existindo capital global e liquidez  suficientes, destaca o IPCC. “Há políticas, regulamentos e instrumentos de mercado que se estão a mostrar eficazes. Se forem ampliados e aplicados de forma mais alargada e equitativa, podem apoiar a redução profunda de emissões e estimular a inovação”, conclui Hoesung Lee.

A análise do terceiro grupo de trabalho do IPCC, que fornece uma avaliação actualizada das fontes globais de emissões de GEE, do progresso e das promessas nacionais no âmbito da mitigação das alterações climáticas, vai alimentar o Sexto Relatório do IPCC, cuja síntese será publicada no Outono de 2022.