Será que o BIM (Building Information Model) está a revolucionar o sector da construção? Quando falamos em inteligência digital na nossa actividade, a generalização teima em não acontecer. No entanto, as exigências quanto à utilização desta ferramenta fazem-se sentir em todo o mundo e os ganhos na sua utilização chegam aos 20 %.

Nos anos 80, surgiu uma nova geração de aplicações de desenho a preços razoavelmente acessíveis, que tornaram popular o seu uso pelos profissionais de engenharia e arquitetura. Programas como o AutoCAD, um software do tipo CAD — computer aided design, tornaram-se o paradigma de trabalho em especial ao nível das engenharias. Apesar de se ter tornado o suporte lógico para a representação gráfica do projeto a 2 dimensões (2D), rapidamente se sentiu a necessidade de permitir aos diferentes utilizadores uma melhor compreensão da ideia que se pretendia transmitir e uma visão mais realista.

Nestas metodologias de trabalho, o que efetivamente mudou, para os projetistas e demais intervenientes na indústria da construção, foi a ferramenta: mudou-se da caneta para o rato e do estirador para o monitor, mas, na sua essência, a filosofia da arte de projetar manteve-se a mesma, pois continuou a ter de se concretizar a representação gráfica através de elementos unidimensionais, que, ligados entre si, simbolizam os elementos físicos de uma instalação de uma forma bidimensional ou tridimensional e que permitem personalizações de rotinas e comandos.

Do CAD ao BIM

BIM é o acrónimo em inglês de Building Information Modeling, que se poderá traduzir literalmente por Modelação da Informação do Edifício.

Trata-se de uma metodologia de trabalho que utiliza um ambiente baseado num modelo coordenado e que é orientada para a redução de custos e de tempos de execução durante os processos construtivos. Baseia-se na partilha de informação entre os diversos agentes que intervêm no processo através do uso de diversos recursos tecnológicos. Saliente-se que BIM não é uma marca comercial de um produto de software. Os softwares que existem são simplesmente o suporte tecnológico desta metodologia.

Embora exista um certo consenso sobre as bases desta metodologia, não existe, porém, uma forma única de concretização e cada país tem seguido o seu próprio caminho no momento de definir a sua normalização, utilização e boas práticas.

Em 2014, foi publicada a Diretiva Europeia sobre contratação pública da União Europeia (EUPPD), Diretiva 2014/24/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de fevereiro, em que estabelece que todos os Estados Membros da UE devem fomentar, precisar ou impor, o uso de sistemas digitais nos seus processos de desenho e na contratação de projetos de construção e também na subsequente edificação, sempre que financiados com fundos públicos na União Europeia. A diretiva seria obrigatória a partir de 2016, embora se admitisse, desde logo, a sua prorrogação para 2018. A sua aplicação abrange tanto o setor público como o setor privado, mas o seu desenvolvimento centrou-se fundamentalmente no domínio da contratação pública.

Mesmo antes da publicação desta Diretiva, já alguns países europeus, nomeadamente o Reino Unido, Dinamarca, Finlândia e Noruega, tinham iniciado este caminho e atualmente já detêm larga experiência tanto no que se refere à sua implementação como ao desenvolvimento de normas e boas práticas para a sua aplicação.

BIM começou por ser definida como uma metodologia de trabalho colaborativa para a gestão de projetos de edificação ou obra civil suportada por uma maqueta digital, a qual inclui uma grande base de dados que permite gerir os elementos que fazem parte da infraestrutura durante todo o ciclo de vida da mesma.

Esta definição abrangia apenas os projetos de edificação e a designada obra civil, deixando de fora a referência a instalações e equipamentos, entidades de grande relevância no processo de construção devendo, pois, ter o direito próprio ao seu englobamento.

De que modo veio esta metodologia alterar a forma tradicional de elaborar um projeto? Em primeiro lugar, o modelo arquitetónico com o qual se trabalha e onde se situam as instalações é um modelo real. Isto é, não se trata simplesmente de uma representação simbólica dos elementos construtivos, mas, sim, de um ambiente em que estes incorporam todas as características dimensionais nos três eixos de forma simultânea.

Nesta plataforma de trabalho colaborativo, o sucesso só ocorrerá se avançarem todos em conjunto e ao mesmo tempo. Assim o exigem o rigor e a otimização de resultados, que são apanágio da engenharia.

Além do mais, o projetista de AVAC, ao implantar determinados componentes, por exemplo, unidades de produção de frio e calor, bombas, válvulas, tubagens, unidades de tratamento de ar, unidades terminais de difusão, etc., de uma forma bidimensional ou tridimensional, irá deter toda a informação dos objetos com todas as suas características físicas construtivas: ligações aeráulicas, hidráulicas e elétricas, o que facilita a visão real de como vai ficar a implantação prevista. Esta imagem passará a ficar acessível a todos os intervenientes, tanto ao autor do modelo arquitetónico como ao engenheiro projetista e também aos demais participantes no projeto. Com este ambiente deixamos de trabalhar sobre uma folha de papel, ou delinear num monitor, e passaremos a construir, com objetos, uma realidade física, embora ainda de uma forma virtual.

Esta perceção tridimensional pode fornecer a todos os intervenientes, desde o arquiteto, ao engenheiro projetista, ao instalador e até ao fornecedor dos equipamentos, a informação indispensável no sentido de se atingir a melhor solução construtiva. Os desenhos 2D e 3D, tal como os conhecemos hoje, serão os produtos resultantes do modelo virtual anteriormente referido. Os fabricantes, entidades indispensáveis ao processo, oferecem já praticamente a generalidade dos seus produtos em BIM.

A denominada 4ª Revolução Industrial, que aparece com um novo paradigma, Indústria 4.0, suportado pelo Programa com o mesmo nome, desenhado para a competitividade e para a inovação, irá combinar numerosos fatores como IoT (Internet das Coisas … e para as Coisas) ou Big Data. Será a transformação da economia em que se verificará a digitalização da indústria e da sociedade, permitindo a interatividade dos espaços físicos, digitais e até biológicos.  A transformação digital abrangerá todos os setores de atividade e, inevitavelmente, também os cidadãos.

Projetos AVAC em BIM
Para o sucesso de uma obra é inevitável que os projetos AVAC estejam integrados e interligados com a arquitetura e também com o dono de obra e com os empreiteiros. Nesta plataforma de trabalho colaborativo, o sucesso só ocorrerá se avançarem todos em conjunto e ao mesmo tempo. Assim o exigem o rigor e a otimização de resultados, que são apanágio da engenharia.

 

 

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