A Cimeira de Acção Climática das Nações Unidas juntou, em Nova Iorque, entre os dias 21 e 23 de Setembro, mais de 80 líderes de países, organizações internacionais, empresas do sector privado e da sociedade civil, onde estudos revelaram, mais uma vez, que se não forem tomadas medidas rapidamente, os danos no planeta serão irreversíveis.
Com um novo relatório em cima da mesa, que refere que os últimos cinco anos foram os mais quentes desde o início dos registos e as perdas de glaciares nunca foram tão grandes como as ocorridas entre 2015 e 2019, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o “tempo está a acabar, mas ainda não é tarde demais”.
A análise mais recente mostra que ainda é possível manter o aumento da temperatura média global abaixo de 1,5 °C, face aos níveis pré-industriais, caso se actue já. Para isso, é necessária uma redução de 45 % das emissões de gases de efeito estufa até 2030 e atingir a neutralidade carbónica até 2050. Para alcançar estes objectivos, António Guterres faz três pedidos: passar a taxar a poluição e não as pessoas, eliminar subsídios a combustíveis fósseis e parar com a construção de novas centrais de energia a carvão até 2020.
Segundo o estudo apresentado, existe “um fosso flagrante, e crescente, entre as metas acordadas para resolver a mudança climática e a realidade”. Como tal, “há uma necessidade urgente de transformação socioeconómica em sectores-chave como o uso dos solos e a energia para evitar um aumento perigoso da temperatura com efeitos, potencialmente, irreversíveis”.
Horas antes da Cimeira ter início, as Nações Unidas divulgaram um novo plano de acção climática que, em dez anos, pretende reduzir em 45 % as emissões de gases de efeito estufa nas operações globais. A estratégia pretende ainda que, dentro desse prazo, cerca de 80 % de electricidade seja gerada a partir de energia renovável.
Por seu lado, 77 países comprometeram-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa para zero até 2050, 70 países anunciaram que já iniciaram ou irão impulsionar planos de acção nacionais até 2020 e mais de 100 líderes empresariais realizaram acções concretas para se alinharem com as metas do Acordo de Paris e acelerar a transição da economia cinzenta para a verde.
Para aumentar a ambição e acelerar as acções para cumprir o Acordo de Paris, a Cimeira de Acção Climática concentrou-se em nove pontos de acção, interdependentes, entre temas como a saúde, a segurança e a diminuição da emissão de gases com efeito estufa. A transição energética também faz parte destes pontos, assim como o aumento de energias renováveis, da eficiência energética e do armazenamento. A indústria também foi incluída e, para a sua transição, foi criado um compromisso mais forte em sectores mais poluentes, como o aço e o cimento.

Foi ainda anunciada uma nova iniciativa para aumentar a eficiência energética e reduzir drasticamente emissão de gases de efeito estufa, além de outra para apoiar o acesso ao arrefecimento de forma sustentável e amiga do ambiente. O recém-criado e autodenominado Clube dos Três Por Cento (Three Percent Club) – uma coligação de países, empresas e instituições – anunciou o seu compromisso com um aumento global anual de três por cento na eficiência energética nas suas economias e negócios, de modo a atingir as metas climáticas globais e, ao mesmo tempo, melhorar a prosperidade em todos os países. Segundo dados divulgados pelas Nações Unidas, a eficiência energética oferece um potencial de 40 % das reduções de emissões, necessárias para ajudar a atingir os objectivos globais para o clima.
Este recém-lançado grupo inclui 15 governos (Argentina, Colômbia, Dinamarca, Estônia, Etiópia, Gana, Honduras, Hungria, Índia, Irlanda, Itália, Quênia, Portugal, Senegal e Reino Unido) e 13 empresas e organizações internacionais, todos reunidos com o objectivo de ajudar a colocar o mundo no caminho certo para alcançar as melhorias anuais necessárias em eficiência energética, de forma a cumprir o Acordo de Paris.
Portugal também faz parte deste grupo e, no seu discurso, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que o país reforçou as ambições para 2030, pretendendo reduzir as emissões de CO2 em 50 %, atingir um objetivo de eficiência energética de 35 % e produzir 80 % da electricidade a partir de fontes renováveis, eliminando totalmente o uso de carvão. Segundo o governante, Portugal vai cumprir esse objectivo usando “sistemas de energia sem emissões de carbono, mobilidade urbana, sequestro de carbono usando florestas e outros usos da terra, incluindo soluções baseadas na natureza”. Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que “Portugal já produz 54 % de energia a partir de fontes renováveis e já iniciou a eliminação progressiva dos subsídios aos combustíveis fósseis”.
Uma acção global rumo à eficiência energética é, aliás, considerada uma prioridade pela Agência Internacional de Energia (IEA), uma vez que é uma área onde se podem conseguir grandes reduções de emissões, ao mesmo tempo que se apoia o crescimento económico, poupa dinheiro aos consumidores e se reduz a poluição atmosférica. Segundo a IEA, a eficiência energética pode levar a uma diminuição de 12 % nas emissões de CO2, até 2040.
Foto: ©UN Photo/Cia Pak