Com o progresso tecnológico a ter um impacto transformador na vida das pessoas, o mercado das casas inteligentes está a ganhar velocidade, apoiado pelo grande interesse tanto dos utilizadores finais, como dos fornecedores de energia e dos fabricantes de produtos de climatização, entre outros. Até aqui, vários factores têm condicionado este crescimento, mas está para breve uma grande mudança, estima a britânica BSRIA.

Até 2030, haverá quase 300 milhões de lares em todo o mundo com, pelo menos, quatro sistemas inteligentes, sendo que um deles irá controlar uma função-chave da casa, como a iluminação, segurança, gestão de energia ou o AVAC, estima a BSRIA. As previsões da consultora britânica na área dos edifícios e construção, que tem vindo a analisar o progresso do mercado global das casas inteligentes, mostram grandes alterações neste sector, que, até muito recentemente era ainda um nicho, inclusivamente em países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos da América, Alemanha e Reino Unido. De acordo com os dados mais recentes da BSRIA, nos últimos cinco anos, o valor do mercado britânico das casas inteligentes mais do que triplicou.

Tendo em conta que existem cerca de dois mil milhões de famílias em todo o mundo, e mesmo considerando que este número irá aumentar, isso significa que cerca de 10 % de todas as casas do mundo irão ter um elemento inteligente relevante no espaço de dez anos. Além disso, é provável que cada casa inteligente tenha, em média, mais de 40 dispositivos inteligentes, o que equivale a mais de 10 mil milhões de dispositivos inteligentes em todo o mundo, ou seja, mais de um para cada pessoa.

Mas o que está a impulsionar esta mudança potencialmente revolucionária? Segundo a BSRIA, os smartphones estão entre os impulsionadores mais significativos da mudança, uma vez que conquistaram o mundo quase mais rápida e completamente do que qualquer outra invenção, e dá como exemplo o ano de 2009, em foram enviados para o mundo todo 150 milhões de smartphones. Até 2018, 3,3 mil milhões de pessoas tinham um smartphone, o que equivale a quase metade da população mundial. Com esta quantidade de pessoas a possuir um smartphone, abre-se um novo mundo de possibilidades, que inclui o acesso a uma vasta e crescente variedade de aplicações. O smartphone tornou-se um dispositivo familiar que pode ser usado para controlar tudo, desde a iluminação a um sistema inteligente de segurança residencial.

A consultora refere que as pessoas que confiam numa aplicação de telefone para gerir a sua conta bancária estão cada vez mais felizes por utilizá-la para interagir com a sua casa. Prevê-se, assim, no sector das casas inteligentes, que o maior crescimento seja em aparelhos inteligentes, apesar de, nuns estudos mais antigos, a BSRIA ter apurado que os aparelhos inteligentes, apesar de muito comentados, não estavam na lista dos mais procurados ou comprados, o que, segundo a mesma fonte, se deve a três razões. A primeira prende-se com o facto de que os aparelhos inteligentes, como fogões, máquinas de lavar ou aspiradores de pó, muitas vezes não eram efectivamente integrados numa casa inteligente mais ampla. E isso é exemplificado pelo paradoxo de que mesmo os fabricantes que oferecem aparelhos inteligentes e soluções de construção inteligente geralmente não os promovem de maneira coordenada. A segunda razão encontrada para os aparelhos não terem sucesso de vendas passa pelo facto de que o valor de alguns dos aparelhos inteligentes mais óbvios, como máquinas de lavar, dependia de poderem mudar de horário para aproveitar as tarifas mais baixas, fora dos horários de pico. Isso implicava um contador inteligente, cujo progresso na instalação foi atrasado por factores logísticos e de segurança. Apesar disto, a razão final que justificava o insucesso de vendas dos aparelhos inteligentes foi, provavelmente, a mais esclarecedora: o facto de muitos não serem realmente vantajosos, ou pelo menos não serem vantajosos o suficiente para justificar o investimento. Como exemplo, a BSRIA aponta as máquinas de lavar louça que podem encomendar, automaticamente, as recargas do detergente – um problema não está incluído entre as 500 principais preocupações da maioria das pessoas, no entanto, são anunciadas de uma forma tão faustosa como se tivesse sido descoberta a cura para uma doença mortal.

Ainda assim, a consultora refere que os mercados das casas inteligentes vão desenvolver-se por todo o mundo. A disseminação de casas inteligentes para novos mercados no mundo irá acelerar o crescimento do mercado. A partir de 2019, a BSRIA estima que mais de 90 % das residências inteligentes estejam em apenas seis países: EUA, China, Japão, Alemanha, Reino Unido e Itália, com os EUA a representar mais de metade do mercado actual. No entanto, estão previstas duas grandes ondas de expansão que deverão desafiar a actual situação. A primeira antevê que, até 2025, a China deverá ultrapassar os EUA no tamanho de mercado, reflectindo a previsão de que a China – que já é a maior economia do mundo quando se considera o poder de compra – irá tornar-se a maior, em termos absolutos, muito em breve. Isso será sentido no final da década de 2020, à medida que o resto do mundo começa a voltar-se para as casas inteligentes de tal forma que sua participação no mercado, que actualmente ainda é pequena, deverá representar, até 2030, quase metade do total.

A segunda onda de expansão deve-se ao facto de a população estar a envelhecer em quase todas as economias desenvolvidas, o que também vai afectar o mercado das casas inteligentes. No mais recente estudo aprofundado que a BSRIA realizou sobre casas inteligentes, as soluções de “autonomia assistida” representavam 1 % a 2 % do mercado. No entanto, a tecnologia inteligente tem um grande papel a desempenhar para que as pessoas mais idosas possam permanecer nas suas casas por mais tempo, através da monitorização da sua saúde, ajuda na gestão da casa ou até mesmo providenciando “companhia”.

Mas, com um mercado tão grande e em rápido crescimento, não é de admirar que os gigantes da tecnologia como a Apple, Amazon, Google e Samsung estejam cada vez mais interessados em casas inteligentes. As empresas cujo foco até agora eram dados vêem estas casas como um terreno aliciante. A casa inteligente do futuro será tão mais bem-sucedida tanto quanto melhor entender o comportamento e os desejos dos consumidores domésticos e fornecer soluções atractivas. Isso significa explorar o máximo de informações possível, tanto sobre o comportamento geral, como as particularidades de cada proprietário, o que levanta grandes questões sobre privacidade. A BSRIA refere que, até agora, os consumidores têm mostrado estar bastante esclarecidos ao negociar a troca entre compartilhar os seus dados pessoais e obter os serviços que desejam, geralmente a um preço reduzido ou de graça. O que ainda não se sabe é até que ponto isso se estenderá à privacidade do lar, acrescentando ainda a influência de factores como a cultura local e as salvaguardas legais. Mas, neste campo, ainda não existem previsões.