Depois da certificação de sustentabilidade para edifícios, o U.S. Green Building Council lançou um selo de qualidade para cidades. Acima de tudo, o LEED for Cities quer ser um instrumento para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

É ponto assente que a principal missão de um líder de uma cidade é torná-la num espaço cada vez melhor e mais apelativo quem nela mora, trabalha ou, simplesmente, a visita. Ao longo dos anos, presidentes de câmara e os mais variados líderes das grandes metrópoles têm vindo a procurar as melhores e mais eficientes soluções para que a vida dos seus cidadãos seja progressivamente mais agradável. Nos últimos tempos, os temas da sustentabilidade e da adaptação e mitigação das alterações climáticas tornaram-se questões prementes na vida quotidiana e, naturalmente, nos objectivos dos líderes das cidades, que não querem perder o comboio da luta contra o aquecimento global, a favor de um ambiente mais sustentável e eficiente. Mas de que forma é que as grandes cidades poderão vender a sua imagem de localidade sustentável?

LEED for Cities: o que é e como funciona?

Em 1998, o U.S. Green Building Council (USGBC) colocou em prática um sistema de certificação intitulado LEED, ou seja, Leadership in Energy and Environmental Design (Liderança em Energia e Design Ambiental, em português). Esta certificação surgiu como forma de quantificar o sucesso e valorização do comportamento ambiental dos mais variados projectos. Por exemplo, nos edifícios, a certificação LEED avalia a sua sustentabilidade, tendo em conta vários parâmetros de racionalização de recursos, como a água, energia, qualidade do ar interior, importância regional, inovação na concepção, entre outros.

Com a criação deste selo, o USGBC deu a entender que considera necessário promover e estimular a expansão de construções sustentáveis. Desde o primeiro momento que aquele organismo deduziu ser fundamental abranger a indústria, colocando-a dentro da própria certificação, garantindo, assim, que uma objectivação das práticas em termos de construções sustentáveis.

Nessa linha, foi imperioso desenvolver um método específico, que o USGBC designou como LEED, de forma a criar técnicas e procedimentos para a concepção de edifícios sustentáveis. O propósito passou, entre outros aspectos, por: reconhecer a indústria da construção como líder em termos ambientais, estabelecer um padrão universal de medição para definir o que é um edifício verde, estimular as melhoras práticas em termos de projecto e construção que promova a integração, transformar o mercado de construção, dar a conhecer e sensibilizar os cidadãos para as vantagens da construção verde, etc. Ao longo dos anos, entre 1994 e 2013, a certificação evoluiu, deixando o campo da construção nova e abraçando um sistema mais amplo, onde configuram todas as vertentes do processo de desenvolvimento e construção.

O exigente caminho para chegar à certificação

O trajecto para ser distinguido com a certificação LEED for Cities não é fácil. As cidades que se proponham a obter essa distinção têm, obrigatoriamente, de seguir determinados parâmetros, rigorosamente estabelecidos pela USGBC, e quantificáveis.

De acordo com o U.S. Green Building Council, para garantir a certificação LEED, são necessárias várias medidas, de modo a obter uma pontuação mínima, em vários critérios de construção verde, e que se encontram divididos em várias em subcategorias de cinco categorias principais: implantação sustentável (26), utilização racional da água (10), energia e atmosfera (35), materiais e recursos (14) e qualidade do ambiente interior (15). Além desta pontuação, existem bónus de 6 pontos para a concepção e inovação e 4 pontos para a componente regional. Cada categoria tem pré-requisitos que são obrigatórios para que a certificação seja garantida.

Para as cidades, a avaliação para obtenção da certificação LEED for Cities é feita através de 14 parâmetros, como energia, resíduos, água, transporte, educação, saúde, igualdade e segurança. As autoridades de cada cidade submetem, através de uma plataforma própria (Arc), que, automaticamente gera uma pontuação de desempenho entre 0 e 100, e que retrata os resultados das medidas adoptadas pelas cidades. Os níveis LEED possíveis de obter são: Certificado (40-49 pontos), Prata (50-59 pontos), Ouro (60-79 pontos) e Platina (>79 pontos).

O mundo vai acolhendo a certificação LEED for Cities

Este sistema de certificação desenvolvido pela USGBC tem vindo, aos poucos, a ser uma medida procurada pelas grandes cidades, como sinónimo de preocupação com a sustentabilidade e com a problemática das alterações climáticas.

Actualmente, apenas uma cidade europeia obteve a certificação LEED for Cities. Savona, em Itália, junta-se, assim, a um restrito grupo de metrópoles com esta certificação. Para Ilaria Caprioglio, mayor da cidade de Savona, é um orgulho “a cidade ter sido reconhecida como a primeira cidade europeia LEED. O nosso compromisso é moldar um ambiente urbano sustentável e resiliente e uma cidade mais segura e equitativa. Acreditamos que o LEED for Cities é o instrumento adequado para que aumente a consciencialização sobre o desempenho actual, e o resultado futuro das cidades, de modo a apoiar os decisores”.

Se, na Europa, Savona é um “oásis num deserto”, nos Estados Unidos da América, algumas cidades já receberam a distinção. A começar pela capital do país, Washington D.C. “É do melhor interesse em termos de segurança, economia e futuro levar a sustentabilidade e resiliência a sério, já que é a capital do país. Temos uma especial obrigação de liderar as questões ambientais. Estamos orgulhosos por sermos reconhecidos como a primeira cidade mundial com a distinção LEED Platinum City. O nosso compromisso com estas questões não termina aqui. Esperamos continuar a construir uma cidade mais verde, mais resiliente e mais sustentável”, afirmou o mayor da cidade, Muriel Bowser. Para além da capital do país, também Phoenix e Arlington receberam a distinção LEED for Cities. Noutras latitudes, Songdo, na Coreia do Sul, também já se encontra certificada, desta feita, com o selo para comunidades. “Nos mandamentos de sustentabilidade que definimos para a Songdo IBD, sempre imaginamos como a qualidade de vida dos nossos residentes, trabalhadores e visitantes poderia ser reforçada por um compromisso com um desenvolvimento ambiental responsável. A certificação LEED for Communities vai validar o compromisso de Songdo para estar na vanguarda da transformação urbana sustentável”, explica Stan Gale, chairman da Gale International, um dos fomentadores da Songdo International Business District (IBD).

LiderA: o caso português

Em Portugal, existe, igualmente, um sistema que avalia e certifica o ambiente construído, tendo em vista a sustentabilidade. O LiderA surgiu em 2000, por intermédio de Manuel Duarte Pinheiro, docente do Instituto Superior Técnico (IST) e fundador da IPA – Inovação e Projetos em Ambiente, no âmbito de uma investigação para atingir e desenvolver um sistema de avaliação em termos de sustentabilidade, não só em edifícios, mas igualmente em espaços exteriores e zonas construídas.

O sistema LiderA é, segundo o portal das iniciativa, um sistema voluntário desenvolvido para avaliar a construção sustentável, e assenta em seis eixos principais em termos de bom desempenho ambiental: integração local, recursos, gestão das cargas ambientais, qualidade do serviço e resiliência, vivências socioeconómicas e uso sustentável. Este sistema, que se destina aos vários players do mercado da construção (promotores, projetistas, empreiteiros, gestores de empreendimentos, etc.), organiza-se entre os níveis G e A+++, sendo que, actualmente, o nível E é o mais usado.

Manuel Pinheiro, fundador da iniciativa, sublinhou, em declarações exclusivas à Edifícios e Energia, que o LiderA é um tipo de certificação “ajustado à realidade nacional e que se foca no desempenho ambiental, social e económico, desempenho passivo, reabilitação, entre outros. Tem uma estrutura de programas comuns para as diferentes tipologias (residencial, turismo, serviços) e uma escala de desempenho que permite efectivamente compreender qual o grau de procura da sustentabilidade e criar valor para as várias partes”, mas “tem um foco de contexto” diferente da certificação LEED. Em Portugal, o hábito de certificação ainda está pouco enraizado. Segundo o docente do IST, estas ferramentas “ainda são pouco conhecidas e utilizadas. O seu conhecimento é superficial e, por vezes, impreciso”.

Ainda assim, no nosso país, entre as certificações existentes, destaca-se o Belas Clube de Campo, do promotor André Jordan Group. O empreendimento surgiu com uma preocupação premente em manter a beleza natural do local, adequando-a a um projecto urbano e, em 2012, tornou-se no primeiro empreendimento, em Portugal, a garantir a certificação de sustentabilidade do LiderA com a classe A+. Posteriormente, as novas townhouses foram distinguidas, também pelo LiderA, com a certificação A++, o que eleva o estatuto do Belas Clube de Campo a líder na questão da sustentabilidade.

Existe, é certo, ainda um longo caminho a percorrer, até que certificações com vista à sustentabilidade se tornem uma prática usual e uma ferramenta diária dos vários intervenientes do mercado. No entanto, já vão sendo dados pequenos passos. A ADENE – Agência para a Energia disponibiliza, na sua oferta formativa, duas formações de certificação internacional em construção sustentável: Green Associate (LEED GA), que tem como intuito dotar os profissionais dos melhores conhecimentos na área da construção sustentável e boas práticas de design; e o LEED Accredited Professional (LEED AP BD+C), que coloca o destaque na certificação de novas construções e grandes reabilitações, com apresentação de todas as fases e pontos-chave deste tipo de projectos. Ambas as formações dão destaque à certificação em construção sustentável LEED.

O espaço para evoluir é amplo, mas é igualmente imperativo que os diversos elementos do mercado comecem a colocar o tema da certificação como uma questão primordial, com vista a atingir o objectivo último: a sustentabilidade. “É preciso iniciar a aplicação [da certificação] desde a fase mais inicial possível e olhar a sustentabilidade como uma oportunidade de melhoria de desempenho”, remata Manuel Pinheiro.