Depois de dez anos de “crescimento e transformação”, o sector de geotermia europeu prepara-se para entrar numa nova fase: a “Década da Geotermia”. Quem o diz é o presidente da associação industrial EGEC – European Geothermal Energy Council, Miklos Antics, por ocasião do lançamento do relatório anual referente ao mercado europeu do sector em 2020.

Segundo o responsável, desde 2010 – ano em que a EGEC publicou a primeira análise anual de mercado –, o sector da geotermia europeu cresceu de forma “sustentada”, apesar das tendências contraditórias, assistindo-se, por um lado, à adopção de políticas “prejudiciais” ao seu crescimento em países “determinantes”, e, por outro, a que a tecnologia se tornasse mainstream com disseminação de bombas de calor geotérmicas. Em 2020, a pandemia de Covid-19 trouxe mais um impasse, no entanto, o sector está convicto de que os seus efeitos sejam de “curto prazo”. Em contrapartida, “o impacto do Pacto Ecológico Europeu, combinado com a ênfase internacional em alcançar a meta de emissões para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC, deverá alavancar o investimento em todos os tipos de energia geotérmica na Europa e globalmente, fazendo desta a década geotérmica”, pode ler-se no documento.

Face a este cenário e para ter um papel “decisivo” na transição energética, a associação sublinha que a energia geotérmica precisa de “políticas de apoio, uma concorrência justa com o mercado de carbono, o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis, um enquadramento de licenciamento e autorizações ligeiro e investimentos em inovação”.

Ponto de situação em 2020

Olhando para os números do ano que passou, o sector da geotermia europeu para fins de aquecimento permaneceu em terreno “positivo”. Para isso, contribuíram a adopção de políticas nacionais para a descarbonização do aquecimento e arrefecimento em edifícios, e o impulso dado nesse sentido ao nível municipal em detrimento dos projectos de gás natural – em 2020, 350 redes de distribuição de calor urbanas com base em energia geotérmica estavam em operação e outras 232 em desenvolvimento.

Em 2020, como resultado da pandemia, as vendas de bombas de calor geotérmicas registaram quedas “significativas” em alguns mercados, mas, aponta a análise, mantendo “as tendências estáveis recentes”. Ao todo, foram vendidas 100 mil unidades na Europa, com Suécia, Alemanha e Países Baixos a representarem mais de metade destes números.

O relatório estima que haja 2,1 milhões de unidades de bombas de calor geotérmicas, totalizando 27 GWth, em operação, com mais incidência nos climas nórdico e alpino – o que se justifica não só pela maior competitividade da tecnologia em climas frios, mas também pelo facto de estas regiões apresentarem rendimentos mais elevados. Entre os mercados emergentes, destaque para a Estónia e Polónia, cujos regulamentos têm sido favoráveis à instalação destes sistemas.

Portugal não encaixa nestes padrões e, segundo o relatório, a adopção de bombas de calor geotérmicas é inferior a 1 % (número de sistemas/1000 habitações). Por sua vez, para fins de electricidade, o país tem instalada uma capacidade de 33 MW. A nível europeu, este número é superado por quatro países: Turquia (1688 MW), Itália (916 MW), Islândia (754) e Alemanha (41 MW).

Os principais destaques deste relatório podem ser consultados aqui.

 

Fotografia: ©The World Bank