O 5º Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis (CLBMCS 2024) vem dar continuidade à série de congressos com início em 2014, em Guimarães, e edições posteriores em João Pessoa, Brasil (2016), Coimbra (2018) e Salvador, Bahia (2022). Também o Congresso Construção 2024 surgiu na sequência de congressos similares que decorreram em Lisboa (2001 e 2015), Porto (2004), Coimbra (2007 e 2012), Porto (2018) e Guimarães (2022), envolvendo áreas como os materiais de construção, as tecnologias construtivas e a sustentabilidade na construção.

As sessões plenárias arrancaram com o tema “Os cimentos e a construção de baixo carbono para um mundo com 10 bilhões de habitantes”, do professor Vanderley John, professor titular de Materiais e Componentes de Construção da Escola Politecnica da Universidade de São Paulo. O cimento foi realçado como “uma invenção que mudou o mundo” e que desempenhou um papel no desenvolvimento da civilização. As matérias-primas abundantes, a sua óptima durabilidade, a pouca manutenção, o baixo custo e o facto de qualquer pessoa conseguir produzir este material foram algumas das razões apresentadas para explicar o seu sucesso. Contudo, o cimento é um grande emissor de dióxido de carbono (CO2) antropogénico: num mundo em que são esperadas 10 mil milhões de pessoas a partir de 2085, e para as quais será necessário construir habitações, é importante pensar na redução da pegada carbónica do cimento. O professor Vanderley John referiu que proceder a ajustes na sua formulação, por exemplo adicionando um filler, permite o uso de menos água, menos cimento e, consequentemente, menos CO2. Vanderley afirmou que estas alternativas não serão baratas, mas que são necessárias e que é na inovação que está o desafio porque “não se pode resolver os problemas do presente com as pesquisas e soluções do passado”. 

Uma outra sessão, conduzida por Vasco Peixoto de Freitas, professor catedrático na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, teve como tema “A importância da física das construções na reabilitação de edifícios”. O docente referiu que “o desafio da descarbonização vai obrigar a imensa reabilitação de edifícios” e, em 2020, estimou-se que a renovação do parque de edifícios residencial em Portugal irá implicar um investimento de 110 mil milhões de euros. O também director do Laboratório de Física e Tecnologia das Construções referiu que as reabilitações a fazer devem ser “adaptativas”, indo ao encontro das características de cada construção. Neste sentido, foi apresentado o caso práctico do projecto de reabilitação do Mercado do Bolhão, no Porto. 

A última sessão plenária do primeiro dia do evento foi dedicada à “Inovação na Construção Modular” e teve Fernando Branco como palestrante, professor catedrático do Instituto Superior Técnico. Numa época em que ainda predominam as construções com recurso a tijolo, a apresentação centrou-se na necessidade de repensar a construção e as técnicas utilizadas. Foi referido o conceito de pré-fabricação e como este evoluiu da conceção de elementos estruturais para a pré-fabricação de painéis de fachada e até de pequenas moradias. Fernando Branco indicou que o futuro deve passar por um avanço na construção com a sua automatização e uma linha de produção, o que pode vir a reduzir tempo e custos. 

Para além das sessões plenárias, durante os congressos terão lugar dois seminários de especialização sobre “Técnicas de beneficiamento e caracterização de tecidos e fibras vegetais para uso como reforço de sistemas construtivos” e a “Avaliação do ciclo de vida para a descarbonização e eficiência de recursos da construção”.  

No decorrer do evento, serão apresentadas cerca de 300 comunicações com variados temas: materiais eco-eficientes e de baixo carbono; física das construções e edifícios saudáveis; patologia e reabilitação; economia circular na construção; gestão da construção; avaliação e modelação da sustentabilidade; materiais inovadores; caracterização do edificado. Na sessão de encerramento, os três melhores artigos em que o primeiro autor seja um aluno de doutoramento ou mestrado inscrito no congresso serão premiados. 

Ao longo dos três dias do evento serão recebidos cerca de 350 participantes, oriundos de países da Europa, América Latina e África.