Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 157 da Edifícios e Energia (Janeiro/Fevereiro 2025).
Os autores: José Dinis Silvestre, Inês Flores-Colen, Cristina Matos Silva, Giovanna Schäfer Bartels – CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
A aplicação de isolamento térmico numa cobertura ou pavimento é determinada durante a fase de projeto. Inicialmente, a escolha do material de isolamento baseia-se na compreensão das solicitações do elemento em questão, seja este a cobertura ou o pavimento. Para tal, é necessário considerar, tanto as condições de utilização, como as ações a que o isolante estará sujeito ao longo da sua vida útil, assegurando um desempenho funcional adequado e compatível com as características do material. Simultaneamente, deve ser garantida a correta utilização da cobertura, de forma a evitar a degradação precoce do sistema [1].
As opções de materiais de isolamento térmico e as respetivas propriedades desejadas podem variar em função do tipo de cobertura ou pavimento. Exemplos incluem coberturas planas tradicionais ou invertidas, coberturas inclinadas com isolamento contínuo, descontínuo ou aplicado na laje de esteira, bem como pavimentos revestidos pela face inferior, superior ou intermédia, a depender ainda do contacto, ou da ausência deste, com a zona exterior.
Para selecionar a opção mais adequada de material isolante, é fundamental analisar e compreender se as suas propriedades (Figura 1) são compatíveis com o tipo de cobertura e o respetivo uso.

Figura 1 – Propriedades a considerar na seleção de um isolante térmico
Entre as características mais relevantes destaca-se a resistência à água ou à humidade, dado que a absorção de água compromete a resistência térmica do material. Assim, no caso de se optar por um isolante não resistente à água, é imprescindível assegurar que este não entre em contacto com a água [2].
Adicionalmente, uma propriedade essencial que influencia o desempenho térmico do isolante é a resistência mecânica. Uma interpretação incorreta desta característica pode resultar na perda de espessura do material, seja devido ao adensamento causado por forças de compressão superiores à sua capacidade mecânica.
Por outro lado, a perda de espessura pode também ser provocada por erros de execução, como inadequações no suporte e na montagem. Deste modo, é necessário avaliar a facilidade de aplicação do material ao escolher a solução de isolamento.
A reação do material à exposição a temperaturas extremas deve ser devidamente analisada. Existem materiais cuja resistência se mantém inalterada em altas temperaturas, como o aglomerado de cortiça expandida (ICB), que suporta até 150ºC, e a lã mineral (MW), que conserva as suas propriedades até 450ºC.
Por outro lado, isolantes sintéticos podem perder a sua capacidade isolante a partir dos 75ºC. Todos os isolantes convencionais têm o seu desempenho comprometido em temperaturas inferiores a -30ºC [2]. Em regiões onde as temperaturas no verão raramente ultrapassam os 40ºC e quase não há temperaturas negativas no inverno, estas limitações podem não afetar significativamente o desempenho diário. Contudo, é imprescindível avaliar se a resistência térmica do material é compatível com aplicações que envolvem a fixação a quente de camadas superiores, como nos sistemas de impermeabilização.

Para além das características mencionadas, outras propriedades devem ser analisadas, tais como a condutibilidade térmica, a permeabilidade ao vapor de água, o comportamento face a variações térmicas, a reação ao fogo, a durabilidade e a certificação.
EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS PARA OS ISOLANTES A SEREM APLICADOS EM COBERTURAS EM TERRAÇO
Serão abordadas três possíveis variações de coberturas em terraço que podem ser revestidas com isolantes térmicos: a cobertura em terraço invertida, a cobertura em terraço tradicional e a cobertura verde.
A cobertura em terraço invertida caracteriza-se por ter a camada de isolamento térmico posicionada acima da solução de impermeabilização. Este tipo de cobertura é o mais exigente, resultando, frequentemente, numa maior espessura do isolante.
As propriedades que devem ser verificadas no isolamento térmico deste tipo de cobertura são as seguintes:
• Deve ser resistente à água, uma vez que a sua absorção pode ocorrer de três formas distintas: imersão, capilaridade e permeabilidade ao vapor de água (através do contacto direto com a chuva);
• Deve apresentar propriedades imputrescíveis, de forma a não apodrecer, devido à intensidade da ação da água na camada;
• Deve apresentar resistência à compressão adequada ao seu tipo de uso, às ações a que será submetido e ao tipo de revestimento final da cobertura em questão;
• Deve haver compatibilidade físico-química com o sistema de impermeabilização a ser adotado [2].
Além das suas propriedades, é necessário aumentar a espessura do material em 20 % para compensar as perdas térmicas causadas pela presença de água, que pode acumular-se nas juntas das placas. Também é importante ter atenção às características específicas de execução para evitar inconformidades nas fixações de suporte, nos encaixes perimetrais (quando houver, como sobreposição) e nos remates, a fim de prevenir pontes térmicas [2].
Dentre as soluções mais comuns utilizadas, destacam- se as lajetas pré-fabricadas compósitas por uma betonilha reforçada, e poliestireno extrudido (XPS) [2], como mostra a Figura 2.

Figura 2 – Solução corrente de lajetas compósitas por betonilha reforçada e poliestireno extrudido (XPS).
A cobertura em terraço tradicional caracteriza-se por ter a camada de isolamento térmico posicionada abaixo da solução de impermeabilização. Devido ao posicionamento das camadas, este tipo de cobertura permite a aplicação de uma maior variedade de soluções. No entanto, é fundamental analisar essas soluções em função das ações às quais a cobertura será submetida, garantindo que os requisitos de desempenho e durabilidade sejam atendidos.
As propriedades que devem ser verificadas no isolamento térmico deste tipo de cobertura são as seguintes:
• Apresentar estabilidade dimensional, mesmo diante de variações de temperatura, o que se torna mais importante à medida que a camada de proteção da impermeabilização se torna mais leve;
• Deve apresentar resistência à compressão adequada ao seu tipo de uso, às ações a que será submetido e ao tipo de revestimento final da cobertura em questão;
• Deve haver compatibilidade físico-química com o sistema de impermeabilização que utiliza soldadura química [2];
• Apresentar bom comportamento perante temperaturas extremas, já que alguns sistemas de impermeabilização são aplicados com calor.
Dentre as soluções mais comuns utilizadas, destacam-se a lã mineral (MW), conforme mostra a Figura 3, o poliestireno expandido (EPS), o aglomerado de cortiça expandido (ICB), o poliuretano (PUR) e o poliestireno extrudido (XPS) [2].
A cobertura verde em terraço, exemplificada pela Figura 4, pode ser tanto do tipo invertida quanto do tipo tradicional, devendo seguir as recomendações específicas para cada tipo. Além das propriedades já mencionadas para outros tipos de cobertura, a instalação de uma cobertura verde exige a consideração de ações adicionais, relacionadas com os efeitos que o sistema verde pode ter sobre a estrutura e o isolamento térmico.
EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS PARA OS ISOLANTES A SEREM APLICADOS EM COBERTURAS INCLINADAS
Serão abordadas três possíveis variações da aplicação de isolamento térmico em coberturas inclinadas: aplicação contínua, aplicação descontínua e aplicação na laje de esteira.

Figura 3 – Solução de placas de lã mineral (MW) impregnadas com betume.

Figura 4 – Cobertura verde em Córdoba.

Figura 5 – Placas de poliestireno extrudido (XPS) com perfis metálicos incorporados.
A escolha do isolamento térmico depende, principalmente, do local de instalação, do uso pretendido para o espaço sob as vertentes inclinadas, da constituição da cobertura e da forma de execução e instalação.
Para a cobertura inclinada com aplicação contínua, é essencial garantir as condições adequadas de fixação do isolante, bem como a sua proteção contra compressão mecânica e ação da água. O tipo de isolante deve ser compatível com o suporte do revestimento e com o revestimento da cobertura. Devido ao exposto, há a possibilidade de os isolantes não atenderem às exigências mínimas.
A composição da cobertura inclinada discutida inclui a camada de regularização do suporte, a fixação do isolante, a continuidade do isolante (que deve ser mantida nas zonas de cumeeira e larós) e a aplicação de uma barreira para-vapor entre o suporte e a camada de isolamento térmico, caso existam caleiras em material impermeável sobre o isolante [2]. Se o isolante for rígido, não há necessidade de fixação em inclinações inferiores a 27 %, desde que não esteja exposto a ações significativas no plano da cobertura. No entanto, quando o isolante for pouco rígido ou flexível, é necessária a fixação com dispositivos ou materiais de colagem apropriados.
As propriedades que devem ser asseguradas neste caso são:
• Deve ser analisada a resistência à compressão do material selecionado, considerando o revestimento da cobertura, o sistema de apoio e o sistema de fixação do isolante, a fim de minimizar a perda de espessura do isolante;
• Quando houver camada auxiliar de impermeabilização, é necessário verificar a compatibilidade físico-química quanto às soluções de soldadura química.
Dentre as soluções mais comuns utilizadas, podem ser utilizadas placas de poliestireno expandido (EPS), aglomerado de cortiça expandida (ICB), lã mineral (MW), e poliuretano (PUR), no entanto, destacam-se as placas de poliestireno extrudido (XPS) com perfis metálicos incorporados, ilustrado na Figura 5. Ao funcionar como ripas, garante condições adequadas de ventilação devido ao espaço altamente ventilado entre o revestimento da cobertura e o isolante. Além disso, utiliza-se fixações plásticas, que ajudam a minimizar as pontes térmicas, oferecendo resistência à água e uma reação ao fogo adequada [2].
Na cobertura inclinada com estrutura descontínua, como a Figura 6 exemplifica, pode não haver suporte contínuo para a instalação do isolante, o que exige cuidados adicionais quanto à sua fixação. Neste caso, o isolante deve apresentar propriedades de resistência superiores às exigidas para uma laje com aplicação contínua.

Figura 6 – Exemplo de cobertura inclinada com estrutura descontínua.
Na composição da cobertura inclinada em questão, o isolante é aplicado sobre a estrutura, enquanto o forro é colocado sob a mesma. Isso ocorre porque o isolante não conta com suporte contínuo, sendo essencial que a sua espessura se mantenha uniforme em todas as áreas, incluindo as de fixação. Para garantir a continuidade do isolamento térmico, devem ser utilizadas fixações plásticas, que também auxiliam a minimizar pontes térmicas [2].
As propriedades que devem ser asseguradas neste caso são:
• A resistência à compressão do material selecionado deve ser analisada, tendo em conta o revestimento da cobertura, o sistema de apoio e o sistema de fixação do isolante, de forma a minimizar a perda de espessura do material;
• No caso de existir uma camada auxiliar de impermeabilização, é necessário verificar a compatibilidade físico-química entre os materiais;
• O material deve ser não inflamável, com uma reação ao fogo adequada;
• Deve apresentar resistência à água e à humidade;
• Tendo em vista a aplicação em suporte não contínuo, o material deve também exibir rigidez ou resistência à flexão;
• Deve garantir um espaço de ar suficientemente ventilado entre o revestimento da cobertura e o isolante.
Entre as soluções mais comuns utilizadas, destacam-se as placas de poliestireno expandido (EPS), aglomerado de cortiça expandida (ICB), lã mineral (MW) e poliestireno extrudido (XPS). No entanto, também é possível recorrer à utilização de painéis pré-fabricados que integram soluções, como hidrófugos, poliestireno expandido (EPS), e acabamento inferior, o qual pode funcionar simultaneamente como impermeabilização auxiliar, isolamento térmico e forro.
Ao aplicar o isolante térmico na laje de esteira, deve-se ajustar as propriedades do material a esta variação, tendo em consideração as ações mecânicas. O isolante pode também ser aplicado no interior do pavimento, garantindo a continuidade da camada de isolamento térmico.
As propriedades que devem ser asseguradas neste caso são:
• Apresentar resistência à compressão adequada, especialmente no caso de esteiras acessíveis;
• Deve ser não inflamável e possuir uma reação ao fogo adequada, particularmente em áreas próximas a chaminés ou a circuitos elétricos;
• Deve contornar elementos presentes no plano da esteira, garantindo a continuidade da camada de isolamento térmico;
• Caso haja circulação no local, deve ser providenciada uma camada de proteção para o isolamento térmico, verificando-se a resistência mecânica, as características físico-químicas e a resistência à água do material;
• Deve ser instalada uma barreira para-vapor entre o suporte e a camada de isolamento térmico, especialmente se o isolante for permeável;
• Caso o isolante não seja aplicado no interior do pavimento, deve ser garantida a presença de uma camada de apoio sob o mesmo, com resistência mecânica e rigidez adequadas.

Figura 7 – Aplicação de papel triturado.
Entre as soluções mais comuns para isolamento térmico, destacam-se as placas de poliestireno expandido (EPS), aglomerado de cortiça expandida (ICB), poliuretano (PUR) e as placas, mantas ou rolos de lã mineral (MW). Além disso, existe também a solução de projeção de papel triturado com aditivos (Figura 7), ou a utilização de grânulos leves de argila expandida.
EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS PARA OS ISOLANTES A SEREM APLICADOS EM PAVIMENTOS
Serão abordadas as diferentes variações de aplicação de isolamento térmico em pavimentos, considerando as diferentes localizações do isolamento, que podem ser aplicados na face superior, inferior ou intermédia do pavimento em contacto com zonas exteriores, sob a laje térrea em contacto com o solo, ou nos tetos das zonas interiores.
Os isolantes devem ser analisados de acordo com as ações mecânicas previstas, a degradação esperada e as condições de exposição a que serão submetidos. Além disso, é necessário considerar se o isolamento será fixado ao revestimento da laje ou se será utilizado como revestimento do pavimento, atendendo a requisitos específicos.
Para o isolamento térmico na face superior do pavimento, que está em contacto com zonas exteriores, devem ser garantidos os seguintes requisitos:
• Deve ser garantida a resistência à compressão, tendo em conta o tipo de piso utilizado, o sistema de apoio do piso e a fixação do isolante, com o objetivo de minimizar a perda de espessura do material;
• Para fixações do piso com material de colagem, é fundamental verificar a compatibilidade físico-química entre os materiais utilizados;
• Deve apresentar propriedades imputrescíveis, de forma a não apodrecer devido à intensidade da ação da água, e também apresentar reduzida absorção de humidade.
Entre as soluções mais comuns utilizadas, encontram-se o betão leve com granulado de aglomerado de cortiça expandida (ICB) ou de poliestireno expandido (EPS), placas de vidro celular (CG), poliestireno expandido (EPS), aglomerado de cortiça expandida (ICB), poliuretano (PUR), poliestireno extrudido (XPS), como mostra a Figura 8, e placas ou mantas de lã mineral (MW).

Figura 8 – Poliestireno extrudido (XPS) como material isolante sob o revestimento do piso.
Para o isolamento térmico na face intermédia do pavimento, que está em contacto com zonas exteriores, devem ser garantidos os seguintes requisitos:
• Deve ser garantida a resistência à compressão, não podendo sofrer qualquer compactação ou adensamento que diminua a espessura original do isolante;
• Deve apresentar propriedades imputrescíveis, de forma a não apodrecer, e também apresentar reduzida absorção de humidade.
Entre as soluções mais correntes, encontram-se grânulos de lã mineral (MW) ou regranulado de aglomerado de cortiça expandida (ICB). Também são utilizados lã mineral (MW), poliestireno expandido (EPS) ou papel triturado com aditivos a granel (Figura 9), além de placas de poliuretano (PUR).

Figura 9 – Aplicação de papel triturado com aditivos a granel no intermédio do pavimento.
Para o isolamento térmico na face inferior do pavimento, que está em contacto com zonas exteriores, devem ser garantidos os seguintes requisitos:
• Deve apresentar resistência à água e à humidade, sendo estanque e impermeável;
• Deve proporcionar isolamento térmico necessário junto à parede e revestimento;
• Deve manter aspeto agradável durante a vida útil;
• Deve ser não inflamável, apresentando boa reação ao fogo.
Entre as soluções mais comuns, destacam-se os tetos falsos com isolantes ou que suportam camadas de isolamento térmico, podendo ser em materiais pré-fabricados descontínuos, rebocos ou espuma projetada.
Quando o isolante é aplicado sob a laje térrea, em contacto com o solo, devem ser tomados cuidados rigorosos para prevenir a exposição do material a ações imprevistas. A aplicação deve ser realizada com elevados requisitos de qualidade, assegurando propriedades mecânicas e resistência à água.
Portanto, deve garantir-se:
• Resistência à compressão adequada ao peso do pavimento e das camadas superiores, de modo a evitar perda de espessura do isolante;
• Que o terreno esteja bem compactado;
• Que a superfície seja regular e contínua para receber as placas de isolamento no caso de camadas drenantes compostas por gravilha ou materiais similares;
• As placas do material utilizado devem ter juntas transversais desencontradas;
• Deve haver sistema de impermeabilização, com barreira à humidade ascensional sobre a superfície de isolamento;
• Deve haver compatibilidade físico-química com o material do piso e o sistema de impermeabilização;
• Deve apresentar propriedades imputrescíveis, de forma a não apodrecer, não absorver e ser insensível à água.
Entre as soluções mais comuns utilizadas, destacam-se as placas de lã mineral (MW), poliestireno expandido (EPS), poliuretano (PUR), ou poliestireno extrudido (XPS).
Quando o isolamento térmico é incorporado em tetos de zonas interiores, é geralmente aplicado em tetos falsos (Figura 10) ou fixado diretamente à laje. Caso o isolante seja também o revestimento final do teto, as exigências podem ser mais rigorosas.

Figura 10 – Isolamento térmico incorporado em teto falso.
Algumas propriedades devem ser garantidas, nomeadamente:
• Deve ser garantida resistência à compressão, levando em consideração o tipo de fixação do isolante, com o objetivo de minimizar a perda de espessura do material;
• Para fixações com material de colagem, é fundamental verificar a compatibilidade físico-química entre os materiais utilizados;
• Quando o isolante for também o revestimento final do teto, deve ser assegurada a regularização da superfície, garantir o acabamento adequado, bem como garantir que o material seja resistente à água e não inflamável [2].
Entre as soluções mais comuns utilizadas, destacam–se as placas de aglomerado de cortiça expandida (ICB) e de lã mineral (MW), as quais são frequentemente incorporadas em tetos falsos. Quando a fixação ocorre diretamente na laje, é comum o uso de poliestireno expandido (EPS), podendo ser incluído um revestimento de proteção adicional [2].
RISCO DE OCORRÊNCIA DE PATOLOGIA – PREVENÇÃO E CORREÇÃO
Serão apresentadas anomalias resultantes da seleção inadequada dos materiais, da sua aplicação, utilização ou manutenção. A correção dessas anomalias visa eliminar ou minimizar a causa, realizando a reaplicação do isolante ou do sistema de forma apropriada.
Para a prevenção das patologias que serão discutidas, o projetista deve compreender as exigências funcionais e as soluções mais adequadas para cada aplicação. Deve-se também analisar todo o sistema onde o isolante será aplicado, a fim de evitar a degradação acelerada dos componentes. No entanto, mesmo que a solução proposta esteja correta, é essencial que a preparação em obra e a instalação do isolante sejam realizadas de forma adequada, assim como a sua manutenção.
Se houver aplicação de sistema de isolamento térmico pelo exterior ETICS em coberturas em terraço, as diversas patologias nomeadas abaixo podem manifestar-se, como também mostra a Figura 11.

Figura 11 – Patologia decorrente de aplicação de ETICS em cobertura em terraço.
• Fissuração da camada de acabamento;
• Manchas ou escorrências brancas nas juntas entre as placas de isolamento;
• Perfurações pontuais e destacamento da camada base;
• Bolhas na camada do revestimento do sistema;
• Escorrências e infiltrações no topo de laje de cobertura e no teto do último piso.
Já com coberturas em terraço do tipo invertidas, as principais anomalias que podem surgir no que tange um isolante sem resistência à água são:
• Isolante “preenchido” com água da chuva;
• Diminuição da capacidade isolante.
Nas mesmas coberturas em terraço do tipo invertidas, caso não exista proteção do isolante, pode haver:
• Desgaste acelerado devido à ação de circulação (mesmo com acesso limitado) ou climática;
• Deslocamento das placas por ação do vento;
• Flutuação do isolante por acumulação de água na impermeabilização (anomalia, também, no sistema de drenagem).
As coberturas inclinadas com estrutura contínua ou descontínua, caso o isolamento colocado entre os elementos de suporte ou entre os elementos estruturais seja descontínuo, haverá formação de pontes térmicas e condensações superficiais.
Caso o isolante sofra redução da resistência térmica ou degradação precoce, podem surgir anomalias devido à absorção de água, que pode ter diversas origens. Assim, deve-se prever a resistência à água dos isolantes, bem como considerar proteções adicionais nas zonas do edifício que possam entrar em contacto pontual, frequente ou permanente com este agente de degradação.
Sendo assim, como a absorção da água implica perda da resistência térmica, deve-se evitar os isolantes não resistentes à água ou à humidade, ou protegê-los desse contacto, seja pontual, frequente ou permanente.
Para exemplificar, os isolantes minerais e sintéticos são razoavelmente resistentes à água e à humidade, enquanto o poliestireno expandido (EPS), o poliuretano (PUR) e o poliestireno extrudido (XPS) são impermeáveis à água, com absorção muito reduzida por imersão ou capilaridade. A lã mineral (MW) é um isolante pouco higroscópico (com baixa absorção de água por capilaridade) e comporta-se bem quando exposta à água por imersão parcial. O aglomerado de cortiça expandida (ICB) e o papel triturado com aditivos são isolantes imputrescíveis. O ICB retém humidade, sendo pouco higroscópico (com absorção reduzida de água por capilaridade), resiste bem à água e à humidade, mas apresenta elevada absorção de água por imersão parcial.
Compreendendo a importância de alinhar as características dos isolantes com as propriedades exigidas para diferentes tipos de coberturas e pavimentos, foram formuladas recomendações de materiais com base nas suas aplicações específicas. Na cobertura invertida, onde é essencial um isolante com absorção de água por imersão e capilaridade reduzidos, os materiais mais indicados são o poliuretano (PUR) e o poliestireno extrudido (XPS). Para pavimentos em contacto com zonas exteriores, onde o isolante deve ser imputrescível e apresentar reduzida absorção de humidade, há uma grande variedade de materiais que podem ser aplicados, aceitando placas de vidro celular (CG), poliestireno expandido (EPS), aglomerado de cortiça expandida (ICB), poliuretano (PUR), poliestireno extrudido (XPS), placas ou mantas de lã mineral (MW) e papel triturado a granel. Já nos pavimentos em contacto com o solo, onde o isolante deve ser imputrescível, não absorvente e insensível à água, as opções recomendadas são as placas de poliestireno expandido (EPS), poliuretano (PUR) ou poliestireno extrudido (XPS), podendo também ser utilizados grânulos leves de argila expandida.
A atenção à adequação dos isolantes térmicos às aplicações específicas é fundamental para a prevenção de anomalias, pois uma escolha inadequada dos materiais pode levar a problemas de desempenho. Ao selecionar corretamente os materiais, é possível evitar as causas potenciais dessas falhas, garantindo a eficácia do isolamento térmico ao longo da sua vida útil. Para alcançar esse objetivo, é imprescindível que a preparação, aplicação, execução, utilização e manutenção sejam realizadas de forma coerente, precisa, e facilitada, seguindo as boas práticas e as recomendações técnicas. Esse processo garante a durabilidade dos isolantes, a eficiência energética, o conforto dos espaços, e a redução de custos de correção de falhas na execução.
Bibliografia
[1] Silvestre, J.D.; Flores-Colen, I.; Silva, C. M. (2016): “Manual: Instalador de isolantes térmicos na construção – iniciação” (In Portuguese), Editado pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia, 208 p. Projeto Europeu “Build UP Skills-FORESEE – Training for renewables and energy efficiency in building sector” – IEE/13/BWI 702/SI2.680177.
[2] Rato, V. e Brito, J. de (2003). Isolamento térmico de coberturas em edifícios correntes. Lisboa: Instituto Superior Técnico (www.researchgate.net/publication/282250997_Isolamento_termico_de _coberturas_em_edificios_correntes).
[3] Teixeira, F. (2008). Reabilitação do ponto de vista térmico em pavimentos – Actuais exigências, novos materiais e tecnologias construtivas. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil — especialização em Construções Civis, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto (repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/59533/1/000129818.pdf).
[4] Tirone, L. e Nunes, K. (2011). Coberturas Eficientes – Guias para reabilitação energético-ambiental do edificado. Lisboa: ADENE – Agência para a energia (www.adene.pt/sites/default/files/coberturaseficientes.pdf).
[5] APICER (2003). Manual de aplicação de telhas cerâmicas. Coimbra, Portugal: Associação Portuguesa da Indústria de Cerâmica, CTCV – Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro e DEC-FCTUC.
[6] ACEPE (2014). Guia da reabilitação térmica de edifícios com aplicação de poliestireno expandido (EPS). Lisboa: ACEPE – Associação Industrial do Poliestireno Expandido (www.youblisher.com/p/957801-Guia-da-Reabilitacao-Termica-de-Edificios-com-Aplicacoes-em-EPS-Acepe-2014/).
[7] AR (2013b). Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação (REH) e Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Comércio e Serviços (RECS). Decreto-lei n.º 118/2013, de 20 de Agosto, alterado pelos Decretos -Lei n.os 68 -A/2015, 194/2015 e 251/2015, Assembleia da República.
Agradecimentos
Agradece-se à ADENE (Agência para a Energia), à APFAC (Associação Portuguesa dos Fabricantes de Argamassas e ETICS) e aos fabricantes de materiais ou componentes para a construção (ACEPE, Amorim Isolamentos, Argex, Artebel, CIN, Diera, Dow, FassaLusa, Fibrosom, Foamglass, Grazimac, Gyptec, Iberfibran, LusoMapei, Onduline, Plastimar, Preceram, RockWool, Saint-Gobain Isover, Saint-Gobain Weber, Secil-Argamassas, Sika, Sival, Termolan), a disponibilização de documentação de apoio à elaboração deste artigo.
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