A Comissão Europeia definiu metas de sustentabilidade para o futuro e orientações para que a recuperação da crise pandémica seja “verde”. Os discursos dos governos vão também nesse sentido. No entanto, os factos apontam para uma discrepância entre o que é dito e o que efectivamente é feito. Por outras palavras, a operacionalização de iniciativas e políticas no sentido de alcançar os desígnios estabelecidos está muito aquém do desejado, e não apenas na Europa. Uma prova? Segundo o relatório Are We Building Back Better? Evidence from 2020 and Pathways for Inclusive Green Recovery Spending, levado a cabo pelo Projecto de Recuperação Económica de Oxford e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), apenas 18 % dos gastos de recuperação anunciados podem ser considerados “verdes”.

Pegando em números concretos, apenas 368 mil milhões de dólares (cerca de 309 mil milhões de euros) dos 14,6 biliões de dólares (cerca de 12,3 biliões de euros) dos gastos relacionados com a recuperação económica devido à Covid-19 foram “verdes”. Do valor realmente investido, 35,2 mil milhões de dólares (29,6 mil milhões de euros) estão alocados a melhorias de edifícios verdes, por forma a aumentar a sua eficiência energética, sendo que aqui há a destacar as iniciativas levadas a cabo, principalmente em matéria de renovações, pela França e pelo Reino Unido.

O relatório veio mostrar que os governos não estão, realmente, a aproveitar os fundos disponibilizados para fazer as alterações necessárias no sector da construção, no sentido de aumentar a eficiência energética dos edifícios, nomeadamente do património já edificado. E isto é importante dado que as operações relacionadas com os edifícios foram responsáveis, em 2019, por 28 % das emissões de carbono. No entanto, apesar deste “peso”, os investimentos em eficiência energética diminuíram (ainda mais) com a pandemia.

O relatório chama, também, a atenção para o facto de haver países, nomeadamente o Reino Unido, Argentina, Austrália, e Chile, onde foram levados a cabo empreendimentos residenciais, quer ao nível da habitação privada ou social sem quaisquer condições “verdes”.

Para inverter esta tendência e canalizar os fundos agora disponíveis numa retoma a nível mundial alinhada com os objectivos para o planeta, o relatório apela aos governos para investirem “de forma mais sustentável”, abordando as desigualdades existentes, ao mesmo tempo que estimulam o crescimento pós-pandemia.

O relatório tem por base o trabalho realizado pelo Global Recovery Observatory, uma iniciativa que acompanha a forma como os governos de todo o mundo estão a aplicar os investimentos para responder à crise pandémica.

 

Fotografia:  eko pramono por Pixabay