A qualidade do ar interior de um espaço não depende apenas da forma como este está construído ou dos sistemas de ventilação que possui. Num estudo realizado em escolas primárias do Reino Unido com ventilação natural e divulgado nesta segunda-feira pela Coventry University, observou-se que a ventilação é afectada pelo comportamento dos ocupantes, com impacto na qualidade do ar interior (QAI) e no risco de propagação de doenças como a Covid-19.
Num contexto marcado pela pandemia, o estudo, publicado na Indoor Air, analisou o impacto de variáveis ambientais e da percepção de temperatura na percepção da QAI e, por conseguinte, nas medidas de ventilação levadas a cabo em escolas primárias do Reino Unido com ventilação natural.
Com 40 % das instituições a revelarem uma taxa de ventilação desadequada para evitar a propagação do coronavírus SARS-CoV-2, a equipa de investigação identificou como uma das principais causas a falha em se abrirem portas e janelas com a regularidade necessária.
Neste sentido, e de acordo com um comunicado de imprensa da Coventry University, “os resultados do estudo sugerem que uma sala de aula com elevado potencial para ventilação natural não proporciona necessariamente uma QAI adequada”, destacando-se a vertente comportamental dos ocupantes, influenciada pelas suas percepções, para manter taxas de ventilação aceitáveis.
Segundo a supervisora do estudo, Azadeh Montazami, investigadora da universidade, quem controla o ambiente nas salas de aula são, sobretudo, os professores, os quais “abrem as janelas de acordo com os seus limiares de conforto térmico, que são mais elevados do que os das crianças”. Como os adultos têm uma percepção de maior frio, a especialista em qualidade ambiental de espaços interiores defende a sensibilização para estas diferenças e para as consequências destes comportamentos em termos de qualidade do ar e do risco de propagação de Covid-19.
Para conciliar as diferenças nas percepções térmicas de adultos e crianças, a investigadora do estudo Sepideh Korsavi, citada no comunicado, destaca como opção um design que permita ter “janelas user-friendly e seguras e desenhadas a dois níveis distintos, tanto para a altura dos professores, como para a altura das crianças”.
O trabalho científico, que analisou 805 crianças em 32 salas de aula do Reino Unido, fez uma avaliação consoante as estações do ano mais quentes ou frias. Quanto a este último aspecto, verificou-se que a percepção do ar estava mais relacionada com os níveis de dióxido de carbono do que com as temperaturas operativas nos meses mais frios, situação que se invertia nos meses de mais quentes. Percebeu-se ainda que 15 % das crianças estavam sobreaquecidas em ambos os períodos do ano.
Como tal, o estudo recomenda a promoção de uma ventilação mais eficiente para manter uma boa qualidade do ar e uma temperatura ambiente confortável, reduzindo ainda o risco de propagação de Covid-19 – recomendação essa alinhada com a associação internacional Chartered Institution of Building Services Engineers (CIBSE).