Membros da Agência Internacional de Energia (AIE) dão a conhecer a sua visão sobre o estado actual e futuro do mercado das bombas de calor. “A procura global de bombas de calor enfraqueceu no início de 2024, mas algumas regiões podem ter atingido um ponto de viragem”, referem os especialistas.
Os analistas de energia em edifícios, Rafael Martinez-Gordon e Chiara Delmastro, e o consultor Jianlan Dou começam por fazer uma análise dos principais mercados das bombas de calor. A verdade é que no segundo maior mercado destes sistemas, os Estados Unidos, as vendas caíram 1% no primeiro semestre do ano passado “devido ao baixo consumo e à preferência pela reparação dos equipamentos em vez da sua substituição”. Ainda assim, a quota de mercado das bombas de calor continuou a aumentar, com as vendas de sistemas de combustíveis fósseis 25% inferiores às das bombas de calor durante o primeiro semestre de 2024.
O terceiro maior mercado de bombas de calor, a União Europeia (UE), viu as suas vendas caírem quase 50% na primeira metade de 2024: “vários factores contribuíram para esta tendência, incluindo a descida dos preços do gás natural, um abrandamento no sector da construção – com uma grande percentagem de bombas de calor instaladas em novos edifícios – e um cenário político e regulamentar incerto”, explicam os especialistas da AIE.
No Japão, as vendas aumentaram apenas 1% no primeiro semestre de 2024 em comparação com 2023, apresentando “sinais de estagnação, em parte pela reticência do consumidor”. Em contraste, a China teve um crescimento significativo de 13% nas vendas durante o mesmo período, consolidando-se como o maior mercado global de bombas de calor, impulsionado por políticas de neutralidade carbónica.
Embora ainda não sejam conhecidos todos os dados relativos a 2024, os especialistas consideram que os primeiros sinais indicam uma recuperação no segundo semestre do ano passado. Nos Estados Unidos, as vendas subiram quase 15% após o Verão, ainda que abaixo dos níveis recorde de 2022. Na Alemanha, as vendas caíram quase 50% no primeiro semestre, mas a Associação Alemã de Bombas de Calor espera que as vendas aumentem em mais de 30% até 2025, “à medida que os incentivos e subsídios começam a ter efeito”.
No Japão, as vendas aumentaram cerca de 5% até Dezembro último, mas também estão abaixo de 2022. “Esta recuperação, se confirmada, consolidaria uma reviravolta nos mercados mundiais de bombas de calor, que, após um pico em 2022, diminuíram em 2023”, constatam os especialistas.
A “concentração” das cadeias de abastecimento
“As bombas de calor são largamente produzidas nas regiões onde são instaladas, com a capacidade de fabrico menos concentrada geograficamente em comparação com outras tecnologias de energia limpa, como a energia solar fotovoltaica e as baterias”, indicam.
Em 2023, a China foi responsável por 40% das bombas de calor vendidas a nível mundial, superando a União Europeia (15%) e os Estados Unidos (20%) juntos. A capacidade de fabrico cresceu mais de 10% na China em 2023, impulsionada pela procura interna deste tipo de equipamentos. “A China importa muito poucas bombas de calor de outros países, e a autossuficiência do mercado tem-se mantido nos últimos anos, apesar de a procura interna e as exportações terem aumentado cerca de 10% desde 2021. Além disso, a quota da China nas exportações mundiais de bombas de calor foi de 50% em 2023”.

Sinergias com o ar condicionado: uma “vantagem competitiva”
Os especialistas da AIE defendem que os fabricantes de aparelhos de ar condicionado “beneficiam de uma vantagem competitiva” ao expandirem para o mercado de bombas de calor. Isto porque os processos de montagem dos diferentes tipos de equipamento de bombagem de calor (unidades para aquecimento, arrefecimento ou ambos) são bastante semelhantes e partilham certos componentes: “[Os fabricantes] podem aumentar rapidamente a produção convertendo as linhas de montagem de aparelhos de ar condicionado em linhas de montagem de bombas de calor e vice-versa, beneficiando de economias de escala, de um aprovisionamento mais barato de componentes e de uma mão de obra existente”.
Outros factores são mencionados pelos especialistas quando se fala em apoiar o investimento no fabrico de bombas de calor. São eles o acesso a componentes de baixo custo e a mão de obra qualificada, um ambiente político estável e favorável ou a existência de infraestruturas adequadas.
Os especialistas analisam e comparam o custo nivelado de produção das bombas de calor em diferentes regiões: “Numa base por quilowatt, é 50% mais barato fabricar uma bomba de calor com fonte de ar na China do que nos Estados Unidos, e 40-60% mais barato do que na União Europeia. O principal factor de custo é a aquisição de componentes (60-80%), pelo que as empresas que podem adquirir componentes internamente, ou tirar partido de economias de escala, podem beneficiar de custos de produção mais baixos”.
A importância da produção local
Os especialistas consideram que o comércio de bombas de calor deverá crescer, mas que a produção local continuará a ser essencial nos principais mercados. Actualmente, apenas 25% das bombas de calor instaladas globalmente são comercializadas, com a China a ocupar o lugar de maior exportador. A maioria das exportações chinesas segue para a Europa, que depende dessas importações para “satisfazer uma parte do considerável aumento da procura entre 2020 e 2023”. Embora o comércio de bombas de calor tenha crescido mais lentamente do que outras tecnologias de energia limpa, é “provável que o comércio internacional também se expanda”.
Ainda assim, os especialistas acreditam que os principais mercados continuem a abastecer-se da maior parte das suas bombas de calor a nível local – a produção interna cobrirá cerca de três quartos da procura na União Europeia e no Japão e quase 90% nos Estados Unidos até 2035.
Conselhos para a definição de estratégias industriais
Os analistas da AIE deixam algumas sugestões para apoiar a implantação de bombas de calor. Começam por salientar que a apresentação de relatórios detalhados, abrangendo a tecnologia, a capacidade e o tipo de construção, “será crucial para avaliar o desenvolvimento do mercado em diferentes regiões e gerar informações fiáveis para apoiar a elaboração de políticas”, permitindo à indústria, aos decisores políticos e à sociedade civil monitorizar se os objectivos das bombas de calor estão a ser cumpridos.
Uma colaboração internacional “mais forte” poderia facilitar o intercâmbio de dados e a harmonização dos relatórios e a partilha de boas práticas. “São particularmente necessários melhores dados sobre as unidades ar-ar, que são frequentemente utilizadas exclusivamente para arrefecimento de espaços ou em paralelo com outros equipamentos de aquecimento”, acrescentam os especialistas.
A falta de definições comuns ou de uma “taxonomia” para as bombas de calor “dificulta a consolidação dos dados a nível mundial e complica a comparação das estatísticas entre os diferentes mercados”. É dado o exemplo da China, onde as unidades de ar condicionado reversíveis não estão incluídas nas estatísticas oficiais como bombas de calor, como acontece na União Europeia ou nos Estados Unidos.
Em Janeiro de 2025, representantes internacionais de fabricantes de bombas de calor, associações industriais, sector público e académico reuniram-se na sede da AIE para discutir a forma como a melhoria da qualidade dos dados pode impulsionar o apoio político e examinar como as organizações podem trabalhar em conjunto na harmonização e alinhamento de dados.
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