Aquecimento, arrefecimento e águas quentes sanitárias – seja qual for a finalidade, as vendas das bombas de calor nos últimos anos mostram que esta tecnologia está a ganhar terreno no mercado europeu. O selo de energia renovável está a servir de alavanca, a par da tendência para a electrificação do aquecimento e arrefecimento.
Em meados de Outubro do ano passado, os dados divulgados pela EHPA – Associação Europeia das Bombas de Calor davam conta de que 2017 tinha sido, até aqui, o melhor ano de sempre para o mercado europeu das bombas de calor. Com enfoque nos sistemas para fins de aquecimento, a associação europeia registava um aumento de 10 % nas vendas face a 2016, com o número de unidades vendidas a ultrapassar a marca de um milhão – 1,1 milhões de novas bombas de calor que contribuem para um total acumulado de 10,4 milhões de unidades em território europeu. O futuro afigura-se risonho e a previsão é a de que esta subida tenha tido continuidade em 2018 e que se prolongue para os próximos anos. Nesse sentido, até 2024, a EHPA prevê, inclusivamente, que o mercado duplique.
Os números são favoráveis, mas o que motiva esta tendência ascendente? De acordo com a associação europeia, o crescimento do mercado das bombas de calor é, influenciado por três tendências principais: em primeiro lugar, o facto de a tecnologia cobrir uma vasta gama de temperaturas, podendo operar a 25º C negativos ou fornecer água quente sanitária a 65º C, sem comprometer a sua eficiência; em segundo, pesa também a necessidade de acelerar a transição energética, com a incorporação de fontes de energia renováveis no sector do aquecimento e arrefecimento, o que coloca as bombas de calor debaixo das atenções dos decisores políticos; por fim, numa lógica de economia de escala, à medida que as vendas aumentam, também os custos diminuem, o que irá favorecer o mercado, trazendo preços mais baixos para o consumidor final.
Os dados de crescimento são confirmados por outras entidades, para além da EHPA. Numa visão mais alargada ao sector, o projecto EurObserv’ER divulgou, no final do ano anterior, o seu Barómetro referente ao ano de 2017, mostrando que a crescente popularidade da tecnologia não se limita apenas às necessidades de aquecimento e que é, aliás, para fins de arrefecimento que as bombas de calor estão a marcar mais pontos. Segundo o estudo, considerando todos os tipos de bombas de calor para aquecimento e arrefecimento, as vendas na Europa aumentaram 4,4 %, com mais de 3,5 milhões de unidades vendidas. Desse total, cerca de um terço destinou-se a responder a necessidades de aquecimento (1,1 milhões, aponta a EHPA), enquanto os restantes dois terços visaram o arrefecimento e correspondem, em grande medida, aos mercados do Sul da Europa, nomeadamente Itália, Espanha, Portugal e o Sul de França. Nestes países, o aumento das necessidades de conforto no Verão é, actualmente, apontado como o principal impulsionador de vendas.
Para o futuro, o projecto EurObserv’ER considera os próximos anos como “muito promissores” e vários factores estão a contribuir nesse sentido. As bombas de calor estão a beneficiar do enquadramento legal, com a entrada efectiva em vigor das directivas comunitárias que obrigam à melhoria da eficiência energética dos edifícios e à instalação de tecnologias de energias renováveis para dar resposta às “supostas” reduzidas necessidades energéticas. Para além disso, as bombas de calor têm também uma oportunidade face à actual tendência para a electrificação do sector do aquecimento e arrefecimento, isto porque, quando combinadas com sistemas para autoconsumo eléctrico, como o solar fotovoltaico, apresentam-se como uma solução atractiva, mais ecológica, para o consumidor-produtor e que está em conformidade com as novas exigências para os edifícios com necessidades quase nulas de energia.
Portugal é sétimo maior mercado
No total dos 28 países da União Europeia (UE) analisados pelo Barómetro do EurObserv’ER, o número total de bombas de calor instaladas atinge os 34,4 milhões de unidades (32,9 milhões aerotérmicas, face a 1,5 milhões geotérmicas). Na liderança da tabela está o mercado italiano, seguido, respectivamente, pela França, Espanha, Suécia e Alemanha. Portugal surge como o sétimo maior mercado, entre os 28, contando com 529 655 unidades em operação. Com base no trabalho feito pelo projecto europeu SHARES, estima-se que o contributo em termos de energia transformada de origem renovável dado pelas bombas de calor em 2017 seja de 10,6 Mtoe (milhões de toneladas equivalentes ao petróleo).
No que se refere às tipologias de sistemas, os reversíveis ar/ar dominam o mercado, com 3,1 milhões de unidades vendidas em 2017 (mais 3,3 % do que no ano anterior), diz o relatório. Em Portugal, este segmento assume 12,1 % do mercado. No panorama europeu, o aumento modesto de apenas 3,3 % face a 2016 destes equipamentos prende-se com o comportamento negativo do mercado italiano, cuja queda de 7,2 % teve um impacto significativo no total europeu (Itália detém 45 % do mercado no segmento reversíveis ar/ar). Como justificação, o Barómetro aponta uma provável saturação do mercado, depois de um crescimento extraordinário de 55,4 % em 2016.
Por sua vez, os equipamentos ar/água destinam-se, na generalidade, às necessidades de aquecimento, com o ritmo das vendas a seguir uma tendência ascendente estável desde 2013 e acelerando ligeiramente em 2017, com um aumento de 18,3 % (pouco mais de 300 000 unidades vendidas). A generalidade dos países europeus registou um crescimento de dois dígitos nas vendas desta tipologia, com a liderança da Holanda, onde as vendas aumentaram 77,6 %. Em contrapartida, os sistemas ground-source (geotermia) continuam a ter pouca expressão no mercado europeu, com pouco mais de 82 mil unidades vendidas em 2017 (incluindo bombas de calor hidrotérmicas), o que representa uma contração de 0,6 % nas vendas face a 2016. Suécia e Alemanha lideram a tabela nesta tipologia, com Bulgária e Portugal a ocuparem os últimos lugares no que se refere a unidades vendidas.
Legenda: Mercados EU-28 de vendas de bombas de calor em 2017. Fonte: EurObserv’ER Heat Pump Barometer 2018.