Passado um ano de pandemia, o público em geral tem conhecimento de que os sistemas de ar condicionado não causam a doença Covid-19 provocada pela infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2. Mas, sim, o confinamento em espaços fechados com a presença de pessoas infetadas, onde não existem ventilação mecânica ou natural.

Todos nos lembramos da posição inicial hesitante da Direção-Geral da Saúde (DGS), sobre o uso do ar condicionado na situação pandémica que se estava a iniciar, e também mais tarde, em maio, da leviana notícia transmitida no programa Polígrafo do canal de televisão SIC, que afirmava que o ar condicionado propagava o novo coronavírus. Todo o universo do ar condicionado, e muito bem, reagiu com estupefação a esta última noticia, negando perentória e publicamente tal afirmação. Associações responderam e, a 18 de março, já a EFRIARC tinha divulgado pelos seus associados e público um documento técnico com orientações aos profissionais de setor da climatização no contexto da atual pandemia.

Pessoalmente, apostei no ato profissional, consciente e responsável de todos os agentes do ramo da climatização como resposta assertiva e correta a dirigir àqueles que, de forma imprudente e pouco refletida, declararam afirmações sem fundamento científico e técnico. Até à data, com aproximadamente 72 milhões de infetados e lamentavelmente 1,6 milhões de mortes, à escala mundial, ainda não foi reportado nenhum caso que prove, baseado em dados oficiais, que os sistemas de climatização tenham sido veículos de infeção do SARS-CoV-2. Por isso, entidades internacionais, como a OMS, ASHRAE, REHVA, e outras entidades nacionais, como a DGS, consideram que o risco de transmissão do novo coronavírus gerado pela utilização de sistemas de climatização em espaços fechados é muito baixo, desde que se cumpram as regras para uma utilização segura, nomeadamente a sua manutenção. Perante os factos e declarações oficialmente divulgadas por tais entidades, continuo a fundamentar a minha opinião de que foi a atitude profissional e responsável assumida por todos os agentes do setor da climatização perante uma situação nova que afirmou a qualidade dos profissionais do AVAC.

Para responder à procura específica de equipamentos para a área da saúde provocada pela pandemia de Covid-19, o mercado do AVAC, nomeadamente os fabricantes de unidades de tratamento de ar, ventilação e equipamentos de filtragem, rapidamente desenvolveram unidades portáteis de purificação do ar por recirculação e filtragem do ar por filtros HEPA.

Atitude profissional e responsável é o caminho da afirmação do setor do AVAC

Num cenário de completa incerteza, o setor do ar condicionado, ainda no início da pandemia, compreendeu que esta teria um enorme impacto no mercado. Para combater a perversa ideia que estava a surgir à volta do uso do ar condicionado, os profissionais sabiam que tinham de efetuar o seu trabalho baseado no conhecimento existente sobre doenças infectocontagiosas transmitidas pelo ar e nas primeiras orientações técnicas que começaram a ser divulgadas por instituições como a REHVA, ASHRAE, EFRIARC, etc. Assim, com um enorme sentido de responsabilidade, fizeram-se adaptações e alterações de sistemas de climatização existentes em edifícios, que, por força das circunstâncias, obrigatoriamente teriam de estar abertos no período de confinamento, tais como: hospitais, supermercados, farmácias e grande parte da indústria.

Para responder à procura específica de equipamentos para a área da saúde provocada pela pandemia de Covid-19, o mercado do AVAC, nomeadamente os fabricantes de unidades de tratamento de ar, ventilação e equipamentos de filtragem, rapidamente desenvolveram unidades portáteis de purificação do ar por recirculação e filtragem do ar por filtros HEPA. Com este tipo de equipamentos, ultrapassava-se, de uma forma rápida e eficaz, as dificuldades em termos logísticos de ocupação de espaço, que impossibilitavam a instalação de sistemas de ventilação fixos, constituídos por ventiladores, redes de condutas e sistemas de controlo ativo de pressões e de caudais de ar. Com a ajuda da comunidade científica, a sociedade começou a compreender que a ventilação dos espaços fechados, acompanhado do uso de máscara, lavagem das mão e distanciamento social, executados em conjunto, seria o meio para mitigar a pandemia, antes da produção e distribuição massiva de uma vacina para combater a Covid-19.

Embora como aumento de produção de equipamentos específicos destinados aos edifícios de saúde e com um ligeiro acréscimo da gama de “splits” domésticos, resultante das situações de teletrabalho com a chegada do Verão, segundo entidades como a Eurovent, houve um decréscimo nas vendas de equipamento de ar condicionado em todos os países da Europa. Esta situação aconteceu devido à incerteza do momento que levou ao adiamento de novos projetos e construção de edifícios em 2020, com presumível repercussão para 2021. A par da redução de vendas de equipamentos de ar condicionado, começou a aumentar o interesse por equipamentos relacionados com a qualidade do ar interior (QAI).

A justificação técnico-científica para o caso globalmente conhecido da propagação da Covid-19 num restaurante em Guangzhou na China ajudou a sociedade a compreender o risco que existe de transmissão do novo coronavírus em espaços interiores com equipamentos de ar condicionado, mas carenciados de meios de ventilação mecânica ou natural. Este e outros casos, onde a dispersão do ar é menos efetiva, detonaram novamente as questões relacionadas com a QAI nos edifícios que há muito os técnicos da área reclamam de volta.

Por conseguinte, com a questão da Covid-19, há um novo posicionamento do setor no mercado da construção de edifícios. Os investidores e donos de edifícios reforçaram a necessidade de considerar sistemas de ventilação, filtragem e purificação do ar, apesar de nada ser novo. Atualmente, nos edifícios, o desafio é atender aos requisitos de QAI, tendo como base as instalações existentes em edifícios como: escritórios, centros comerciais, escolas, hospitais e habitações. Será necessário conjugar e reforçar a tecnologia existente, com os sistemas IT, onde a monitorização e controlos inteligentes ajudarão, por exemplo, a monitorizar a QAI, começando com a simples medição da taxa de CO2 no interior dos espaços. Para que QAI tenha impacto é necessário investir tempo, esforços e dinheiro, apostando na investigação; desenvolvimento de novos produtos; formação e publicações de guias de boas práticas; e nomeadamente sensibilizar as autoridades governamentais para as questões da QAI nos edifícios e na indústria.

TRIA: QAI ↔ Eficiência energética ↔ Manutenção

Quando se tenta prever o mercado nos próximos anos, antevêem-se algumas mudanças no comportamento do mercado e da sociedade. Na minha opinião, deixará de existir uma hierarquia entre as subáreas eficiência energética, QAI e manutenção/monotorização para haver uma interação triangular entre estas nos edifícios.

Se esta interação triangular for efetuada por profissionais habilitados nas áreas do projeto, instalação e manutenção, com a devida responsabilização, o setor do AVAC será certamente valorizado em todo o ciclo de vida do edifício.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Edifícios e Energia.