Perguntámos a Isabel Sarmento, candidata da Lista B ao cargo de Coordenadora de Especialização de Engenharia de Climatização da Ordem dos Engenheiros ao triénio 2022-2025, quais os desafios do sector e quais as suas prioridades em caso de eleição. A votação decorre entre os dias 2 e 12 de Fevereiro.
“A Transição Energética é, no meu entender, o grande desafio da Climatização no futuro próximo ou até, diria, no presente. Trata-se de um desafio transversal à sociedade, até à humanidade, com um horizonte de décadas cujas estratégias e medidas de ação têm de ser definidas e tomadas com assertividade, sob pena dos objetivos saírem logrados.
A transição energética visa não só alterar o paradigma das fontes energéticas, mas, também, a utilização de energia, com enfoque na utilização racional de energia e na eficiência energética. Ora, mantendo o setor dos edifícios um elevado peso no consumo energético mundial, não sendo Portugal uma exceção, e sabendo que a climatização se apresenta como um dos principais utilizadores de energia nos edifícios, sem dúvida de que a climatização tem de estar alinhada com aquela política energética.
Reduzir a utilização de energia nos edifícios e promover a sua substituição por energia proveniente de fontes renováveis passa, inevitavelmente, pelos sistemas de climatização. No entanto, não bastam sistemas de climatização eficientes, antes demais, é essencial reduzir as necessidades energéticas, passando por otimizar a envolvente e os demais sistemas técnicos, nomeadamente, a iluminação, mas, também, pela mudança na consciência social e ambiental, quer dos promotores, quer dos utilizadores, sem esquecer projetistas e entidades executantes.
Um edifício eficiente e exemplar do ponto de vista ambiental requer um processo integrado em objetivos e na sua execução, mas, também, na posterior utilização e manutenção. Não se inicia ou termina no projeto. Tem início no promotor, que é o agente com capacidade de decisão sobre o objetivo a atingir, que representa, tendencialmente, um maior investimento, que, no entanto, com uma mudança de mentalidade do utilizador, acabará por ser ressarcido, e mantém-se ao longo de todo o processo de projeto, instalação, exploração e manutenção.
A par deste desafio à escala mundial, a Climatização em Portugal tem outros desafios, também eles, transversais ao setor e que têm, necessariamente, de ser ultrapassados.
A excelência energética dos edifícios, onde se incluem os sistemas de climatização, não se atinge ao acaso; é resultado de um processo integrado na conceção ou reabilitação de um edifício que requer uma fase de projeto mais exigente, por via da exigente otimização, não dando, necessariamente, origem a um projeto ou instalação mais complexos, dando, antes, lugar a um melhor projeto que necessita de uma adequada instalação e manutenção para cumprir com os objetivos que se propôs atingir.
À excelência energética está subjacente o recurso a técnicos especializados, nas equipas de projeto, instalação e manutenção, aos quais estará implícita uma melhor remuneração.
Quando o desafio é a excelência energética dos edifícios, o que pressupõe, inevitavelmente, é um projeto e uma instalação que o cumpra e, assim, o demonstre, surge, paradigmaticamente, a legislação de Desempenho Energético do Edifícios ao promover a ausência de projeto e de muitos requisitos de instalação e manutenção, sistemas de climatização com potência térmica igual ou inferior a 30 kW (anteriormente, 25 kW).
Em suma, a formação, o gerar atratividade financeira para a profissão e a sua adequada regulação são, no meu entender, os maiores desafios que se apresentam ao futuro da Climatização em Portugal, sob pena de não estar à altura de enfrentar o desafio maior da transição energética. Mas, não são, definitivamente, os únicos.”
Quais serão as suas prioridades enquanto coordenadora?
“A prioridade da Lista em que me candidato é conseguir um elevado número de votos, que legitime a nossa missão. Lamentavelmente, a outra lista que se perspetivava como opositora, composta por Colegas reconhecidos profissionais da área da Climatização que, maioritariamente, conheço e prezo, foi excluída por não cumprir com critérios burocráticos. No entanto, o simples facto de se ter perspetivado mais do que uma lista candidata é um sinal de que a Especialização em Climatização é ativa e relevante, também, na atividade da Ordem dos Engenheiros.
As medidas de ação da Lista em que me candidato são assentes em quatro prioridades que vão, também, em linha com os principais desafios que se apresentam ao setor da Climatização, que se caraterizam por:
- Retomar as JORNADAS DE CLIMATIZAÇÃO;
- Aumentar o número de Especialistas;
- Manter a ligação de proximidade com a REHVA e a ASHRAE;
- Promover um diálogo de cooperação com a ADENE/DGEG.
As JORNADAS DE CLIMATIZAÇÃO são um caso de sucesso, cujo trajeto foi interrompido por via da situação pandémica que, ainda, vivenciamos. É unânime que as JORNADAS DE CLIMATIZAÇÃO são uma referência para o setor, que a atual direção sempre dinamizou e bem e em contínuo crescimento, e espero que, assim, continuem para o futuro. A este sucesso não estão alheias, também, as empresas do setor da Climatização que sempre e em número crescente, mesmo perante adversidades do mercado, as patrocinavam e às quais deixo desde já o desafio de continuidade. As JORNADAS DE CLIMATIZAÇÃO são sempre dedicadas a Temas atuais e prementes para o setor, promovendo a transmissão de conhecimento entre pares, mas, também, aos mais jovens recém-formados e até estudantes.
Incrementar o número de Especialista é um objetivo fundamental, desde logo pela necessidade de renovar pela juventude e, também, porque sem ou com poucos Especialistas a Comissão fica esvaziada de sentido.
A composição da Lista reflete essa aposta, ao ser transversal ao setor da Climatização, desde o Ensino (Adélio Gaspar), ao Projeto (Luísa Vale), passando pela Instalação/Manutenção (Bruno Sacramento) e pelos Fabricantes de Equipamento (Hugo Delgado). Pretende-se um número crescente de Especialistas, mas também eclético.
Para o garante do futuro da Especialização é vital captar jovens para a profissão, logo ao nível da sua formação onde, tradicionalmente, a área de Fluidos e Energia é preterida a favor de outras áreas de conhecimento da Engenharia Mecânica, eventualmente por mais abstrata, mas estou convicta que, também, deriva de um desconhecimento dos Estudantes quanto ao potencial e importância daquela área científica no atual contexto da economia e emprego.
A estreita ligação à REHVA e à ASHRAE é estratégica à atividade da Comissão, na medida em que potencia e lhe confere um facilitado acesso a publicações e sessões técnicas de elevada qualidade técnica e científica e de maior interesse para o setor.
A promoção de uma relação de cooperação com a ADENE/DGEG é, no meu entender, de extrema importância, no sentido de encontrar sempre o melhor compromisso entre a visão do legislador e a visão de quem exerce a profissão e aplica, na prática, a legislação. Em linha com o que passou num passado não muito longínquo, aquando da anterior revisão legislativa em 2013.
A legislação do Desempenho Energéticos dos Edifícios é um pilar fundamental da Transição Energética e, por tal, com impacto direto no setor da Climatização e, sou de opinião que, esta última revisão falha em vários aspetos e, talvez, alguns deles advenham do facto de a interação com as ordens profissionais, nomeadamente a Ordem dos Engenheiros, mas, também, com a Especialização de Climatização, entre outras, foi quase inexistente e, sempre, tardia, o que não abona a nenhuma das partes.”
As conclusões expressas são da responsabilidade dos autores.