Numa experiência realizada em Amesterdão, os investigadores do Massachussets Institute of Technology (MIT) descobriram que a formação em matéria de energia e melhores dados ajudaram famílias a reduzir as despesas de energia para metade, atenuando a pobreza energética. 

A pobreza energética é uma realidade presente um pouco por todo o mundo. De acordo com o MIT, cerca de 550 000 agregados familiares nos Países Baixos encontram-se em situação de pobreza energética, o que equivale a 7 % da população. Na União Europeia como um todo, o número é de cerca de 50 milhões. Nos EUA, uma outra investigação mostrou que cerca de 3 em cada 10 famílias têm problemas em pagar as facturas de energia. 

Para realizar a experiência, os investigadores realizaram duas intervenções distintas: numa das versões, 67 agregados familiares receberam um relatório sobre o seu consumo de energia, juntamente com formação sobre como aumentar a eficiência energética; na outra versão, 50 agregados familiares receberam os mesmos dados, bem como um dispositivo inteligente que lhes dava actualizações em tempo real sobre o seu consumo de energia. 

Os resultados da experiência mostraram que as famílias reduziram as suas despesas de energia para metade, uma poupança que, segundo o MIT, seria suficientemente grande para tirar três quartos das famílias da pobreza energética. Nos dois grupos, as casas reduziram o consumo mensal de electricidade em 33 % e o de gás em 42 %. No total, reduziram as suas facturas em 53 % e a percentagem do rendimento que gastaram em energia baixou de 10,1 % para 5,3 %. 

Como foi atingida esta poupança? 

Algumas das maiores mudanças de comportamento incluíram acções como aquecer apenas as divisões que estavam a ser utilizadas e desligar da tomada os aparelhos que não estavam a ser utilizados. O MIT explica que estas mudanças tiveram realmente impacto na poupança de energia, mas que os seus benefícios nem sempre eram compreendidos pelos residentes antes de receberem formação sobre energia. 

Curiosamente, as casas que receberam os pequenos dispositivos que mostravam os dados energéticos em tempo real só os utilizaram durante três ou quatro semanas após a visita dos técnicos. Depois deste período, as pessoas pareceram perder o interesse numa monitorização muito frequente do seu consumo de energia. No entanto, segundo o MIT, algumas semanas de consulta dos dispositivos tendem a ser suficientes para levar as pessoas a mudar os seus hábitos de forma duradoura. 

Citado pelo MIT, Titus Venverloo, investigador do MIT Senseable City Lab e um dos autores do estudo, referiu que “a investigação mostra que os dispositivos inteligentes têm de ser acompanhados por uma compreensão profunda daquilo que leva as famílias a mudar os seus comportamentos”. 

O “fardo” suportado pelas famílias 

Os investigadores reconhecem que “trabalhar com os consumidores para reduzir o seu consumo de energia é apenas uma forma de ajudar as pessoas a sair da pobreza energética”. As mudanças estruturais, como preços de energia mais baixos e os edifícios mais eficientes do ponto de vista energético, são também vistos como fundamentais para combater o problema.  

Com isto em mente, este estudo acabou por dar origem a uma nova experiência. Joseph Llewellyn, também autor do estudo, está a desenvolver um trabalho com responsáveis de Amesterdão no sentido de analisar os benefícios da renovação dos edifícios residenciais para reduzir os custos da energia. Os responsáveis políticos locais estão a tentar encontrar uma forma de financiar a reabilitação para que os proprietários não entreguem o “fardo” dos custos aos seus inquilinos. 

“Não queremos que um agregado familiar poupe dinheiro nas suas contas de energia se isso significar também um aumento da renda porque, nesse caso, acabamos por deslocar as despesas de um lado para outro”, afirmou Llewellyn. 

É referido que a iniciativa pode partir dos próprios agregados familiares, investindo num melhor isolamento, em janelas mais eficientes e em componentes de aquecimento. Contudo, para as famílias com baixos rendimentos esta pode ser uma tarefa hercúlea. “É um grande custo inicial para uma família que não tem 100 euros para gastar”, disse Llewellyn. Quando comparada com o pagamento de outras necessidades, “a energia é muitas vezes a última coisa que tende a ficar na lista. A energia vai ser sempre uma coisa invisível que se esconde ‘atrás das paredes’ e não é fácil mudar isso”. 

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