A consultora Sweco efectuou um estudo em 24 cidades europeias para avaliar o seu grau de preparação para as ondas de calor. Os resultados mostram que algumas cidades estão a tomar medidas para combater o aumento do calor, mas ainda há grandes lacunas a colmatar.
Os efeitos das ondas de calor já se fazem sentir em todo o mundo – entre 2013 e 2022, o número de dias de ondas de calor aumentou 94% a nível mundial, comparando com o período de 1986 a 2005. De acordo com o Relatório sobre o Estado do Clima Europeu 2023, a Europa regista tendências de aquecimento significativas, com temperaturas que aumentam duas vezes mais depressa do que a média mundial. Um cenário agravado pelo efeito de ilha de calor urbana: “esta diferença de temperatura ocorre quando as ruas e edifícios sem sombra absorvem o calor durante o dia e irradiam esse calor para o ar circundante e é causada principalmente pela utilização extensiva de betão e asfalto, que absorvem e retêm o calor mais do que as paisagens naturais, bem como pelo calor gerado de veículos, processos industriais, sistemas de energia e calor residual de calor”, explica o estudo levado a cabo pela Sweco. A falta de vegetação nas cidades também contribui para este efeito e o efeito de ilha de calor pode agravar o desconforto do tempo quente, aumentar o consumo de energia para arrefecimento e contribuir para uma pior qualidade do ar.
Embora sejam reconhecidos estes e outros riscos associados às ondas de calor, o estudo indica que as cidades muitas vezes não conseguem incorporar a distribuição equitativa de recursos no planeamento urbano. “Esta situação é agravada pela falta de dados pormenorizados e de cartografia da vulnerabilidade nas cidades, dificultando o controlo e a avaliação das políticas de adaptação existentes”, explica a Sweco.
Neste sentido, e sendo certo que as ondas de calor vieram para ficar, “é crucial uma governação clara, a inovação e a co-criação, juntamente com visões de longo prazo e estratégias adaptáveis”. “A governação colaborativa, a sensibilização do público e a capacitação das comunidades são consideradas fundamentais para uma adaptação eficaz.
E de que forma podem os edifícios contribuir para atenuar os efeitos das ondas de calor? Os resultados da análise da consultora indicam que são necessárias medidas a vários níveis, incluindo medidas de adaptação para os edifícios e bairros. Assim, no sentido de garantir uma maior impermeabilidade térmica das cidades, o estudo é encerrado com algumas recomendações focadas no ambiente construído:
– Melhoria da infraestrutura verde, utilizando soluções baseadas na natureza, tais como telhados verdes, e a substituição de superfícies impermeáveis por áreas permeáveis com vegetação;
– Conceber edifícios de elevado desempenho com tecnologia avançada para que permaneçam funcionais mesmo em condições de calor extremo, incorporando sistemas eficazes de ventilação e arrefecimento durante a construção, assim como a instalação de toldos, persianas e janelas operáveis para atenuar a radiação solar e a acumulação de calor;
– Arrefecimento do ambiente construído através de medidas como a integração da impermeabilização ao calor na legislação de planeamento urbano e adaptação das infraestruturas existentes;
– Implementar soluções de infraestruturas inteligentes – como sistemas de arrefecimento inteligentes – para reduzir o efeito de ilha de calor urbana e proporcionar arrefecimento em zonas de maior vulnerabilidade;
– Permitir e optimizar a utilização de fontes de energia renováveis e tecnologias energeticamente eficientes para reduzir o consumo de energia relacionado com o calor e as emissões de gases com efeito de estufa;
– Optimizar a orientação dos edifícios em relação ao ambiente exterior, funcionando como uma componente de sombreamento.
Fotografia de destaque: © Unsplash