Tal como anunciado em Agosto pela Edifícios e Energia, as vendas de bombas de calor em 2023 foram 6,5% inferiores às do ano anterior, fomos ouvir algumas empresas do sector sobre o mercado das bombas de calor.
A redução de vendas registada em 2023 no espaço europeu representa uma inversão na tendência de crescimento contínuo da última década. A este propósito, a Associação Europeia de Bombas de Calor (EHPA) alertou para o risco de a União Europeia (UE) poder ficar aquém da meta traçada para 2030: “se as vendas anuais [de bombas de calor] se mantiverem a um nível de 3 milhões por ano, serão instaladas cerca de 45 milhões de bombas de calor até 2030 – cerca de 25% menos do que os objectivos da UE”. Perante este cenário, o que têm as empresas portuguesas a dizer sobre esta “turbulência”? A Edifícios e Energia reuniu os seus testemunhos.
Jorge Carvalho, business director da Eurofred Portugal, começa por referir que nos últimos anos o mercado português tem acompanhado a tendência europeia e que “dificilmente irá recuperar as previsões optimistas e até um pouco irrealistas”. O responsável menciona que, de momento e até Junho de 2025, o país apenas tem para “oferecer” um incentivo de 6% de IVA para as bombas de calor: “obviamente este incentivo só tem a ver com o cliente final, que, na maior parte das vezes, está mal informado”, acrescenta. A resposta do mercado, segundo Jorge Carvalho, tem sido pautada por soluções diversificadas e por mais marcas a investir em novas opções, situação que “torna mais difícil o alcançar dos budgets definidos pelas empresas e aumentar ainda mais a sensação de descida nestes segmentos”.
Embora não existam dados concretos sobre o mercado nacional, um relatório da EHPA revelou que, em 2023, Portugal conseguiu aumentar as vendas de bombas de calor em cerca de 24% relativamente ao ano anterior. João Cunha, engenheiro e responsável pelo departamento técnico da HENQ, indica que se trata de um crescimento “em consonância com países como a Alemanha, Bélgica, Países Baixos e Espanha (com aumentos mais modestos), contrariamente a outros com redução significativa, como a França, Itália, Suécia, Finlândia, Polónia e Dinamarca”. O responsável tenta explicar esta tendência nacional: “julgamos que no caso de Portugal, o crescimento foi alavancado pelo Fundo Ambiental com o Programa de Apoio a Edifícios mais Sustentáveis 2023, apesar de uma conjuntura económica com taxas de juros e inflação elevadas”.
Relativamente aos resultados que poderão ser alcançados este ano, ao analisar os indicadores económicos, João Cunha acredita que “não é expectável” um aumento nas vendas das bombas de calor. A ausência de programas de apoio por parte dos governos europeus e o adiamento do plano de acção para as bombas de calor, a implementar pela Comissão Europeia, são alguns dos aspectos considerados.
A nível nacional, o responsável pelo departamento técnico da HENQ refere também que, apesar da redução do IVA para 6%, “a ausência prolongada do Fundo Ambiental no apoio financeiro à instalação de bombas de calor de climatização e produção de água quente sanitária não augura um crescimento relevante”. Ainda assim, tendo em conta a “necessidade urgente” de redução das emissões dos gases com efeito de estufa (GEE), João Cunha indica que é expectável que nos próximos anos a tendência seja invertida, uma vez que “as bombas de calor terão um papel importante na prossecução deste objectivo. Os acordos climáticos, estabelecidos a nível europeu e global, no que respeita à neutralidade carbónica, assim o exigem”.
Por outro lado, a directora de Marketing e Comunicação do Grupo EFCIS, Susana Penedo, adianta à Edifícios e Energia que “excepcionalmente” o grupo EFCIS e CLIMASUN não sentiu a tendência do mercado, “muito pelo contrário, tem vindo a testemunhar um crescimento global em toda a gama de aquecimento”. Também a Arfit indica que, na área comercial e industrial, o mercado das bombas de calor “continua em forte crescimento”, refere Sónia Ribeiro, responsável pelo Marketing da empresa.
AVAC na descarbonização do edificado
Numa altura em que já estamos em contagem decrescente para a descarbonização dos edifícios – a acontecer em 2050 -, de um modo geral, todas estas empresas realçaram o papel “crucial” que o sector AVAC desempenha quando se fala desta meta, pelo peso que acarreta desde o início até ao fim de vida dos edifícios.
“A necessidade premente de uma transição energética efectiva deverá impor nos processos termodinâmicos de climatização a utilização, nos ciclos de refrigeração, de gases frigorigéneos de baixo potencial de aquecimento global (GWP), tais como o R290 e outros que estão num horizonte próximo”, refere o engenheiro João Cunha, responsável pelo departamento técnico da HENQ. Desta forma, torna-se “inevitável” a substituição dos equipamentos de climatização e produção AQS que ainda funcionam a combustíveis fosseis, por bombas de calor de elevada eficiência.
Complementarmente à projecção de soluções de AVAC eficientes, os responsáveis da Arfit e Eurofred convergem na ideia de que é fundamental a sensibilização, formação e certificação de técnicos e empresas. Como indica Sónia Ribeiro, esta questão deve ser tida em conta para que seja feita “uma melhor análise de eficiência e uma melhor condução das instalações”. E Jorge Carvalho recorda que “não podemos esquecer que estes equipamentos têm de ser mantidos ao longo da sua vida útil e, para tal, a gestão da manutenção é mais um ‘player’ que não pode, de modo algum, ficar de fora”.
Por último, o responsável menciona um outro aspecto: o fim de vida dos equipamentos. Este processo “tem também de seguir um caminho de desmantelamento dentro da legislação, isto é, as empresas de gestão de resíduos eléctricos e electrónicos têm o papel final no que diz respeito à descarbonização e ao encaminhamento correcto dos resíduos, que indirectamente teve a ver com o edifício”, conclui.
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