As vendas de bombas de calor registaram um decréscimo de 5% que veio inverter a tendência de crescimento contínuo na última década. Mas porquê? Um relatório da EHPA vem agora apresentar as razões que explicam o cenário em vários países, incluindo Portugal. 

“O gás barato e os empréstimos bancários dispendiosos são duas das principais razões pelas quais as vendas de bombas de calor caíram no ano passado”. Esta afirmação faz parte de um relatório divulgado pela Associação Europeia de Bombas de Calor (EHPA) que analisa as dinâmicas de mercado das bombas de calor em 16 mercados europeus. 

Os países incluídos são a Áustria, a Bélgica, a Dinamarca, a Finlândia, a França, a Alemanha, a Itália, os Países Baixos, a Noruega, a Polónia, Portugal, a Eslováquia, a Espanha, a Suécia, a Suíça e o Reino Unido. 

De uma forma geral, a análise específica de cada país permitiu concluir que os elevados preços de compra, a inflação, as dificuldades registadas na cadeia de abastecimento e a complexidade regulamentar foram factores que prejudicaram a dinâmica do mercado das bombas de calor nestes países europeus. 

O “crescimento modesto” em Portugal 

No caso de Portugal, as vendas de bombas de calor, em 2023, aumentaram 24% em relação a 2022. Nesse ano, foram vendidas mais de 40 mil unidades de bombas de calor. O valor aumentou para pouco mais de 50 mil unidades em 2023. Segundo o relatório, isto traduz-se num “crescimento modesto”, juntamente com a Bélgica, Noruega, Países Baixos, Espanha, Alemanha, Eslováquia e Reino Unido. Porém, o crescimento não foi o suficiente para compensar o declínio global. 

Apesar do aumento em território nacional, a comercialização de bombas de calor registou um abrandamento, em particular no segundo semestre do ano passado, e foram vários os factores que contribuíram para esta dinâmica. 

A EHPA aponta, desde logo, os custos associados à aquisição dos equipamentos de bombas de calor, definindo-os como “uma barreira significativa à adopção generalizada”. E acrescenta que “as políticas de inventário dos principais operadores do sector levaram a um fluxo de equipamentos no primeiro trimestre de 2023”. 

O rendimento disponível pelas famílias para estes equipamentos reduziu com a elevada taxa de inflação – impulsionada pelos aumentos dos preços da energia – assim como com o crescimento das taxas de juro e Euribor. Isto traduziu-se numa maior dificuldade em obter empréstimos bancários, o que afectou o poder de compra das famílias portuguesas: “os consumidores adiaram as suas decisões de compra na expectativa de uma redução dos custos das matérias-primas e de novos mecanismos de apoio a equipamentos energeticamente eficientes”, menciona o relatório da EHPA. 

Além disso, o retorno das pessoas aos seus locais de trabalho presenciais também é apontada como uma razão para a diminuição da importância que os consumidores atribuem aos critérios de conforto nas suas habitações. 

“A escalada dos custos de instalação e as restrições orçamentais em toda a cadeia de abastecimento dificultaram ainda mais a dinâmica do mercado”, para além dos programas de governo e fundos de recuperação que tiveram um “impacto limitado” no sector das bombas de calor.  

O intrínseco panorama político 

O relatório refere que as flutuações do mercado das bombas de calor encontram-se “intimamente ligadas ao panorama político”. O pico de vendas registado em 2022 pode ser explicado pelo aumento do preço do gás desencadeado pela invasão da Ucrânia pela Rússia. A Europa precisou de encontrar uma forma de ganhar independência do gás russo e as bombas de calor foram parte da solução. Contudo, no ano passado, o preço do gás desceu. Já o preço da electricidade manteve-se elevado.  

Também o adiamento do Plano de Acção para Bombas de Calor por parte da Comissão Europeia é considerado como um factor que “criou mais incerteza e contribuiu para o declínio das vendas”. A publicação deste plano estava previsto para o primeiro trimestre de 2024 mas a sua publicação foi adiada para depois das eleições europeias, em Junho.   

Jozefien Vanbecelaere, director de assuntos europeus da EHPA, indica que “é crucial que a União Europeia e as políticas nacionais sejam apoiadas e estáveis. O mesmo se aplica a tornar as bombas de calor a escolha mais acessível, transferindo a carga fiscal da electricidade e recompensando os proprietários de bombas de calor, por exemplo, através de tarifas vantajosas.”

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