Passados meses desde o início da pandemia de Covid-19, já todos constatámos que o mundo mudou em muitos aspectos do nosso quotidiano, designadamente no que concerne aos aspectos higio-sanitários e de interacção pessoal, designadamente nos locais de trabalho, que são aqueles que interessam focar neste artigo sobre os sistemas de Gestão Técnica Centralizada (GTC).
É certo que a pandemia trouxe uma (ainda) maior relevância sobre a urgência da Descarbonização da Economia e consequentemente a Eficiência Energética dos Edifícios – que são áreas da maior importância para os sistemas de GTC, mas, neste artigo, pretendo focar-me nos aspectos do dia a dia dos locais de trabalho, profundamente alterados pela pandemia e para os quais os sistemas de GTC são a resposta evidente e eficaz.
Controlo da Ventilação
Este primeiro aspecto é aquele que se refere com a redução da propagação do novo coronavírus no interior dos espaços. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), para reduzir os riscos de propagação deste vírus, os caudais de ventilação devem ser aumentados, sempre que possível, com recurso a 100 % de ar novo, os sistemas de filtragem devem ser melhorados, a par do aumento do tempo de funcionamento do sistema de ventilação, num período de duas horas, antes e depois do normal horário de funcionamento dos espaços.
Ora, para se implementarem estes requisitos da OMS, os sistemas de GTC são essenciais porque são aqueles que garantem a eficácia, da regulação dos caudais de ar novo, da monitorização do estado de colmatação dos filtros e, no ajustamento dos períodos de funcionamento, sejam de duas horas, sejam outros que se considerem mais apropriados.
Ainda nesta área do controlo da propagação do novo coronavírus, refira-se que a implementação de regimes de 100 % de ar novo é muito dispendiosa em certas alturas do ano em que as condições climatéricas são mais extremas. Também aqui os sistemas de GTC desempenham um papel único, uma vez que, através da utilização de sensores de QAI (qualidade do ar interior), será possível ajustar os caudais de ar novo, evitando-se assim o desperdício de energia inerente à manutenção de um regime de 100 % de ar novo, quando não seja necessário.
Adoção de Sistemas “Touchless”
Outra área fundamental e reveladora da importância dos sistemas de GTC no contexto de pandemia é o da simples operação dos sistemas técnicos, como a climatização, iluminação, abertura de portas, estores, nos quais habitualmente são utilizados dispositivos de comando manipulados por múltiplos utilizadores, como é o caso de Interruptores, puxadores, termostatos, painéis tácteis, etc.
Olhando para outras áreas, a tecnologia que estava disponível permitiu que se efectuasse um rápido ajustamento para fazer face aos constrangimentos de uma crise pandémica, exemplo disso é o caso dos sistemas de pagamento, em que rapidamente os bancos emitiram milhões de novos cartões “contactless”, evitando, assim, a necessidade de contacto com os terminais de pagamento. Este sistema já estava disponível, mas foi a pandemia a exponenciar o seu uso, e agora, muitos de nós quase nos esquecemos do que é efectuar pagamentos em dinheiro.
No caso específico da indústria dos sistemas de GTC, nos últimos anos, os engenheiros de empresas como a Deltacontrols desenvolveram os chamados conceitos “hands-off office” (escritório mãos livres) ou paredes limpas (o que também é o sonho de qualquer arquitecto), como é o caso do sistema O3, não por razões de saúde, mas, sim, por razões de eficiência energética e de flexibilidade de operação. Lee Billington, director da empresa multinacional de arquitectura Gensler, dizia antes da pandemia: “Tudo o que possa impedir o fluir através de um espaço é considerado ruído. Custa tempo!”.
No caso dos edifícios, é claro que iremos continuar a tocar, no nosso mobiliário, no nosso computador ou nos pertences individuais, mas será que necessitamos de tocar noutras equipamentos? Como já se referiu, os novos sistemas de GTC, capazes de oferecer sistemas mais eficientes, respondem que não. Os novos sistemas de GTC, como os da Deltacontrols, utilizam (também) o telemóvel de cada ocupante para, de uma forma personalizada, interagir com o edifício, salvaguardando-se, assim, questões como a segurança e privacidade e realizando funções como abrir portas, regular condições de luminosidade e climatização, tornando os ambientes de trabalho mais limpos e descontaminados, para além de mais eficientes e flexíveis.
Gestão da Ocupação dos espaços de trabalho
A ocupação dos espaços de escritórios na era pós-Covid representa um dos maiores desafios para os gestores. Quer se tratem de espaços de trabalho partilhados (co-working), quer de espaços pertencentes à mesma empresa, a gestão da ocupação dos ambientes de trabalho, atendendo ao crescimento do teletrabalho e à necessidade de garantir o distanciamento entre postos, tem a necessidade de incorporar ferramentas associadas à GTC, que também já estavam disponíveis antes da pandemia mas que, agora, têm condições para uma utilização muito mais expressiva. Não se trata somente de garantir as condições ambientais, mas também a gestão do próprio espaço. A resposta está na utilização de sensores, como o HubO3, para a gerir a ocupação e o ruído nos locais de trabalho. Com esta nova capacidade, o responsável pela gestão do edifício ou da fracção pode activar ou inibir locais de trabalho em função do distanciamento, caracterizar áreas de trabalho em função do nível de ruído pretendido ou definição de horários de ocupação. De igual forma, baseando-se nas mesmas capacidades do sistema, também os utilizadores poderão, na aplicação, reservar o seu local de trabalho em função da disponibilidade e preferências (por exemplo, o nível de ruído, horários, etc).
Manutenção / Gestão Remota
Se é verdade que alguma das funcionalidades referidas neste artigo, cujo uso é agora exponenciado pela pandemia, ainda podem ser uma novidade, a possibilidade de gerir e monitorizar remotamente as instalações de um edifício, recorrendo ao sistema de GTC, é uma funcionalidade com vantagens reconhecidas por todos, mas que, apesar disso, nunca teve uma grande adesão por parte dos operadores e gestores de edifícios. Este é outro exemplo de uma tecnologia madura, disponível a um preço competitivo e que terá uma maior adesão na era pós-Covid.
Note-se que, durante o período da pandemia, não raras vezes, verificou-se que a inexistência de sistemas de GTC correctamente instalados, comissionados e mantidos inviabilizou a eficaz adopção e implementação das orientações da OMS e de outras organizações.
A par de uma manutenção adequada, a possibilidade de operação remota das instalações é uma ferramenta diferenciadora e altamente eficaz. Num contexto como o da pandemia, com constantes limitações nas deslocações presenciais dos técnicos, a oportunidade que surge com a implementação de operação remota das instalações é mais do que evidente – só assim se conseguirão controlar/reduzir as condições de propagação do vírus e monitorizar as condições ambientais.
Atendendo ao drama que se vive actualmente nos lares de idosos, esta bem que poderia ser uma medida a adoptar em larga escala – a gestão e monitorização remota das instalações seria um passo inequívoco para garantir as necessárias condições ambientais dos espaços ocupados, monitorizar áreas de isolamento, etc.
Conclusão
As novas tecnologias têm sido vitais para responder aos desafios da pandemia e, no caso dos edifícios, os sistemas de GTC, como elemento tecnológico de gestão e operação, são essenciais e imprescindíveis na era pós-Covid-19.
À semelhança do exemplo dos cartões com pagamento “contacless”, cuja tecnologia já existia, mas só com a pandemia teve um grande crescimento, também os sistemas de GTC, que se representam como uma das soluções mais eficazes para fazer face às necessidades dos edifícios na era pós-Covid, terão um crescimento exponencial. Seguramente que será assim a nível global. Por cá veremos se a GTC vai continuar a ser uma empreitada desvalorizada e sempre susceptível das famosas “optimizações” para reduzir custos das obras, mesmo que isso signifique apagar uma boa parte das vantagens do sistema. Confio que não, porque este tempo não é para facilitar!
O futuro nos edifícios de hoje
Sintetizando aquilo que poderá ser a GTC na era pós-Covid, utilizando unicamente os exemplos expostos neste artigo, com soluções tecnológicas correntes no mercado, deveremos ambicionar um edifício em que o sistema de GTC está correctamente instalado e comissionado, tem manutenção regular e pode ser gerido remotamente.
Para reduzir a propagação de contaminantes (vírus e outros), este edifício, de forma automática, maximiza os caudais de ar novo de ventilação, tendo em conta os níveis de concentração de poluentes monitorizados por sondas de QAI. Os filtros são monitorizados e, em caso de colmatação, é gerado um alarme no sistema. Os horários de ventilação são ajustados para promover a renovação de ar eficaz.
Os ocupantes acedem ao edifício, aos elevadores e aos seus locais de trabalho, através de permissão activada pelo telemóvel no sistema de controlo de acessos. Em cada piso a informação sobre a disponibilidade dos locais de trabalho e o respectivo ruido está disponível num monitor, onde também existe informação sobre a qualidade do ar e o desempenho energético. Caso seja aplicável no edifício, os ocupantes reservaram previamente o seu posto de trabalho numa aplicação de telemóvel.
Por fim, uma vez nos respectivos postos de trabalho, as condições ambientais, temperatura, iluminação, etc., são definidos no telemóvel de cada ocupante. Parece um edifício do futuro? Não! É um edifício de hoje.
As conclusões expressas são da responsabilidade dos autores.