A palestra de Lloyd Alter foi um dos pontos altos da 12ª Conferência Passivhaus Portugal, que aconteceu em Aveiro no passado mês de Outubro. Recuperamos os pensamentos principais deixados neste evento pelo arquitecto, escritor e professor da Universidade Metropolitana de Toronto. 

O cenário de Portugal foi mencionado logo no começo da palestra, sendo “um dos países mais afectados pelas alterações climáticas, que levam a incêndios florestais extremos”. Para fazer face a estas situações, Lloyd Alter alertou para a necessidade de reduzirmos imediatamente as emissões de dióxido de carbono (CO2), criticando a abordagem do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de que as emissões terão de ser cortadas quase pela metade até 2030: “sempre achei que este era um enquadramento muito mau do problema porque quando disseram isso pela primeira vez em 2015-2018 ainda havia 12-15 anos para lidar com o problema e, basicamente, preocupar-nos-íamos com ele mais tarde”. Na visão do arquitecto, “cada tonelada de emissões de CO2 contribui para o aquecimento global, cada quilograma, cada grama contribui para o aquecimento global. Nunca deveriam ter dito que temos até 2030. Não temos tempo. Tudo o que fizermos agora é importante”. 

Lloyd Alter falou ainda sobre o upfront carbon – todas as emissões envolvidas no fabrico de um produto -, que explorou em detalhe no seu livro The Story of Upfront Carbon e que se trata de um conceito que tem vindo a ganhar relevância. “Há cinco anos, ninguém falava de upfront carbon. Agora, vemos que está a tornar-se parte da discussão sobre edifícios e há muita legislação proposta na Europa. É uma grande mudança em cinco anos”, referiu. 

A suficiência foi um outro aspecto frisado pelo também escritor, no sentido em que “o que se constrói é importante, e o que não se constrói é ainda mais importante”, construindo apenas o necessário e evitando a procura de energia e materiais ao longo do ciclo de vida dos edifícios. Foi dado como exemplo o sonho americano dos anos 60 de ter uma casa e um carro grandes, e a forma como este pensamento se mantém em 2024: “não aprendemos nada em 60 anos”, admitiu Lloyd Alter. O arquitecto contou que esteve presente no Fórum Mundial sobre Edifícios e Clima, no qual foi adoptada a Declaração de Chaillot. De acordo com este compromisso, que já conta com a assinatura de mais de 70 países, incluindo Portugal, as nações vão comprometer-se a dar prioridade à reutilização de edifícios, à reabilitação de edifícios, a um ambiente interior saudável, à eficiência energética de baixo carbono, à conceção ecológica circular e à suficiência. “Assim, a suficiência está a tornar-se parte das leis, tal como a eficiência”. 

No que toca às Passive Houses, Lloyd Alter explicou como a simplicidade das construções pode reduzir a quantidade de materiais necessários. “Quando estive numa conferência em Innsbruck, na Áustria, vi cinquenta edifícios de casas passivas. São simples e parecem caixas. Uma forma simples é o que deveríamos fazer em tudo”, referiu o arquitecto. 

A palestra foi concluída com as principais mudanças que ocorreram nos últimos cinco anos, desde que Lloyd Alter revelou, em 2019, os quatro passos para completar a revolução Passive House (eficiência, descarbonização, suficiência e simplicidade radicais): “o principal é que deixámos de ter doze anos e passámos para sete. Sabemos que o clima piorou e que temos de lidar com problemas que nunca pensámos ter de enfrentar, como os incêndios florestais. Sabemos que alguns governos estão a começar a tomar medidas. Na Escócia, estão a desenvolver um padrão Passive House que será obrigatório e temos de começar a pensar nisso em todo o lado. Sabemos que as energias renováveis estão a crescer. Em 2023, a energia verde será responsável pela maior parte da electricidade da União Europeia. Estão a falar de coisas maravilhosas, como colocar fios de alta tensão sob o Atlântico para que, por exemplo, quando se produzir electricidade excedentária aqui, eu possa obtê-la na minha casa em Toronto. A suficiência está finalmente no menu, esteve no IPCC e está a ser seriamente abordada na legislação”. 

Lloyd Alter não escondeu que “os verdadeiros obstáculos são a política e os interesses dos combustíveis fósseis”, contudo, espera que continuemos a ver progressos e que consigamos “dar a volta à situação” e lidar com estes entraves.