O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Aliança Global para Edifícios e Construção (GlobalABC) publicaram esta semana o relatório que, ano após anos, analisa o panorama do sector dos edifícios e da construção. O Relatório sobre a Situação Global dos Edifícios e da Construção 2024/2025 destaca os progressos alcançados em relação aos objectivos climáticos globais e apela a uma maior ambição em seis áreas, incluindo os códigos de energia para edifícios, as energias renováveis e o financiamento. 

Analisando a década desde a assinatura do Acordo de Paris em 2015, o relatório conclui que 2023 foi o primeiro ano em que o crescimento contínuo da construção de edifícios foi dissociado das emissões de gases com efeito de estufa associadas ao sector, que já se encontravam estáveis.  

O documento conclui que, embora um número crescente de países esteja a trabalhar para descarbonizar os edifícios, “a lentidão dos progressos e do financiamento põe em risco os objectivos climáticos globais”. Citada em comunicado, Inger Andersen, directora executiva do PNUMA, considera que “a boa notícia é que as acções governamentais estão a resultar. Mas temos de fazer mais e mais depressa. Encorajo todos os países a incluírem planos para reduzir rapidamente as emissões dos edifícios e da construção nas suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (contribuição a que cada país se propõe para baixar as emissões de gases com efeito de estufa, decorrente do Acordo de Paris)”. 

Ao adoptar a obrigatoriedade de códigos de energia para a construção alinhados com a meta de emissões líquidas zero, padrões de desempenho obrigatórios e o potenciar dos investimentos em eficiência energética, a intensidade energética do sector foi reduzida em quase 10 %, enquanto a participação das energias renováveis na procura final de energia aumentou em quase 5 %.  

As práticas de construção circular, os arrendamentos ecológicos, a adaptação dos edifícios existentes com eficiência energética e a prioridade à utilização de materiais com baixo teor de carbono são vistas como medidas adicionais que podem reduzir ainda mais o consumo de energia, melhorar a gestão dos resíduos e reduzir as emissões em geral. 

Apesar dos progressos assinalados no relatório, é reforçada a ideia de que “o sector da construção continua a ser um dos principais motores da crise climática, consumindo 32 % da energia global e contribuindo para 34 % das emissões globais de CO2”. Para além disso, é uma área que depende de materiais como o cimento e o aço, “responsáveis por 18 % das emissões globais e constituem uma importante fonte de resíduos de construção”. 

O relatório da ONU lança um desafio aos principais países emissores de carbono para que adoptem códigos energéticos de construção sem emissões de carbono até 2028, aos quais se seguirão todos os outros países, o mais tardar, em 2035. “Os códigos de construção e a integração dos planos de reforma dos códigos de construção na apresentação em curso das Contribuições Nacionalmente Determinadas são fundamentais para cumprir o compromisso global da COP28 em matéria de energias renováveis e eficiência energética”, lê-se no documento. 

É referido ainda que todos os governos, instituições financeiras e empresas devem trabalhar em conjunto para duplicar o investimento global na eficiência energética dos edifícios de 270 mil milhões de dólares para 522 mil milhões de dólares até 2030. A adopção do princípio da responsabilidade alargada do produtor e de práticas de economia circular – incluindo o prolongamento da vida útil dos edifícios, a melhoria da eficiência e reutilização dos materiais, a reciclagem e a gestão de resíduos – são “fundamentais para ajudar a colmatar as lacunas de financiamento, enquanto os programas de desenvolvimento da mão de obra são essenciais para colmatar as lacunas de competências no sector”. 

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