Mais de metade dos lisboetas que participaram num inquérito sobre pobreza energética relataram sentir, pelo menos algumas vezes, desconforto térmico nas suas habitações, tanto no Verão (56,5 %) como no Inverno (63,2 %). São agora conhecidos os resultados deste inquérito promovido pela Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa.
As respostas ao inquérito foram obtidas em três momentos distintos: no Verão de 2022 e de 2023 e no Inverno de 2023. Cerca de um quarto dos inquiridos indicou que as suas casas estão muitas vezes demasiado quentes ou demasiado frias, consoante a estação do ano.
Relativamente à capacidade financeira para manter a casa a uma temperatura adequada no Inverno, 22 % dos participantes dizem ser incapazes de o fazer. Um valor que fica acima dos dados disponibilizados pelo Eurostat de 2022 para Portugal (17,5 %)
Estratégias usadas para combater o desconforto térmico
Para evitar ou reduzir o frio em casa durante o Inverno, os inquiridos relataram que optam por vestir e calçar roupa mais quente (85,5 %), reforçar a roupa da cama com mantas ou edredões (79,5 %) e utilizar equipamentos de aquecimento (74,7 %).
O aquecedor a óleo é o equipamento mais frequentemente utilizado pelos participantes, seguido do ar condicionado e dos radiadores eléctricos. Apenas 6,7 % dos participantes indicou ter feito uso do aquecimento central. Neste caso, a opção mais indicada foi a caldeira a gás (4,7 %).
Já para fazer frente ao calor, os lisboetas indicaram que, quando a luz solar é mais intensa, fecham os estores (69 %), mantêm janelas e portas abertas para criar correntes de ar (68 %) e utilizam equipamentos de arrefecimento ou de ventilação (58,9 %).
As ventoinhas ou colunas de ar são os equipamentos de eleição para a ventilação e arrefecimento das habitações, seguindo do ar condicionado. A utilização de arrefecimento central registou apenas 1,6 %, sendo a bomba de calor com distribuição por ventiloconvectores a opção mais frequente (1,4 %). Um terço das pessoas inquiridas relatou ter ar condicionado instalado em casa, mas apenas 13,1 % disse utilizar sempre que precisa. 58,5 % dos participantes com ar condicionado indicaram que não usavam ou evitavam usar ao máximo por motivos financeiros. Também foram os motivos financeiros associados à compra do ar condicionado os mais frequentemente relatados como justificação para não ter ar condicionado.
A questão da literacia energética
Mais de um quinto das pessoas inquiridas considerou não estar nada informado sobre os temas da energia e conforto térmico em casa. Quando questionados sobre a classe energética da habitação, 42,8 % dos inquiridos sobre o Inverno não soube dizer se a sua habitação tem ou não classe energética atribuída. O cenário é semelhante para as pessoas inquiridas sobre o Verão: quase metade não conseguiu indicar se a casa tinha ou não classe energética atribuída. Dos que afirmaram ter classe energética, cerca de metade não sabia precisá-la. A classe energética mais frequentemente indicada foi a C, seguida da B.
Relativamente a apoios e gabinetes de aconselhamento público sobre energia e conforto térmico, a maioria dos participantes considerou que a sua existência é importante ou muito importante. Cerca de 40 % das pessoas inquiridas nunca tinham ouvido falar sobre programas de apoio para melhorar a eficiência energética habitacional. Relativamente aos inquiridos sobre o Verão, a percentagem desce para cerca de 30 %.
Das pessoas que tinham conhecimento sobre a existência dos programas de apoio, 11,1 % relataram ter submetido uma candidatura. Pouco mais de metade conseguiu obter o apoio. Relativamente aos inquiridos sobre o Verão, 10,1 % submeteram uma candidatura – 5,1 % já beneficiaram do apoio.
Promovido pela Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa, o inquérito foi realizado pelo Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (ISAMB-FMUL), com a colaboração do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. O questionário foi feito através de entrevistas telefónicas a uma amostra de 1391 adultos, com 25 ou mais anos, residentes no concelho de Lisboa.
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